INTRODUÇÃO
A produção de soja no Brasil na safra 2018/2019 foi superior a 113 milhões de toneladas cultivadas em mais de 35 milhões de hectares (CONAB, 2019), sendo cultivada em praticamente todo o território nacional.
O cultivo em diversos ambientes requer cultivares adaptadas as regiões de cultivo bem distintas, sendo que nesta são encontrados vários tipos de solos e com propriedades químicas e físicas diferentes. A busca por altas produtividades na cultura da soja é cada vez mais constante pelos produtores o que necessita de ferramentas tecnológicas presentes e utilizadas de forma correta nas lavouras. Entre tantas ferramentas existentes, a suplementação de nutrientes via foliar, onde podem ser fornecidos nutrientes específicos ou uma associação deles ao longo do desenvolvimento da cultura.
A suplementação mineral foliar apresenta possibilidade de associação de nutrientes específicos para aplicação em momentos propícios ao longo do desenvolvimento das plantas. Os macro e micronutrientes são de extrema importância no crescimento e rendimento de grãos, tendo altos tetos de produtividade relação ao maior seu maior aporte. Os nutrientes têm inúmeras funções na fisiologia das plantas, podendo ter maior especificidade ou ser necessário a vários processos ou momentos ao longo do desenvolvimento da cultura.
O nitrogênio é de extrema importância no desenvolvimento da soja, sendo o elemento mais requerido pelas plantas, entre outros fatores, por constituir a molécula de clorofila, aminoácidos e ácidos nucleicos (MALAVOLTA et al., 1997). Na soja, embora sendo fornecido via fixação biológica através da inoculação das sementes com bactérias do gênero Bradyrhizobium ou em co-inoculação, não é possível descartar em todas as situações, a inexistência de falha no processo de inoculação (NICOLÁS et al., 2006). Contudo, a avaliação de viabilidade econômica deve ser considerada em cada situação.
A adubação fosfatada desempenha como principal função no metabolismo e desenvolvimento da soja, mantendo relação aos processos de fotossíntese e transferência de energia, bem como, na composição de membranas celulares (ZUCARELI et al., 2006), sendo ainda, um nutriente geralmente de baixa disponibilidade em alguns tipos de solos.
O potássio como o segundo nutriente mais extraído pela cultura da soja, entre outros fatores, possui ação na ativação de enzimas envolvidas nos processos de respiração e fotossíntese (MYERS et al., 2005), regulação osmótica, tendo importante função no rendimento de grãos e no seu peso específico (SERAFIM et al., 2012).
Entre outros nutrientes com importância na cultura da soja, está o cálcio que atua na regulação de processos celulares e na sinalização bioquímica, o magnésio presente na molécula de clorofila com atuação na ativação de enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese, cobalto presente na cobalamina atuando na fixação biológica do nitrogênio e o molibdênio, atuando com ação sobre a nitrato redutase e nitrogenase (TAIZ et al., 2017).
A presença destes nutrientes pode ser corrigida por adubação e correção do solo, porém existe dificuldade de ajustar o equilíbrio considerando o conjunto de macro e micronutrientes. Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a influência do manejo da suplementação mineral foliar nos componentes de rendimento da soja.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na safra agrícola 2017/2018 em campo de produção de soja situado no município de Caibaté no Noroeste do Estado do RS, sob coordenadas geográficas de 28° 17’ 16’’ S e 54° 38’ 16” O e altitude média de 286m. O clima é classificado como Cfa segundo a classificação pelo sistema internacional de Köppen com boa distribuição de chuvas ao longo do ano.
O solo de cultivo é classificado como Latossolo Distrófico Vermelho Típico (EMBRAPA, 2013). As características químicas do solo são: teor de argila de 40%, pH em água 6,3, matéria orgânica de 2,5%, fósforo e potássio de 8,7 e 48mg.dm-3, respectivamente, teores de alumínio, cálcio e de magnésio de 0,0, 7,3 e 3,8cmol.dm-3 e saturação de bases de 84%.
