A implementação da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) revolucionou o manejo e controle de lagartas na cultura do milho, especialmente se tratando de espécies de difícil controle como a lagarta do cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda).

O Bacillus thuringiensis (Bt) é uma bactéria Gram positiva, que pode ser caracterizada pela sua habilidade de formar cristais proteicos durante a fase estacionária e/ou de esporulação. O mecanismo de ação das proteínas Cry de Bt envolvem a solubilização do cristal no intestino médio do inseto, causando sua morte (Carneiro et al., 2009).

Figura 1. Esquema da ação das toxinas Bt no intestino médio de insetos suscetíveis.

Fonte: Loguercio; Carneiro; Carneiro (2002)

Quando utilizada de forma adequada, a tecnologia Bt possibilita a redução do uso de inseticidas para o controle de lagartas, além de contribuir para o aumento da sustentabilidade e rentabilidade da lavoura. Embora muitas vezes não seja suficiente para o controle efetivo de elevadas infestações de lagartas, o Bt desempena importante papel no manejo e controle dessas pragas no campo.

Contudo, assim como qualquer tecnologia, para a manutenção da eficiência do Bt, é necessário atentar para alguns cuidados com relação ao seu uso. O principal deles é o cultivo de áreas de refúgio. O refúgio é fundamental para evitar a seleção de populações resistentes de lagartas nas lavouras Bt.

O cultivo de áreas de refúgio é essencial para manter populações de pragas sensíveis à tecnologia Bt. A área de refúgio é aquela em que a praga-alvo irá sobreviver e reproduzir-se sem a exposição à toxina Bt. Os insetos oriundos dessa área poderão se acasalar com os insetos sobreviventes das áreas plantadas com milho Bt, possibilitando a manutenção da suscetibilidade à toxina Bt (Embrapa Milho e Sorgo).



Sobretudo, para assegurar a funcionalidade das áreas de refúgio, algumas recomendações necessitam ser seguidas. Embora distintas disposições possam ser utilizadas para a inserção de áreas de refúgio próximo as culturas Bt, a distância entre as áreas de refúgio e a cultura Bt deve ser respeitada para a manutenção de indivíduos suscetíveis.

Segundo recomendações da Embrapa Milho e Sorgo, a distância entre a área de refúgio e a cultura Bt não deve ser superior a 800 m (figura 2). Deve-se utilizar preferencialmente cultivares de mesmo ciclo e porte. Recomenda-se a limite de 800 m porque essa é a distância máxima verificada pela dispersão dos adultos da lagarta-do-cartucho no campo. Logo, respeitar o a distância máxima entre áreas Bt e não Bt é essencial para assegurar a manutenção de indivíduos suscetíveis.

Figura 2. Estrutura da área de refúgio para milho.

Fonte: Embrapa Milho e Sorgo

O tamanho da área de refúgio varia em função da área Bt cultivada, sendo recomendada a adoção de 20% de áreas de refúgio para a cultura do algodão ou soja e 10% para o milho (IRAC-BR, 2018).

Em casos em que não se opta pelo cultivo de áreas de refúgio, há uma grande possibilidade da seleção de indivíduos resistentes à tecnologia Bt, resultando na baixa eficiência de controle das pragas. Sendo assim, o cultivo de áreas de refúgio é essencial para garantir a manutenção da funcionalidade e durabilidade da tecnologia Bt no controle de lagartas.


Veja mais: Evolução da resistência de Spodoptera frugiperda em áreas de refúgio contaminadas por sementes Bt



Referências:

CARNEIRO, A. A. et al. MILHO Bt: TEORIA E PRÁTICA DA PRODUÇÃO DE PLANTAS TRANSGÊNICAS RESISTENTES A INSETOS-PRAGA. Embrapa, Circular Técnica, n. 135, 2009. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/milho-bt-teoria-e-pratica-da-producao-de-plantas-transgenicas-resistentes-a-insetos-praga.pdf/4af81f7d-c402-4c02-8ad2-a3700588388f >, acesso em: 23/01/2023.

EMBRAPA MILHO E SORGO. ÁREA DE REFÚGIO: RECOMENDAÇÕES DE USO PARA O PLANTIO DO MILHO TRANSGÊNICO Bt. Embrapa Milho e Sorgo. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/884142/1/Arearefugio.pdf >, acesso em: 23/01/2023.

IRAC. MANEJO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS E PLANTAS Bt.: Spodoptera frugiperda; Helicoverpa armígera; Chrysodeixis includens. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas: Brasil, 2018. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/2bed6c_029627fdae5a499ca06c3eb4cb2fba0a.pdf?index=true >, acesso em: 23/01/2023.

LOGUERCIO, L. L.; CARNEIRO, N. P.; CARNEIRO, A. A. MILHO Bt.: ALTERNATIVA BIOTECNOLÓGICA PARA CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS-PRAGA. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, n. 24, 2002. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/50711/1/milho-bt.pdf >, acesso em: 23/01/2023.

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