Sabe-se da importância das plantas de cobertura para o manejo e conservação do solo. No entanto, muitas vezes se relacionam os benefícios do uso das plantas de cobertura na rotação de culturas, apenas a produção de palhada da parte aérea.

É correto afirmar que quanto maior a quantidade da palhada na superfície do solo, maior sua capacidade em dissipar a energia compactante (Figura 1), contribuindo para a redução da compactação do solo e erosão superficial, no entanto, os benefícios do cultivo das plantas de cobertura vão além da palhada dessas plantas.

Figura 1. Dissipação da energia compactante durante o ensaio de Proctor, em função da quantidade de palha na superfície do solo. Linha vermelha pontilhada indica o intervalo de confiança a 95%.
Adaptado de Braida et al. (2006), apud. Moraes et al. (2016)

Para conhece-los é preciso “olhar” para o que está abaixo do solo, mais especificamente para as raízes das plantas de cobertura e culturas inseridas na rotação de culturas. Ao contrário do que se pensa, a maior parte da matéria orgânica do solo é formada pela decomposição das raízes das plantas e não da parte aérea delas.

Do mesmo modo, o aumento gradual do teor de matéria orgânica do solo, associado à menor intensidade de revolvimento, melhora substancialmente a estrutura do solo, o que favorece o desenvolvimento radicular das culturas e, assim, aumenta o tamanho do reservatório de água disponível no solo (Moraes et al., 2016).


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Moraes et al. (2016) chamam atenção para resultados de pesquisas realizadas por Torres e Saraiva (1999), que demonstram incrementos no comprimento de raízes de soja no sistema plantio direto (SPD) pelo uso de sistemas de rotação de culturas. Conforme resultados obtidos, quando o sistema foi mantido em sucessão de culturas, a distribuição de raízes no SPD foi superficial e somente foi melhor do que o preparo com a grade pesada. Mas a introdução do tremoço, da aveia preta e do milho no sistema de rotação de culturas proporcionou melhor distribuição do sistema radicular no perfil do solo (Figura 2).

Figura 2. Comprimento radicular de soja em função de sistemas de rotação ou sucessão de culturas em Latossolo Vermelho Distroférrico. Rotação: tremoço/milho-aveia/sojatrigo/soja-trigo/soja. Sucessão: trigo/soja.
Adaptado de Torres e Saraiva (1999), apud. Moraes et al. (2016)

O maior comprimento de raízes e melhor distribuição delas no perfil do solo proporciona maior tolerância da cultura a pequenos períodos de déficit hídrico, bem como maior acesso a água e nutrientes no perfil do solo, não se restringindo as camadas superficiais. Logo, investir na rotação de culturas é investir na estabilidade e produtividade da cultura sucessora.

Com isso em vista, o posicionamento de culturas de cobertura, inseridas na rotação de culturas também deve levar em consideração o sistema radicular das plantas, e não somente a produção de palhada da parte aérea. Confira abaixo a produção de matéria seca, acúmulo de carbono e Nitrogênio nas raízes de algumas das principais espécies de plantas de cobertura utilizadas no Sul do Brasil.

Tabela 1. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) de raízes das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.
Fonte: Redin (2008, 2010, 2014), apud. Redin et al. (2016)

Veja mais: Entressafra é momento oportuno para manejo da compactação do solo



Referências:

MORAES, M. T. et al. BENEFÍCIOS DAS PLANTAS DE COBERTURA SOBRE AS PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO. UFRGS. Manejo e conservação do solo e da água em pequenas propriedades rurais no sul do Brasil: práticas alternativas de manejo visando a conservação do solo e da água, cap. II, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 25/04/2024.

REDIN, M, et al. PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL: ESPÉCIES, MATÉRIA SECA E CICLAGEM DE CARBONO E NITROGÊNIO. UFRGS. Manejo e conservação do solo e da água em pequenas propriedades rurais no sul do Brasil: práticas alternativas de manejo visando a conservação do solo e da água, cap. I, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 25/04/2024.

TORRES, E.; SARAIVA, O. F. CAMADAS DE IMPEDIMENTO MECÂNICO DO SOLO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS COM A SOJA. Embrapa, 1999. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO/17473/1/circTec23.pdf >, acesso em: 25/04/2024.

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