A semeadura foi realizada na primeira quinzena de dezembro de 2017 e o delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com quatro repetições por tratamento. As sementes utilizadas foram da cultivar NA 5909 RR, tratadas com Standak Top® na dose de 1mL kg-1 de sementes. A inoculação foi com inoculate líquido Siglionio® na dose de 1mLkg-1 de sementes e inoculante turfoso Sigliobio® na dose de 1g kg-1 de sementes. A adubação de base foi com fertilizante organomineral de formulação 04-12-12 (N-P-K) na quantidade de 350kg ha-1 conforme análise prévia e recomendações da Comissão de Química e Fertilidade do Solo (CQFS-RS/SC, 2004).
Os tratamentos foram compostos por Tratamento 1 – controle, sem uso de fertilizantes no tratamento de sementes e via foliar; Tratamento 2 – Tratamento de semente ( N 1,0%; Mn 1,0%; Mo 5,0%; Zn 5,0%; COT 6,0%) na dose de 2,5 mL.Kg-1 de semente e uma aplicação em R1 de suplemento foliar 1 (N 8,0%; P 3,0%; K 2,0%; Ca 2,0%; Mg 1,0%; B 0,2%; Cu 0,1%; Mn 2,0%; Mo 0,5%; Zn 2,0%; COT 6,0%) na dose de 2 L/ha, e Tratamento 3 – Tratamento de semente ( N 1,0%; Mn 1,0%; Mo 5,0%; Zn 5,0%; COT 6,0%) na dose de 2,5 mL.Kg-1 de semente e uma aplicação em R1 de suplemento foliar 2 (N 11,0%; P 2,0%; K 45,0%) na dose de 2 L/ha.
O controle de plantas daninhas e pragas foi realizado de acordo com as recomendações técnicas para a cultura da soja. A colheita das sementes foi efetuada com o teor de água de 16% e assim como a trilha, efetuada, manualmente. O teor de água das sementes, após o beneficiamento, foi aferido por meio do método de estufa a 105 °C por 24 horas, atingindo 12 % de teor de água em sementes.
Foram coletadas dez plantas ao acaso por parcela experimental onde foram avaliadas as seguintes variáveis: altura de planta (AP, cm), altura de inserção do primeiro legume (IPL, cm), número de legumes com uma, duas e três sementes (NL1, NL2 e NL3, unidades), número de legumes totais (NLT, unidades), rendimento (REND, sc.ha-1) e a massa de mil grãos (MMG, gramas).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e se significativos pelo teste F, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey em nível de probabilidade de 5%.
RESULTADOS
A análise de variância foi significância para as variáveis altura de planta (AP), rendimento (REND) e massa de mil grãos (MMG) a nível de 5% pelo teste F (tabela 1). Mostrando que estas variáveis foram influenciadas pelos efeitos de tratamento. A altura de inserção de primeiro legume (IPL), o número de legumes com um, dois e três grãos (NL1, NL2 e L3) e o número de legumes totais por planta não foram significativos pela análise de variância pelo teste F a nível de 5% de significância, não sendo afetados pelos efeitos de tratamento.
Tabela 1. Análise de variância para as variáveis altura de plantas (AP), altura da inserção do primeiro legume (IPL), número de legumes com 1 semente (NL1), com 2 (NL2), com 3 (NL3), número de legumes totais (NLT), REND. (Sc/ha) e massa de mil grãos (MMG) de soja cultivadas em Caibaté – RS na safra 2018/2019.
Tabela de Quadrados médios | |||||||||
F.V. | G.L. | AP | IPL | NL1 | NL2 | NL3 | NLT | REND | MMG |
Tratamento | 2 | 90,25* | 1,75ns | 0,58ns | 0,58ns | 16,75ns | 24,33ns | 106,08* | 339,12* |
Bloco | 3 | 9,11 | 8,55 | 0,97 | 2,66 | 3,00 | 1,41 | 6,97 | 13,77 |
Resíduo | 6 | 10,69 | 5,30 | 1,13 | 2,25 | 6,41 | 14,33 | 21,30 | 10,55 |
C.V (%) | 3,94 | 7,81 | 16,63 | 7,76 | 12,99 | 8,34 | 8,46 | 2,08 |
*Significativo a 5% e ns não significativo.
A altura de plantas (figura 1a) foi superior em plantas que foram submetidas ao tratamento com suplemento foliar 2 não diferindo estatisticamente do controle, a menor altura de planta foi observada em plantas submetidas suplementação com o foliar 2, porém sem diferença para o controle.
