Autores: Álvaro A. A. da Silva. e Fernanda Trentin

Há algum tempo atrás quando o assunto era plantas daninhas, o agricultor já sabia que não era necessário se preocupar, pois estava tudo em suas mãos, controlar as invasoras antes de implementar a cultura e algumas aplicações após seu estabelecimento já eram suficientes. Entretanto, esse cenário já não é mais o mesmo e as plantas daninhas têm se mostrado cada vez mais difíceis de serem eliminadas.

A interferência na produção agrícola se dá através da competição por nutrientes, luz, umidade, espaço e, em diversos casos, pela presença de aleloquímicos como efeito alelopático. Isso por que ao longo do tempo, as invasoras também buscaram maneiras diferentes para sobreviver nesse ambiente de produção como forma de perpetuar suas espécies, onde uma dessas maneiras é o desenvolvimento de resistência aos produtos utilizados para seu controle.

De acordo com a Weed Science Society of America (WSSA) atualmente existem mais de 500 registros de espécies e/ou locais de ação de plantas daninhas resistentes à diversas moléculas de herbicidas em uso. No Brasil, estas espécies apresentam biótipos de resistência a diferentes sítios de ação de herbicidas: Inibidores da ALS; Inibidores da ACCase; Auxinas Sintéticas; Inibidores da síntese de EPSP; Inibidores do Fotossistema II e Inibidores de PPO.

Um caso de resistência muito conhecido é o da espécie Conyza sumatrensis, vulgarmente conhecida como a buva, que tem como principal vantagem a seu favor o grande número de sementes produzidas impulsionando a disseminação rápida dos genes resistentes o que torna mais difícil seu controle. Em 2005, foi registrado o primeiro caso de resistência ao herbicida glifosato motivado basicamente, pela aplicação sequencial e de um grande número na soja transgênica em cima de uma mesma área.

Assim como a buva, muitas outras espécies desenvolveram essas particularidades, a citar a Digitaria insularis (capim-amargoso), o Lolium multiflorum (azevém), o Amaranthus hybridus (caruru) e mais recentemente Euphorbia heterophylla (leiteiro), que hoje interferem significativamente no manejo e rentabilidade do sistema de produção.

Mas o que torna uma planta daninha resistente? Ao utilizar sucessivamente, por exemplo, herbicidas semelhantes ou distintos, mas que possuem o mesmo mecanismo de ação acaba por se induzir uma mudança no processo de seleção das plantas, mesmo quando esses são aplicado nas doses corretas. Isso faz com que características genéticas diferenciadas sejam continuamente selecionadas conforme o número de aplicações, acarretando a adaptação e resistência das gerações subsequentes, de acordo com o índice de herdabilidade. Ou seja, a resistência está ligada a fatores genéticos, é hereditária e existem alguns mecanismos que explicam como esse processo se desenvolve, são eles: alteração do local de ação, neste caso por ocorrerem modificações ou mutações normais no DNA da planta que ocasiona uma alteração nos aminoácidos da proteína a ser formada. As moléculas do herbicida podem vir a se juntar com esses aminoácidos alterados e o produto acaba perdendo a sua ação principal.

Metabolização da planta resistente que decompõem a molécula de herbicida de forma mais rápida em comparação a uma planta susceptível e compartimentalização, onde os herbicidas ao invés de serem armazenados nas partes ativas da célula, ficam em compartimentos inativos, como o vacúolo. Estes são alguns dos fatores que levam a resistência.

Os genes de resistência podem ser encontrados no citoplasma e serão transmitidos apenas pela parte feminina, através dos óvulos ou encontrados nos cromossomos, no núcleo, podendo assim ser transmitidos tanto pela parte feminina como masculina, no caso pelo pólen. A resistência transmitida pelo pólen pode atingir muitas plantas, quando a fecundação é cruzada e assim ser propagada mais rapidamente.

Quando a resistência depende de um único gene (monogênica) a possibilidade de desenvolvimento é maior e mais rápida que a dependente de mais de um gene (poligênica), quando geralmente há necessidade de recombinações entre plantas por diversas gerações, até que haja um número suficiente de alelos para desencadear um problema significativo.



Seleção e multiplicação de plantas resistentes a um herbicida 

(Fonte: Autores)

Diante disso, os fatores básicos que colaboram para impedir a proliferação de indivíduos resistentes, bem como para diminuir o índice populacional de plantas daninhas em uma cultura relacionam:

  • A rotação de herbicidas (tratamentos sequenciais), onde produtos com diferentes mecanismos de ação reduzem a pressão de seleção dessas plantas, aliado as dosagens recomendadas na bula e os respectivos cuidados durante a aplicação, como momento adequado para o tratamento e regulagem dos implementos;
  • Manter uma cobertura de solo constante (palhada) no sistema de plantio direto, no período outono/inverno o que evita a emergência de ervas indesejadas, pois limita a passagem de luz impondo uma barreira à germinação;
  • Rotação de culturas, que possibilita a já comentada rotação de herbicidas, bem como modifica a intensidade de competição dessas plantas conforme seus efeitos alelopáticos;
  • Espaçamentos e densidades de semeadura ajustados corretamente com a utilização de cultivares transgênicas, sementes certificadas e a limpeza dos equipamentos para evitar a dispersão das sementes das plantas invasoras.

Percebe-se que ao se compreender mais precisamente o processo de geração de resistência, relacionando os exemplos impostos a campo e todos os custos e perdas de produção envolvidos, se torna cada vez mais essencial a conscientização por parte dos produtores. O objetivo é que, através do gerenciamento e monitoramento eficientes das lavouras, se busque e implemente com mais afinco meios e estratégias de se manejar a safra com sabedoria e perspicácia visando as altas produtividades.

Autores: Álvaro A. A. da Silva. e Fernanda Trentin, Discentes do Programa de Educação Tutorial (PET Ciências Agrárias), Universidade Federal de Santa Maria campus Frederico Westphalen-RS.

Referências

WSSA, Weed Science Society of America. Disponível em: <http://wssa.net/2020/0 3/weed-science-society-of-america-honors-award-winners/>. Acesso em:10/03/2020.

CHRISTOFFOLETI, P. J.; LÓPEZ-OVEJERO, R. Principais aspectos da resistência de plantas daninhas ao herbicida glyphosate. Disponível em: <http://www.scielo.br/sc ielo.php?pid=S0100-83582003000300020&script=sci_arttext>. Acesso em: 07/03/2020.

RIBAS A. V.; NILSON C. F.; Análise do risco da ocorrência de biotipos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pd/v15 n2/a08v15n2>. Acesso em: 09/03/2020.

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