A agricultura brasileira é um setor primário com grande importância na geração de renda, tornando o país um dos principais produtores e exportadores de alimentos, fibras, carne e energia, e um dos maiores produtores de soja, café, milho, cana (açúcar e etanol), laranja (fruta fresca e suco) e carnes bovina, suína e de aves (USDA, 2013).

Os danos causados por insetos-praga estão entre os fatores mais impactantes na redução de produtividade das culturas. As perdas agrícolas podem ocorrer no campo (pré-colheita) e durante o armazenamento (pós-colheita) (OERKE, 2006). Os danos causados por insetos são dependentes de uma série de fatores relacionados às condições ambientais, às espécies de plantas sob cultivo, às condições socioeconômicas dos agricultores e ao nível de tecnologia utilizado.

No Brasil, estimativas de perdas causadas pelo ataque de insetos-praga nas principais culturas variam entre 2 e 43% (BENTO, 1999; GOELLNER, 1993). Segundo Oliveira et al. (2014) os insetos causam, em média, uma redução de 7,7% na produtividade das principais culturas, resultando numa perda anual de cerca de US$ 14,7 bilhões para a economia brasileira, mesmo com a adoção de medidas de controle.

Em termos de volume, o Brasil sofre uma redução de aproximadamente 25 milhões de toneladas de alimentos, fibras e biocombustíveis por ano pelo ataque de insetos-praga. Anualmente são perdidas aproximadamente 12,5 milhões de toneladas de grãos, 0,4 milhões de toneladas de café, 4,2 milhões de toneladas de açúcar, 2,6 milhões de litros de etanol e 0,5 milhões de toneladas de mandioca, com uma estimativa de prejuízo de US$ 12,6 bilhões. Ainda, são perdidos aproximadamente 3,7 milhões de toneladas de frutas, 0,5 milhões de toneladas de hortaliças e 95 mil toneladas de borracha natural, resultando em um prejuízo anual de US$ 2,1 bilhões (OLIVEIRA et al. 2014). A soma desses montantes resulta no total de US$ 14,7 bilhões de perdas anuais citado acima.

Em termos relativos, as maiores perdas por área são observadas nas culturas da macieira (US$ 4.281/ha), tomateiro (US$ 3.806/ha), fumo (US$ 2.729/ha), alho (US$ 2.655/ha), amendoim (US$ 1.679/ha), borracha (US$ 1.242/ha) e videira (US$ 1.004/ha). A Figura 1 apresenta um detalhamento dessas estimativas (publicação em inglês).

Figura 1. Quantificação das perdas por cultura e do impacto econômico de insetos-praga nas lavouras agrícolas cultivadas no Brasil, incluindo uso e comercialização de inseticidas por safra.

Fonte: Oliveira et al., 2014.

No final da década de 1990, Bento (1999) estimou que os danos diretos por insetos em 33 culturas agrícolas causaram perdas anuais de aproximadamente US$ 2,3 bilhões. Mais recentemente, Oliveira et al. (2013) atualizou este valor para aproximadamente US$ 12 bilhões. No caso de pragas invasivas (não nativas do Brasil), ocorre ainda uma tendência de aumento no uso de inseticidas pelos produtores, fator que eleva os custos de produção e potencializa impactos ambientais. Exemplos desse fenômeno foram as introduções de Bemisia tabaci MEAM1 (mosca-branca), T. urticae (ácaro-rajado) e H. armigera no Brasil, eventos que contribuíram para que o uso de inseticidas na soja triplicasse de 1990 a 2016 (POZEBON et al., 2020).

Portanto, além dos prejuízos econômicos causados ​​pela ação direta das pragas que atacam as culturas (redução na quantidade e qualidade dos produtos agrícolas), as medidas tomadas para controlar estes insetos também resultam em perdas econômicas indiretas pelo aumento na compra e aplicação de inseticidas. Em 2011, por exemplo, o Brasil consumiu 164.074 toneladas de inseticidas sintéticos, atingindo um gasto anual de US$ 2,9 bilhões (SINDAG, 2013).

Segundo Oliveira et al. (2014), um conjunto de fatores levou a uma mudança significativa na importância de diferentes insetos-praga ao longo dos anos. Algumas pragas perderam a importância relativa, e outras que antes eram consideradas secundárias passaram a apresentar grandes desafios para seu controle. Neste contexto, as mudanças na agricultura brasileira nas últimas décadas reforçam a necessidade de implementação de programas sistemáticos de monitoramento e avaliação das perdas causadas por insetos-praga.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

BAER, Werner. Economia brasileira. NBL Editora, 2002.

BARROS, Geraldo Sant’Ana de Camargo; SPOLADOR, Humberto Francisco Silva; BACCHI, Mirian Rumenos Piedade. Supply and demand shocks and the growth of the Brazilian agriculture. Revista Brasileira de Economia, v. 63, n. 1, p. 35-50, 2009.

BENTO, J. M. S. Perdas por insetos na agricultura. Ação ambiental, v. 4, n. 2, p. 19-21, 1999

GOELLNER, Claud Ivan. Utilização dos defensivos agrícolas no Brasil: análise do seu impacto sobre o ambiente ea saúde humana. Art Graph, 1993.

MORÁN, Carlos A. Azabache. A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA NA DETERMINAÇÃO DOS SETORES-CHAVES NA ECONOMIA BRASILEIRA. Revista Teoria e Evidência Econômica, v. 1, n. 02, 1993.

OLIVEIRA, C. M. et al. Economic impact of exotic insect pests in Brazilian agriculture. Journal of Applied Entomology, v. 137, n. 1-2, p. 1-15, 2013.

OLIVEIRA, C. M. et al. Crop losses and the economic impact of insect pests on Brazilian agriculture. Crop Protection, v. 56, p. 50-54, 2014.

Oerke, E.C., 2006. Crop losses to pests. J. Agric. Sci. 144, 31e43.

POZEBON, H. et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591–1608, 2020.

SINDAG, 2013. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola. Dados básicos. SINDAG, São Paulo.

USDA, 2013. United States Department of Agriculture. Production, Supply and Distribution Online (Março, 2010).

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