Os maiores resultados de rendimento foram observados em plantas tratadas com suplementação com foliar 2 onde foram colhidos 60 sacos por hectare, sem diferença significativa para o tratamento com suplemento foliar 1 com 54 sacos por hectare. O menor rendimento foi observado no controle com rendimento de 49 sacos por hectare (figura 1b).
A maior massa de mil grãos (MMG) foi verificada nos tratamentos com suplemento foliar 2 e 1 com 162,5 e 160,6 gramas, respectivamente. Plantas do tratamento controle apresentaram sementes com o menor valor com 145,7 gramas (Figura 1c). O maior rendimento é consequência da maior massa de mil grãos observada nos tratamentos com suplemento foliar 2 e 1. O incremento em rendimento foi de 22%, 11 sacos por hectare, com suplemento foliar 2 em relação ao controle.
Estes resultados, entre outros fatores, podem ser associados a suplementação mineral via foliar que pode complementar o suprimento de nutrientes obtidos via raízes, bem como, em suporte a baixas taxas de fixação biológica de nitrogênio que ocorrem na fase final de desenvolvimento da planta da soja (ZOCCA e FANCELLI, 2013).
A massa de mil grãos e o rendimento são superiores com aplicação de nitrogênio via foliar em R1, devido este nutriente estar envolvido em vários processos vitais para a planta como constituinte da molécula de clorofila, aminoácidos e ácidos nucleicos. De acordo com Bernis e Viana (2015), que encontraram valores superiores nestas variáveis comparando a aplicação de nitrogênio em R1 e uma testemunha sem adubação foliar deste nutriente.
Figura 1. Altura de plantas (AP) (a), rendimento (REND) (b) e massa de mil grãos (MMG) (c) entre os tratamentos. T1 – controle, T2 – tratamento de sementes e aplicação de suplemento foliar 1 e T3 – tratamento de sementes e aplicação de suplemento foliar 2.
CONCLUSÕES
- A suplementação mineral evidencia benefício ao desempenho produtivo da soja.
- A suplementação mineral foliar aplicada no estádio fenológico R1, com suplemento foliar 2 e 1, favorece a massa de mil e o rendimento de grãos na cultura da soja.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNIS, D. J.; VIANA, O. H. Influência da aplicação de nitrogênio via foliar em diferentes estádios fenológicos da soja. Revista Cultivando o Saber. Edição especial, p. 88-97. 2015.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Série histórica: soja. 2019. Disponível em: <https://portaldeinformacoes.conab.gov.br/index.php/safra-serie-historica-dashboard>. Acesso em: 12 setembro 2019.
MALAVOLTA, E. Informações agronômicas sobre nutrientes para as culturas – Nutri-fatos. Piracicaba: POTAFOS.1996.12p.
MYERS, S. W. et al. Effect of soil potassium availability on soybean aphid (Hemiptera: Aphididae) population and soybean yield. Journal of economic entomology, Califórnia, v. 98, n. 1, p. 113-120, 2005.
NICOLÁS, M. F.; HUNGRIA, M. & ARIAS, C. A. A. Identification of quantitative trait loci controlling nodulation and shoot mass in progenies from two Brazilian soybean cultivars. Field Crops Research, 95: 355-366, 2006.
SERAFIM, M. E.; ONO, F. B.; ZEVIANI, W. M.; NOVELINO, J. O.; SILVA, J. V. Umidade do solo e doses de potássio na cultura da soja. Revista Ciência Agronômica, v. 43, n. 2, p. 222-227, 2012.
TAIZ, L.; ZEIGER, E.; MOLLER, I.; MURPHY, A. Fisiologia e desenvolvimento vegetal. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 888 p.
ZOCCA, T. N.; FANCELLI, A. L. Incremento de produtividade da soja pelo uso de nitrogênio foliar. ESALQ/USP. 21º SIICUSP: Simpósio Internacional de Iniciação Cientifica da USP. Piracicaba, 2013.
ZUCARELI, C.; RAMOS JUNIOR, E. U.; BARREIRO, A. A.; NAKAGAWA, J.; CAVARIANI, C. Adubação fosfatada, componentes de produção, produtividade e qualidade fisiológica em sementes de feijão. Revista Brasileira de Sementes, Pelotas, v. 28, n. 1, p. 09-15, 2006.