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Temperaturas de calda para o controle de ferrugem da soja com o fungicida unizeb gold WG®

O objetivo do estudo foi verificar se a variação da temperatura da água, para confecção da calda com o fungicida mancozeb na formulação Unizeb Gold WG®, exerce efeito sinérgico ou antagônico na elaboração da calda e na eficácia de controle da ferrugem da soja.

Autores: MARCELO G. MADALOSSO1, JESSICA S. BOFF2, FILIPE A. DALENOGARE2, VITOR TADIELO2, GABRIEL N. ROOS2, SERGIO DECARO3

Introdução

Trabalho disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.

A expressão do potencial produtivo da soja tem crescido linearmente, nos últimos anos. No entanto, existem problemas fitossanitários que podem comprometer em até 90% da produtividade, como a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) (Sinclair; Hartmann, 1999). Segundo Garcés Fiallos (2011), o uso de fungicidas é a ferramenta mais relevante para controle da doença, minimizando o dano e os prejuízos aos agricultores. De acordo com Freitas et al. (2016), o melhor controle de ferrugem-asiática foi obtido quando se misturou três grupos químicos de fungicidas em quatro aplicações, associado ao mancozeb. Este é um fungicida que possui a função de retardar a resistência de fungos e aumentar a eficiência de fungicidas sítio-especifico (Camargos, 2017). É importante ressaltar que este fungicida é um composto instável em água e pode ser decomposto pela interação de fatores ambientais, sendo um deles a variação da temperatura em calda.

Também é possível que haja mudanças nas características físico-químicas da calda e na qualidade da pulverização. Entretanto, se desconhece a magnitude e a interação da temperatura da calda com os componentes nela presentes (Cunha et al., 2010). Além disso, a água é o diluente mais utilizado nas aplicações de produtos fitossanitários, e sua condição no arranjo da calda tem sido muito debatida (Ramos, 2006). Segundo Antuniassi (2015), os aspectos mais relevantes a se considerar na qualidade da água na calda é o pH, dureza, condutividade elétrica, viscosidade e a tensão superficial. Em contra partida, há estudos que comprovam a influência da temperatura de calda nos herbicidas, podendo assim, ser ajustado a um componente qualitativo nas aplicações. Com ênfase nessa abordagem, o objetivo do estudo foi verificar se a variação da temperatura da água, para confecção da calda com mancozeb, na formulação do produto comercial Unizeb Gold WG®, exerce efeito sinérgico ou antagônico na elaboração da calda e na eficácia de controle da ferrugem da soja.

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido na sede da granja Santo Antônio, município de Santiago/RS. A soja (M6410) foi semeada utilizando sistema de semeadura direta, com semeadora Semeato (SSM27) de 11 linhas, distribuindo 16 sementes/m linear. A adubação foi de acordo com a recomendação do manual de adubação e calagem para o RS/SC. Os manejos fitossanitários foram realizados de forma a impedir que os efeitos de plantas daninhas e insetos não interferissem no objetivo da pesquisa. O ensaio foi conduzido em delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. As aplicações foram realizadas com pulverizador costal pressurizado a CO2, equipado com seis pontas Hypro Defy 3D® submetidas a uma pressão de 2,5bar e volume de calda de 150 L ha-1.

A variação da temperatura da água, para confecção dos tratamentos de calda, foi realizada diretamente no campo e imediatamente antes da aplicação. Foi acondicionado água quente (80°C) e água gelada (5°C) em garrafa térmicas, para mistura e confecção dos tratamentos desejados (T1: 10°C, T2: 20°C, T3: 30°C, T4: 40°C e T5: 50°C), os quais foram aferidos com termômetro digital. Além de uma testemunha sem aplicação (T6).O início do programa de aplicações foi preventivo, sem sinais e sintomas visíveis da doença. Foram realizadas cinco aplicações com intervalo de 14 dias entre as três primeiras e 10 dias para as últimas. Apenas o mancozeb na formulação WG foi utilizado na calda.

A patometria de ferrugem asiática da soja foi realizada conforme escala visual de Godoy et al. (2006), totalizando quatro leituras no decorrer do ciclo da planta. Com base na sumarização destes dados, foi possível elaborar a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) (Campbell e Madden,1990). A eficácia relativa de controle foi confeccionada com equação proposta por Abbott (1925). A colheita do ensaio foi realizada em três linhas de quatro metros com uma colhedora Wintersteiger. Os grãos foram pesados e anotada a umidade. A análise estatística dos dados foi realizada através do software SASM-Agri (V.8,2). As comparações múltiplas entre as médias foram realizadas pelo teste de agrupamento Scott & Knott com nível de 5% de probabilidade.

Figura 1. Aferição da temperatura da água antes da preparação da calda com o fungicida mancozeb, na formulação comercial Unizeb Gold WG®.

Resultados e Discussão

De todas temperaturas estudadas, os limites (10°C e 50°C) apresentaram mais problemas para a performance de controle da ferrugem e na produtividade, respectivamente. De acordo com Vidal e Lamego (2014), a influência da temperatura sobre a absorção da planta é pequena, sendo que temperaturas altas podem acabar retardando a absorção. Acredita-se que o efeito inibidor de altas temperaturas, prende-se à desnaturação de enzimas e proteínas, que se refletirá na absorção. Dessa forma, diminuição da temperatura, retardará os processos de difusão livre, bem como as reações bioquímicas que interveem na absorção ativa. Já as temperaturas intermediárias (20°C, 30°C e 40°C) não diferiram estatisticamente nos níveis de controle, apesar da variação dos dados brutos.

