O mercado brasileiro de trigo encerrou a semana marcado por lentidão nas negociações, com operações pontuais e pouca liquidez. Segundo Elcio Bento, analista de Safras & Mercado, a resistência dos produtores em aceitar os valores ofertados pelos moinhos permaneceu como um dos principais entraves, enquanto a paridade de importação seguiu como referência central para a formação das cotações.

No Rio Grande do Sul, a diferença entre as ofertas de compra e os pedidos de venda impediu avanços significativos: moinhos mostraram interesse em pagar cerca de R$ 1.250 por tonelada, enquanto os produtores insistiram em valores próximos de R$ 1.300. Os poucos negócios realizados ocorreram apenas quando ambas as partes cederam, com fechamentos em torno de R$ 1.280.

No Paraná, onde o excedente da safra velha é mais limitado, as indicações giraram em torno de R$ 1.450 por tonelada CIF moinhos, enquanto para a safra nova os preços variaram entre R$ 1.300 e R$ 1.350, mas sem motivação de venda por parte dos produtores. Para Bento, a paridade de importação continua sendo a principal referência para a formação das cotações, cenário reforçado pela ampla disponibilidade de trigo na Argentina e em outros grandes exportadores.

Conforme o analista, o ambiente internacional também exerceu influência relevante ao longo da semana. O dólar chegou a romper o suporte de R$ 5,40, mas voltou a se aproximar de R$ 5,50, ainda insuficiente para neutralizar a pressão vinda das cotações externas. A expectativa de uma safra mundial recorde, especialmente nos Estados Unidos, pesou sobre os preços, em um cenário em que o trigo terá de competir com uma colheita de milho que deve superar as estimativas iniciais.

“A safra mundial recorde e as incertezas em relação à demanda, especialmente para ração, pesam sobre as cotações. Esse trigo terá que competir com uma safra de milho que deve superar as expectativas iniciais, já altas”, explicou Bento.

Além disso, a boa oferta argentina seguia pressionando, com volumes da safra velha ainda disponíveis e previsão de nova produção superior a 20 milhões de toneladas. No Nordeste, cálculos de importação mostraram que o trigo argentino CIF estava cerca de R$ 50 por tonelada mais barato que o hard norte-americano, enquanto o soft dos EUA era R$ 20 mais acessível.

Apesar de não ser tradicionalmente demandado, Bento destacou que “em geral, o trigo soft não é demandado pelos moinhos brasileiros; porém, se o preço compensar, pode ser incorporado em mesclas para reduzir o custo da farinha”. O analista também lembrou que a possibilidade de medidas comerciais retaliatórias contra o “tarifaço” norte-americano pode alterar o quadro de importações, gerando ainda mais cautela nos compradores.

No campo, a semana foi de atenção às lavouras. No Paraná, a colheita dos primeiros lotes deve começar ainda em agosto. Após os episódios de geadas, as condições seguem satisfatórias, com mais de 80% da área classificada como boa e apenas 6% em situação ruim, justamente aquelas que serão colhidas primeiro. A expectativa é de que em setembro a colheita ganhe força.

No Rio Grande do Sul, o atraso no plantio refletiu-se em um desenvolvimento mais lento. De acordo com a Emater/RS, até quinta-feira 92% das lavouras ainda estavam em fase vegetativa, contra 85% no mesmo período de 2024 e 78% da média dos últimos cinco anos. Apenas 8% estavam em floração, bem abaixo dos 15% observados no ano passado e dos 19% da média do quinquênio. Apesar do atraso, as condições climáticas têm favorecido, com boa disponibilidade de umidade no solo, temperaturas amenas e maior incidência de radiação solar nas últimas semanas.

Fonte: Ritiele Rodrigues – Safras News



 

FONTE

Autor:Ritiele Rodrigues/Safras News

Site: Safras & Mercado

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