Nos contatos que mantemos todos os dias com o mercado percebemos que, com praticamente zero disponibilidade de safra velha à disposição dos moinhos, a não ser o que tem em estoque, o mercado está ansioso pelos lotes de safra nova. Ocorre que a colheita, que deveria começar em 17 de agosto no Paraná, atrasou duas semanas por chuvas. Isto aumentou a ansiedade. Houve quem procurasse trigo em Minas Gerais, onde a colheita está quase encerrada, mas não houve negócio devido aos altos preços.
Em São Paulo, o preço já subiu de R$ 1.100,00 para R$ 1.200,00 e as pedidas no Paraná também estão no mínimo no mesmo nível para os primeiros lotes de setembro. Em nossa opinião os preços do trigo em setembro não deverão ser menores do que R$ 1.200,00 no PR, devendo subir mais, dependendo da disputa entre os compradores e dos relatórios sobre a quantidade e a qualidade da próxima safra no estado e no Paraguai (que também influencia os preços no Oeste do estado).
Fatores de alta
- Atraso na colheita
- Quebra no Brasil, Argentina, Paraguai
- Dólar alto
Fatores de baixa
- Início da colheita
- Forte aumento da safra na Austrália, com repercussões sobre a Argentina
- Preços elevados das farinhas espantam os consumidores finais de massas e biscoitos
RIO GRANDE DO SUL: Geadas atingiram 50% do trigo espigado nas Missões e reduz previsão de produção para 2,0 MT
O relatório apresentado pelos representantes do RS na reunião da Câmara Setorial Nacional de Trigo registrou que houve danos sérios em 50% das lavouras da região das Missões, corroborado também pela Biotrigo, que acrescenta que haverá impacto também na produção de semente. O potencial produtivo, que era de 2,7 milhões de toneladas, agora está sendo estimado em pouco mais de 2,0 MT.
O grande medo de todos serão os efeitos sobre a qualidade dos trigos; estima-se inicialmente perdas entre 30% e 40% nas regiões atingidas. Será necessário um grande esforço extra para a segregação dos vários tipos que forem produzidos nesta safra.
Nesta semana houve negócios de dois lotes de trigo, totalizando 4.500 toneladas, um de trigo pão a R$ 1.260,00 FOB e outro de trigo branqueador a R$ 1.320,00/t, mas o mercado está retraído. Vendedor de trigo pão está pedindo, agora, em princípio, R$ 1.300,00 FOB.
SANTA CATARINA: Geadas não causaram danos e o estado deverá produzir algo ao redor de 300 mil toneladas
O relatório apresentado pelo representante do Sindicato dos Moinhos de Trigo de SC na webinar da Câmara Setorial Nacional de Trigo, na última quarta-feira, registrou que as lavouras de trigo de Santa Catarina não foram afetadas pelas geadas porque ainda não estavam em fases susceptíveis a elas. A expectativa de produção para a safra 2020/21 é de 300 mil toneladas, na hipótese mais otimista.
PARANÁ: Mercado aguarda resultado dos danos das geadas e se preocupa com a qualidade do que restou
Todos os contatos registram mercado paralisado. A Biotrigo registra que houve impacto de 100% na região de Cascavel, devendo atingir a produção de semente. Com isto, os vendedores querem primeiro dimensionar a nova situação da oferta para determinar o novo nível de preços a pedir. Há algumas ofertas tímidas a R$ 1.200,00 para trigo novo em setembro, contra R$ 1.100,00 até antes das geadas.
Como dissemos acima, há mais demanda do que oferta e isto deverá impactar no preço dos próximos lotes colhidos. Soubemos de dois moinhos que já receberam trigo de safra nova e registraram excelente qualidade. Mas, com as chuvas, a queixa maior é a queda do FN, para níveis próximos a 180, o que é muito baixo. O Deral-PR já divulgou sua nova previsão do potencial produtivo, reduzindo-o de 3,74 MT para 3,44 MT. Esta queda de 300 mil toneladas na produção será o mal menor: a preocupação é com a qualidade do trigo que restou nas lavouras.
MINAS GERAIS: Com queda dos preços negócios se retraíram e com geadas vendedores aguardam para vender o restante
A maior parte do trigo de safra nova 2020/21 colhido em Minas Gerais foi comercializada a R$ 1.100,00/t FOB. Com o avanço da colheita, este preço caiu para R$ 1.060,00 (que ainda vigora), mas, os vendedores estão retraídos, esperando para ver as conseqüências das geadas no PR e no RS, na expectativa de que o preço volte a subir.
Dos quatro moinhos do estado, três já fizeram bons estoques para os meses vindouros e um até saiu do mercado. Mas, a realidade é que os moinhos precisarão comprar quase 50% da sua capacidade fora do estado e isto deve pesar na abertura dos novos níveis de preço.
Fonte: T&F Agroeconômica