O aquecimento pode promover um afrouxamento das pontes de hidrogênio entre as moléculas de água, diminuindo as forças de coesão e, consequentemente, reduzindo a tensão superficial da água (Sundaram, 1987). Com base neste autor, a menor tensão superficial da água, pode auxiliar na solubilização de solutos muito complexos e em altas doses, como o mancozeb. O aumento de temperatura pode aumentar a quantidade solubilizada de um soluto e melhorar a ação dos solventes (Hansen, 2007). Para Schwarzenbach e Gschwend (1993), a solubilidade de um agrotóxico em água refere-se à quantidade máxima da molécula (pura) que pode ser dissolvida em água a uma determinada temperatura. A influência da temperatura na solubilidade dos agrotóxicos depende do estado físico em que estes se encontram.

De acordo com eles, se o produto estiver no estado líquido, a temperatura tem pequena influência na sua solubilidade. Porém, se o agrotóxico estiver no estado sólido, o aumento da temperatura provoca o aumento da sua solubilidade. Quando foi analisada a produtividade, cada tratamento pode ser discriminado, estatisticamente. Os tratamentos com água a 10°C e 50°C foram os que atingiram as menores produtividades, corroborando com os dados de AACPD e de controle de ferrugem. Já o tratamento de 30°C foi o mais produtivo, ratificando que a proteção das folhas foi mais eficiente e causando menos danos e incompatibilidades na mistura. Os tratamentos de 20°C e 40°C ficaram abaixo do destacado, respectivamente. Portanto, ficou claro que a variação na temperatura de calda causou problema na performance da mistura de água mais mancozeb na formulação Unizeb Gold WG®.

Figura 2. AACPD para ferrugem da soja e eficácia de controle submetidas a cinco temperaturas de preparo de calda.

Conclusões

Para preparação da calda, a água a 30°C é a melhor opção para mistura com mancozeb WG (Unizeb Gold®). Evitar águas com temperaturas frias (em torno de 10°C) e quentes (em torno de 50°C). Mais estudos são necessários sobre temperatura de caldas, com a combinação de outros produtos em mistura no tanque com mancozeb.


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Referências

ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of insecticide. Journal of Economic Entomology, Lanhan, v.18, p.265-267, 1925.

ANTUNIASSI, U.R.; Tecnologia dentro do tanque. 2015. In: Revista Plantio Direto, edição 145-146, 2015.

RAMOS, H. H.; ARAÚJO, D. Preparo da calda e sua interferência na eficácia de agrotóxicos. Artigo em Hypertexto. 2006. Disponível em: <http://www.infobibos. com/Artigos/2006_3/V2/index.htm>.

CAMPBELL, C.L.; MADDEN, L.V. Introduction to plant disease epidemiology. New York: J. Wiley, 1990. 532p. Capítulo 8. p.193.

CAMARGOS, R. Ferrugem Asiática da Soja. In: Informativo Técnico Nortox. Ed. 03, 2017.

CUNHA, J.P.A.R.; ALVES G.S.; REIS, E.F. Temperature effect on the physicalchemical characteristics of aqueous solutions with spray. Planta Daninha, Viçosa, MG, v. 28, n. 3, p. 665-672, 2010.

FREITAS, R. M. S. et al. Fluzapiroxade no controle da ferrugem asiática da soja em condições de cerrado. Revista Caatinga, Mossoró, v. 29, n. 3, p. 619-628, 2016.

GODOY, Cláudia V.; KOGA, Lucimara J.; CANTERI, Marcelo G.. Diagrammatic scale for assessment of soybean rust severity. Fitopatol. Bras., Brasília, v. 31, n. 1, p. 63-68, Feb. 2006.

GARCÉS-FIALHOS, F. R. A ferrugem asiática da soja causador por Phakopsora pachyrhizi Sydow e Sydow. Ciência Y Tecnologia, Misiones, v. 2, n. 4, p. 45-60, 2011.

HANSEN, C. M. Hansen solubility parameter – a user’s handbook. 2. ed. Boca Raton: CRC Press, 2007. SINCLAIR, J.B.; HARTMAN, G.L. Soybean rust. In: HARTMAN, G.L.; SINCLAIR, J.B.; RUPE, J.C.

(Ed.). Compendium of soybean diseases. 4. ed. Saint Paul: APS Press, 1999. p. 25-26.

SUNDARAM, A. Influence of temperature on physical properties of non-aqueous pesticides formulation an spray diluents: relevance to u.l.v. applications. Pesticide Science, New York, v.20, n.5, p.105-18, 1987.

VIDAL, R.A.; LAMEGO, F.P. Fisiologia vegetal e a tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas. In: ANTUNIASSI, U.R.; BOLLER, W. Tecnologia de aplicação para culturas anuais. Passo Fundo: Aldeia Norte; Botucatu: FEPAF, 2011. p.18920

SCHWARZENBACH, R.P.; GSCHWEND, P.M.; Imboden, D.M. Environmental organic chemistry. New York, John Wiley & Sons, 1993. 681p.

Informações dos autores

1Engenheiro Agrônomo, Professor Titular, Universidade Regional Integrada, Campus Santiago e St. Ângelo/RS – Brasil, Fone (55) 981367266, madalossomg@gmai.com;

2Estudante de Agronomia da Universidade Regional Integrada, Campus Santiago/RS – Brasil;

3Eng° Agr° Dr. Responsável pela área de T.A. da UPL.

 

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