O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito residual (36 meses) de uma operação de descompactação mecânica do solo (escarificação) em relação aos parâmetros de rendimento da cultura da soja.
Autores: Letícia Lanfredi¹; Marlon S. Cantoni²; Gabriel da C. Follmer3; Márcio L. Vieira4
Introdução
A compactação do solo aumenta a resistência à penetração dos solos e diminui sua permeabilidade ao ar e à água (Silva et al., 2009), o que pode levar à concentração das raízes na camada superficial do solo (Secco et al., 2009), com reflexos negativos sobre o volume de solo explorado e a absorção de água e nutrientes pelas plantas. Na região de clima subtropical úmido do Brasil, safras agrícolas têm sido frustradas pela degradação associada a solos manejados sob plantio direto (Denardin et al., 2008), em razão do comprometimento do bom desenvolvimento do sistema radicular.
Vários tipos de manejos de solo são utilizados, um deles é a escarificação do solo a fim de ocasionar descompactação deste. No entanto de acordo com Drescher et al. (2016), a duração das variáveis indicadoras do estado estrutural do solo após escarificação pode ser inferior a uma safra agrícola e chegando a se estender por até dois anos. Essa variação de tempo do efeito residual pode se dar levando em consideração o tipo de solo em que foram obtidos os resultados e quais as culturas que foram implantadas durante sua execução.
A escarificação do solo, no entanto, contrapõe-se aos preceitos do sistema plantio direto, pois envolve mobilização intensa de solo, maior tráfego de máquinas e de implementos agrícolas, além de maior custo de produção (Bertolini & Gamero, 2010). Portanto, é importante que se avalie a persistência de seus efeitos em remediar restrições ao desenvolvimento radicular das plantas, em áreas sob plantio direto.
O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito residual (36 meses) de uma operação de descompactação mecânica do solo (escarificação) em relação aos parâmetros de rendimento da cultura da soja.
Material e Métodos
Este trabalho foi conduzido entre os anos de 2014 e 2016 na área de pesquisa do IFRS-Campus Sertão (RS) com altitude média de 695m. O Solo foi classificado como Nitossolo Vermelho e o clima predominante da região é segundo Köppen, do tipo Cfa. O delineamento utilizado foi em blocos ao acaso (DBC), com 10 repetições, sendo dois manejos de solo – escarificado e plantio direto. A escarificação foi realizada no ano de 2014 utilizando trator e escarificador de 5 hastes a uma profundidade média de 30cm. As cultura da soja foi implantada utilizando uma semeadora adubadora com 8 linhas equipadas com sistema de corte de palha do tipo guilhotina espaçadas em 0,45m. A semeadura ocorreu na época recomendada para a região e a adubação de base foi realizada com base em análise de fertilidade do solo.
Foram colhidas duas linhas de semeadura com 1,5 m de comprimento cada parcela e no trigo foram coletadas as plantas de 1 m² aleatoriamente na mesma, para mensurar o cálculo do rendimento. Em cada parcela foram colhidas três sub-amostras, para mensurar o número de legumes e grãos por planta. As parcelas apresentavam área total de 40 m² (10m de comprimento x 4m de largura). Na avaliação, foram obtidos dados de rendimento, peso de 100 sementes, número de legumes por planta e média de grãos por legume.
Os dados foram analisados através do teste de Tukey e as análises se significativas comparadas pelo Teste “t” a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Para os componentes de rendimento de soja (tabelas 1 e 2) não foram encontradas diferenças significativas nos quesitos avaliados nos diferentes manejos plantio direto (PD) e
plantio escarificado (PE), dados esses que corroboram com o que descreveu Camara (2004), indicando um crescimento, desenvolvimento e produtividade de plantas muito similar nos dois diferentes tipos de manejo de solo e em diferentes anos de cultivo.
Em contrapartida um trabalho realizado por Nicoloso et.al. (2008) demonstra que mesmo com elevado índice pluviométrico foram encontrados resultados positivos para os manejos de solo, mas o autor indica que esses efeitos da precipitação podem ter amenizado maiores efeitos do solo sobre a produtividade da cultura de soja.
Ficou evidente também que durante o ciclo dessa cultura, o potencial produtivo ficou muito abaixo do esperado para a cultura em questão, fato que pode ser explicado por uma estiagem expressiva no período reprodutivo (fevereiro e março), o que afetou seu potencial produtivo, independente dos manejos que foram utilizados. O período de déficit hídrico no mês de março de 2015 foi de 21 dias o que influenciou de forma direta no rendimento de grãos e nos parâmetros produtivos, ocultando dessa forma possíveis diferenças nos manejos.
No segundo ano, não houve diferenças entre os dados analisados, pode-se julgar que existiu interferências do clima, pois durante todo o ciclo ocorreu chuvas acima da média o que prejudicou os tratos culturais a serem realizados. E também por já fazer quase um ano da escarificação, as características físicas desse solo ficaram equivalentes novamente, dados esses que corroboram com o que escreveu Vieira (2006) onde relata que a escarificação tem efeitos por até 24 meses.
Notou-se que no manejo PE alguns componentes de rendimento como o número total de grãos se sobressaíram ao manejo PD, mas a variável rendimento continuou sem diferir estatisticamente, pois houve uma pequena variação no peso de 100 grãos a qual também não teve diferença significativa, fato que pode ser explicado pela partição de fotoassimilados durante o enchimento de grãos (Floss, 2011).
Conclusão
Nas condições que o experimento foi conduzido não foram encontradas diferenças nos componentes de produtividade nos manejos adotados. Os resultados obtidos mostram que as condições climáticas, principalmente o fator precipitação é o determinante no rendimento da cultura da soja, reduzindo possíveis efeitos residuais da compactação do solo gerada pelo tráfego de máquinas pesadas.
Informações sobre os autores:
- ¹ Acadêmica do Curso de Agronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Sertão/RS. E-mail: letilanfredi@gmail.com
- ² Engenheiro Agrônomo, ATC BluAgri Brasil. E-mail: marlon_cantoni@hotmail.com
- 3 Acadêmico do Curso de Agronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Sertão/RS. E-mail: gabriel.follmer00@gmail.com
- 4 Professor, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Sertão/RS. E-mail: márcio.vieira@sertao.ifrs.edu.br
Referências
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