Ao longo do ciclo de desenvolvimento da soja (Glycine max), diversas espécies de insetos-praga podem causar danos, atacando diferentes estruturas da planta e, consequentemente, reduzindo a produtividade da cultura. De acordo com Roggia et al. (2020), as lagartas e percevejos destacam-se como o grupo de pragas mais importantes atualmente.  Conforme Corrêa-Ferreira & Sosa-Gómez (2017), os percevejos se alimentam diretamente das vagens, sugando os grãos, isso pode levar à redução da produtividade da cultura, bem como à deterioração da qualidade dos grãos colhidos. Além do dano direto causado pela alimentação, há a possibilidade de esses insetos injetarem toxinas durante a alimentação, ocasionando deformações nas plantas, comprometendo ainda mais o crescimento saudável das plantas e o rendimento da colheita.

Corrêa-Ferreira & Sosa-Gómez (2017), afirmam ainda que percevejo-marrom (Euschistus heros) é a principal praga na cultura da soja, estabelecendo-se preferencialmente nas plantações no final do período vegetativo. Os danos causados por esse percevejo aumentam à medida que as vagens se desenvolvem, com níveis mais elevados sendo observados durante a fase de enchimento de grãos. Geralmente a densidade máxima é observada no período de maturação da cultura.

Para reduzir os danos causados por esse inseto-praga, o emprego do Manejo Integrado de Pragas (MIP) surge como uma estratégia fundamental, com a adoção de algumas medidas de controle, torna-se possível realizar o manejo de pragas de forma eficiente e mais sustentável. Nesse sentido, o controle biológico se destaca como uma alternativa viável, envolvendo a introdução de inimigos naturais no ambiente de cultivo.  Conforme Pacheco & Corrêa-Ferreira (2000), o Telenomus podisi é a espécie de parasitoide de ovos responsável por mais de 80% do parasitismo em ovos de E. heros. Silva (2013), define os parasitoides como insetos que parasitam outros insetos, causando a morte do hospedeiro.

Figura 1. Telenomus podisi parasitando ovos do percevejo Euschistus heros.

Foto: Adair Carneiro (2023).

De acordo com Bueno et al. (2022), o Telenous podisi é um microhimenóptero de aproximadamente 1,0 mm de tamanho, atuando como parasitoide de ovos de percevejos. Ele ocorre naturalmente no ambiente e passa por um ciclo de desenvolvimento, desde ovo até a fase adulta, no interior do ovo do hospedeiro, resultando na morte desses ovos e impedindo a eclosão das ninfas de percevejo, ao invés disso, emerge um adulto do parasitoide. Esse, por sua vez, continuará parasitando e controlando novos ovos de percevejos ao longo da sua vida adulta.

Os autores destacam ainda que o Telenomus podisi é altamente eficaz como agente de controle biológico, especialmente contra o percevejo-marrom. Uma única fêmea adulta desse parasitoide, tem a capacidade de parasitar entre 104 e 211 ovos do percevejo-marrom.  A seguir, podemos observar o ciclo do parasitismo em ovos de E. heros.

Figura 2. Ciclo de parasitismo de Telenomus podisi em ovos do percevejo Euschistus heros.

Fonte: Bueno et al. (2022).

Um estudo conduzido por Tibaldi (2017), avaliando a liberação de T. podisi em diferentes níveis de infestação artificial de ovos de E. heros na soja, observou que para infestações de até 100.000 ovos de percevejos, a quantidade mais eficaz foi de 2.500 parasitoides, entretanto, quando as infestações variaram entre 200.000 e 400.000 ovos, a quantidade ideal foi de 5.000 parasitoides por hectare.

Tabela 1. Porcentagem média de parasitismo de ovos de Euschistus heros, em diferentes níveis de infestação artificial, após a liberação de diferentes quantidades de adultos de Telenomus podisi em campo de soja.

Fonte: Tibaldi (2017) apud. Pinto et al. (2022).

