A produção agrícola brasileira está crescendo ano a ano, porém a incidência de doenças também segue esse ritmo, que interferem negativamente no desenvolvimento das culturas, podendo prejudicar a produtividade que será maior ou menor dependendo da infestação e condições para o desenvolvimento da doença. Desse modo, é de suma importância compreender e entender os principais grupos químicos dos fungicidas e seus mecanismos de ação, visando posicioná-los de maneira correta, conforme a incidência da doença.

Classificação dos Fungicidas

Quando o assunto é fungicida, se faz necessário entender a classificação a respeito do princípio geral de controle, classificação que está relacionada com a forma que o fungicida atua na planta. Sendo assim, eles podem ser classificados da seguinte forma:

Preventivos: impedem a penetração do fungo na planta;

Curativos: atuam após a penetração do fungo, ou seja, após a infecção já ter ocorrido, impedindo o processo de colonização do tecido;

Erradicantes: atuam quando já existem sintomas, atuando diretamente sobre o patógeno, eliminando o inóculo do fungo.

Além disso, os fungicidas também são classificados de acordo com a sua mobilidade na planta:

De contato: fungicidas que possuem ação limitada ao local de contato com a planta, ou seja, não penetram na planta, formando somente uma barreira química;

Mesostêmicos ou translaminar: não atinge o sistema vascular da planta, porém o fungicida atravessa o limbo foliar da planta;

Sistêmicos: penetram na folha e são translocados por meio do sistema vascular, vale ressaltar que existem diferentes graus de mobilidade dentro dos fungicidas sistêmicos.

Grupos químicos amplamente utilizados

Triazóis

Os triazóis pertencem ao grupo dos inibidores de biossíntese de esteróis de membranas celulares dos fungos, o qual apresenta diferentes graus de sistemicidade e um altíssimo potencial antifúngico, podendo ser utilizado no controle de um amplo espectro de doenças causadas por ascomicetos, basidiomicetos e deuteromicetos (Scholten, s.d). No entanto, não atuam sobre oomicetos como Pythium e Phytophthora, que não sintetizam esteróis.

Os triazóis atuam na formação do ergosterol, que é um importante lipídio fúngico para a formação da membrana das células. devido a ausência do ergosterol, ocorre a desorganização celular e consequentemente o colapso da célula fúngica, interrompendo assim, o crescimento micelial (Balardin, 2022).

Esse grupo químico possui uma rápida penetração e excelente translocação na planta, o que garante uma ação como protetor, antes de haver a infecção do patógeno, e curativo após o patógeno já estar instalado na planta. Porém, já foram relatados casos de resistência de triazóis a algumas doenças no Brasil, como por exemplo na Phakopsora pachyrhizi (ferrugem asiática da soja), que é a principal doença que afeta a cultura da soja. Diante disso, é necessário rotacionar princípios ativos e grupos químicos para evitar tal circunstância.

Estrobilurinas

As estrobilurinas são fungicidas que atuam de forma direta na mitocôndria das células dos fungos, inibindo assim, a respiração celular e consequentemente ocasionando uma perda energética, pois interfere diretamente na produção de ATP, que é a energia vital para crescimento dos fungos.

Esse grupo químico apresenta ação mesostêmica, pois penetra no tecido das plantas apresentando uma atividade translaminar, tal efeito faz com que seja recomendado sua aplicação de forma preventiva nas culturas, pelo fato de apresentar efeito curativo limitado. Vale ressaltar, que as estrobilurinas possuem um amplo espectro de controle de doenças, porém é recomendado que sua aplicação seja realizada juntamente com triazóis ou carboxamidas, visando alcançar maior eficácia no controle das doenças.

Carboxamidas

As Carboxamidas são fungicidas que atuam na inibição da enzima Sucinato Desidrogenase, impedindo a utilização plena do oxigênio e a produção de energia pelos fungos. Possuem ação preventiva na planta, impedindo assim a entrada do fungo e a sua infecção. As carboxamidas são consideradas mesostêmicas, ou seja, possuem baixa mobilidade. Importante ressaltar que elas possuem baixa solubilidade em água, sendo necessário a utilização de adjuvantes adequados, além de um período mínimo de duas horas entre a aplicação e a incidência de chuvas.

Já se tem relatos de casos de resistência às carboxamidas, como é o caso da Phakopsora pachyrhizi, dessa forma é fundamental a utilização conjunta de fungicidas multissítios. E para melhor controle, é recomendado a utilização de carboxamidas combinadas com fungicidas do grupo das estrobilurinas (FRAC-BR).

Por fim, percebe-se que os fungicidas possuem características distintas, sendo de fundamental importância conhecê-los para aumentar a eficiência no controle de doenças nas mais diversas culturas. Além do mais, para evitar novos casos de resistência é necessário utilizar fungicidas combinados e associá-los a multissítios, com o objetivo de manter a cultura livre de moléstias, para assim, manter altos tetos produtivos.

A eficiência no manejo da doenças está na escolha correta do fungicidas, nas condições ambientais no momento da aplicação, no time de aplicação (evitar entrada tardias) e na utilização da dose recomendada, ou seja evitar aplicação de sub-dose  quando a pressão da doenças é pequena. Vale lembrar também, que não existe calendarização de aplicação nas lavouras. A tomada de decisão deve ser pautada em cima do monitoramento e acompanhamento da lavoura e da evolução do doença.



Autores: Diogo Moraes Verzegnazzi e Lucas de Mattos, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.

Referências

AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO, A. Manual de fitopatologia: Princípios e Conceitos. 5. Ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2018. v.1 573 p.

ELEVAGRO. Fungicidas sistêmicos: benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas. Disponível em: <https://elevagro.com/materiais-didaticos/fungicidas-sistemicos-benzimidazois-triazois-e-estrobilurinas/>, acesso em: 07/01/2023

GEA-ESALQ. Triazóis. Informativo GEA. Disponível em: <https://www.gea-esalq.com/informativo-gea-triazois>, acesso em: 07/01/2023.



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