O desafio de manter os solos sustentáveis garantindo elevados patamares de produção foi o tema do painel nesta quinta-feira (23), durante o Famato Embrapa Show, promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Embrapa e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), em Cuiabá (MT).
O pesquisador Ademir Fontana, da Embrapa Solos, apresentou a caracterização e o potencial agrícola dos solos arenosos para o cultivo agrícola. Fontana destacou que os solos arenosos apresentam pouca matéria orgânica e argila, baixa resistência à erosão, baixa capacidade de reter nutrientes e disponibilizar água. Por outro lado, existe, na mesma medida, a facilidade de se corrigir esses solos com o uso de calagem e de adubação. “Os solos arenosos respondem bem às práticas de manejo, no que diz respeito à cobertura de solo e de presença de raiz, por exemplo”, destacou o pesquisador.
Fontana ressaltou ainda a importância da avaliação das diferenciações existentes nos tipos de solo arenosos que apresentam em geral, mais de 50% de areia e máximo de 20% de argila. Não existe homogeneidade nos tamanhos de grãos de areia, por exemplo, são diferenciados pela ampla faixa de tamanho da fração areia pela análise granulométrica. Além disso, existe diferencial de teores de argila e areia nas diferentes camadas, além da variação de espessura destas camadas. “A laterita, comumente chamada de piçarra ou canga, é um exemplo de material grosso, duro e resistente que impede o crescimento das raízes e a infiltração de água. Neste sentido, para conhecer as diferenças dos solos existentes na propriedade, a análise granulométrica pode apontar de forma mais precisa o tipo de solo e direcionar melhor recomendação de adubação”, explicou.
O pesquisador reforçou a necessidade de se avaliar em profundidade do solo, pelo menos 100 centímetros, para ir além da camada superficial. A avaliação pode identificar a textura existente que pode ser areia, silte e argila e os materiais que podem ser rochas, pedras, piçarras ou cangas. “Ao fazer uma análise é importante considerar, mesmo o volume ocupado de materiais grossos e contabilizar na avaliação e interpretação para melhorar a recomendação de balanço de nutrientes uma vez que estes materiais não retem água e nutrientes”, disse.
O pesquisador Júlio César Salton, da Embrapa Agropecuária Oeste, ministrou palestra sobre Cobertura de solo e palhada: efeitos e opções de sistemas e de planta. Salton explicou que a cobertura de solo protege o solo do impacto da chuva, (que dificulta a infiltração e pode iniciar o processo erosivo de solo), da insolação (a temperatura do solo interfere no crescimento das raízes e na atividade biológica do solo, por exemplo), na evaporação da água, na temperatura elevada e pode reduzir a ocorrência de plantas daninhas.
Para o pesquisador, o sistema que envolve o solo é uma máquina biológica que precisa funcionar adequadamente para que as culturas consigam produzir adequadamente. “Para que esta máquina funcione, é preciso colocar energia e combustível, o que significa introduzir plantas que vão se converter matéria orgânica”, destacou. “É importante não deixar os solos descobertos, porque quanto mais tempo de planta no solo, mais entrada de energia e de combustível esse solo vai receber”, explicou.
Salton destacou ainda a relevância de manter carbono no solo, por meio de matéria orgânica, o que significa manter de 13 a 15 toneladas de palhada, por hectare, para manter o equilíbrio. Neste sentido, trouxe exemplo das áreas com sucessão soja e milho safrinha. “A soja deixa de 2 a 3 toneladas de palhada, por hectare, enquanto o milho disponibiliza de 5 a 7 toneladas, totalizando de 7 a 10 toneladas por hectare de palha. E para mantermos o equilíbrio, é preciso ter, em média, de 13 a 15 toneladas de palha, por hectare. Se isso não acontece, o solo está funcionado em déficit: perde carbono, perde matéria orgânica e perde capacidade produtiva”, alertou.
Para conseguir superar o desafio, Salton sugere a diversificação de culturas e os consórcios com o milho safrinha para recompor o estoque de carbono com plantas. “Existem diferentes famílias e espécies que podem ser utilizadas em consórcios de forrageiras com leguminosas e mix de plantas. Pode adotar, por exemplo, o tradicional milho com braquiária, que é alternativa fantástica para produzir grãos e também a palha, insumo necessário para garantir os elevados potenciais produtivos”.
O pesquisador trouxe resultados de pesquisa que avaliam a produtividade da soja, nos sistemas de produção com milho solteiro (que deixa 6 toneladas de palha, por hectare) e de braquiária, por exemplo (cuja média é de 14 toneladas de palha por hectare). Na safra 2021, por exemplo, a produtividade da soja apenas com milho solteiro foi de 3500 kg por hectare, enquanto, que nas áreas que utilizaram a braquiária no sistema, apresentaram 4300 kg/ha. “Podemos perceber que quanto mais palha, maior foi a produtividade da soja. Por isso, mesmo reduzindo a produção de milho, o sistema ainda consegue trazer rentabilidade ao produtor”, revela.
No painel, o pesquisador Rafael Nunes, da Embrapa Cerrados, proferiu a palestra sobre nutrição de cultivos em tempos de preços elevados dos fertilizantes. Nunes explicou que conduzir as lavouras com altas produtividades, estabilidade e rentabilidade exige a adoção de tecnologias de nutrição diversificadas, que inclui a aplicação de calagem, gessagem, adubação com nutrientes solúveis e, sobretudo, manter o solo coberto e vegetado ao longo de todo o ano, como forma de aumentar a proteção do solo, a ciclagem e a reciclagem de nutrientes.
A partir dessa visão, elencou cinco princípios que norteiam a nutrição das culturas: mapear a fertilidade do solo para fazer a adubação adequadamente, conhecer a exigência nutricional da cultura, identificar a exigência nutricional ao longo do ciclo, preservar a qualidade das raízes que garantem o suprimento de nutrientes para a planta e suprir todas as necessidades nutricionais.
Um dos pontos levantados pelo pesquisador foi a valorização do adequado manejo da acidez do solo, por meio de calagem e gessagem. “É preciso revisar os conceitos e revisitar esse processo de calagem que já é tradicionalmente conhecido, mas precisa ser ajustado para racionalizar os insumos e garantir produtividade. Temos resultados mostrando que é possível reduzir em 30% de NPK (nitrogênio, cálcio e potássio), se fizermos uma calagem adequada”, exemplificou.
Nunes conclui dizendo ser necessário investir em construção de solo na próxima safra. Além disso, reforçou que a avaliação da fertilidade é que irá direcionar os custos com adubação, alterando dosagens e fontes. “Sugiro investir no que é mais limitante NPK, enxofre, boro e micronutrientes e ainda implementar a adubação foliar. Porém, não se deve cortar gasto, mas redirecionar o investimento, ou seja, olhar para a necessidade real do sistema”, finalizou.
Sobre o evento
O evento reúne tecnologias desenvolvidas por 18 unidades de pesquisa que estão sendo apresentadas por mais de 50 empregados, entre pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias e analistas de transferência de tecnologia. Estão demonstradas aproximadamente 60 soluções desenvolvidas pela Embrapa para apoiar agricultores e pecuaristas a terem mais eficiência e sustentabilidade na produção. Confira a programação na íntegra clicando em https://sistemafamato.org.br/famatoembrapashow/.
Fonte: Embrapa