Portanto, conforme destacam Pinto et al. (2022), a quantidade liberada é essencial para o controle eficiente. Além disso, a distribuição do inimigo natural no campo é importante, quanto maior for a capacidade de dispersão desse inimigo natural, menor a necessidade de espalhamento na área.

Outro ponto que merece destaque é a frequência e intervalo entre as liberações. Para liberação do parasitoide de ovos Telenomus podisi, é importante saber o início da infestação dos adultos, independentemente do estádio de desenvolvimento fenológico da lavoura (Roggia et al., 2020). Pinto et al. (2022), destacam que normalmente são necessárias três liberações seguidas dos parasitoides, para controle de E. heros. Na cultura da soja em áreas de baixa pressão da praga, são indicadas duas liberações em intercalo mensal de T. podisi. Já em áreas de alta pressão da praga, são indicadas três liberações a cada 15 dias.

Figura 3. Esquema de liberação de Telenomus podisi em diferentes estádios fenológicos de lavouras de soja semeadas precoce e tardiamente, em regiões de alta e baixa pressão de Euschistus heros.

Fonte: Pinto & Bueno, 2019 apud. Pinto et al. (2022).

Confirma os biodefensivos registrados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para o parasitismo de T. podisi em E. heros.

Tabela 2. Parasitoides de ovos registrados para comercialização como biodefensivos na agricultura (Mapa, 2022).

Fonte: Bueno et al. (2022).


A implementação do manejo integrado de pragas, com destaque para o controle biológico, é uma ferramenta muito importante. Além de otimizar os recursos ao reduzir a dependência do uso de inseticidas na lavoura, proporciona um ambiente de cultivo mais saudável e sustentável. É importante que consideremos, sempre que possível, abordagens de controle que sejam alternativas ao controle químico, a eficiência do uso de Telenomus podisi no controle do Euschistus heros na cultura da soja, o qual representa uma das principais pragas que acometem a cultura e causam prejuízos à produção, é um exemplo de sucesso do controle biológico de praga.

Veja como ocorre o parasitismo do ovo de percevejos por Telenomus podisi.


Veja mais: Controle biológico de pragas


Referências:

BUENO, A. F. et al. MANEJO DE PRAGAS COM PARASITOIDES. Bioinsumos na Cultura da Soja, Embrapa, Meyer et al. – editores técnicos, cap. 24, Brasília – DF, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 18/08/2023.

CORRÊA-FERREIRA, B. S.; SOSA-GÓMEZ, D. R. PERCEVEJOS E SISTEMA DE PRODUÇÃO SOJA-MILHO. Documentos 397, Embrapa Soja, Londrina – PR, 2017. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/171684/1/Doc-397-OL.pdf >, acesso em: 18/08/2023.

PACHECO, D. J. P.; CORRÊA-FERREIRA, S. PARASITISMO DE Telenomus podisi ASHMEAD (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) EM POPULAÇÕES DE PERCEVEJOS PRAGAS DA SOJA. Sociedade Entomológica do Brasil, 2000. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/aseb/a/xfHfFNxPq7mdxqXJxfMM8dd/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 18/08/2023.

PINTO, A. S. et al. TECNOLOGIA PARA LIBERAÇÃO DE AGENTES MACROBIOLÓGICOS. Bioinsumos na Cultura da Soja, Embrapa, Meyer et al. – editores técnicos, cap. 7, Brasília – DF, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 18/08/2023.

ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Tecnologias de Produção da Soja, Sistemas de Produção 17, cap. 9. Embrapa, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 18/08/2023.

SILVA, A. C. GUIA PARA O RECONHECIMENTO DE INIMIGOS NATURAIS DE PRAGAS AGRÍCOLAS. Embrapa Agrobiologia, Brasília – DF, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/90268/1/ALESSANDRA-2013-CARTILHA-GUIA-INIMIGOS-NATURAIS-IMPRESSAO02-AGOSTO2013.pdf >, acesso em: 18/08/2023.

Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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