Em abril, os moinhos brasileiros se mostraram abastecidos, sem necessidade de novas aquisições no curto prazo. Além disso, as negociações dos derivados estavam relativamente lentas.
Vendedores de trigo, por sua vez, estavam pouco flexíveis quanto aos preços pedidos. Nesse cenário, as negociações seguiram lentas, com agentes se atentando às estimativas de aumento na oferta brasileira de trigo na safra deste ano.
Segundo a Conab, a área nacional de trigo deve aumentar 1,6% na safra 2021/22 em relação à anterior, e a produtividade, 0,6%, resultando em produção de 6,37 milhões de toneladas, 2,2% maior que a da temporada passada.
A Conab também prevê queda de 3% nas importações, para 6,4 milhões de toneladas entre ago/21 e jul/22. Considerando-se o estoque inicial (em ago/21), a produção de 2021 e as importações, a disponibilidade interna está prevista em 13,33 milhões de toneladas, 2,1% acima da estimada para o período entre ago/20 e jul/21. Esse volume deve atender a uma demanda doméstica de 11,8 milhões de toneladas, 1,8% maior que a do período anterior.
As exportações estimadas pela Conab são de 600 mil toneladas, 33% menores que os embarques previstos para o intervalo entre ago/20 e jul/21. Com isso, o estoque final, em jul/22, deve ser de 930,2 mil toneladas, 65,2% maior que o previsto para jul/21. De acordo com a Seab/Deral, a área destinada ao trigo no Paraná deve crescer 3% neste ano frente à safra anterior, para 1,16 milhão de hectares. Espera-se que a produtividade média seja 17,4% maior que a registrada em 2020, o que contribuiria para que a produção aumentasse 21,7%, para 3,8 milhões de toneladas.
No Rio Grande do Sul, produtores estavam adquirindo insumos e sementes em abril. Ressalta-se que o alto custo dos insumos deixa produtores em alerta, mas estes acreditam que o elevado preço do trigo ainda compensa uma expansão de área. Em algumas regiões sul-rio-grandenses, agricultores realizaram a correção do solo em abril, antes do início da safra de inverno.
PREÇOS E MERCADO NO BRASIL – As vendas de trigo no mercado interno seguiram lentas em abril. Além dos altos preços do cereal, muitos moinhos sinalizavam ter estoques. Por outro lado, colaboradores do Cepea relataram que, com a baixa oferta, as unidades do Paraná que precisavam comprar novos lotes tiveram de importar o cereal, principalmente do Paraguai.
Em abril, o preço médio do trigo no mercado disponível do Rio Grande do Sul foi de R$ 1.496,13/tonelada, avanços de 2,9% frente ao de mar/21 e de expressivos 47,1% em relação a abr/20. Trata-se, também, de média mensal recorde em termos nominais, considerando-se toda a série histórica do Cepea, iniciada em 2004. Já em termos reais, a média de abril é a maior desde novembro de 2020 (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de mar/21).
No Paraná, a média de abril foi de R$ 1.605,64/t, altas de 5,5% em um mês e de 36,7% em um ano e um recorde nominal – em termos reais, esta é a maior média desde maio de 2020. Em Santa Catarina, o preço médio do trigo em abril foi de R$ 1.544,17/t, aumentos de 1,1% no mês e de 47,6% em um ano. Em São Paulo, a média foi de R$ 1.615,12/t, elevações de 3,5% frente à de mar/21 e de 35,1% na comparação com a de abr/20. Ambas as médias também são recordes nominais.
IMPORTAÇÕES – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 20 dias úteis de abril, foram importadas 467,75 mil toneladas de trigo, contra 748,11 mil toneladas em abr/20. Em relação ao preço de importação, a média de abr/21 foi de US$ 269,2/t FOB origem, 25,46% acima da registrada no mesmo mês de 2020 (de US$ 214,5/t).
CULTIVO NOS EUA E ARGENTINA – Na Argentina, a Bolsa de Cereales informou que a semeadura da safra 2021/22 de trigo, programada para começar em maio, deve atingir 6,5 milhões de hectares, elevação de 6,6% frente à média dos últimos cinco anos. Relatório do USDA indicou que, até a semana do dia 25 de abril, 49% das lavouras de trigo de inverno estavam em condições boas e excelentes, 4 pontos percentuais abaixo da semana anterior.
Em condições médias estavam 32% das lavouras, e 19%, entre ruins e muito ruins, leve piora em comparação com a semana anterior. Para o trigo de primavera, o cultivo somava 28% da área estimada, contra 13% em 2020 e acima da média de 19% dos últimos cinco anos, demonstrando um avanço acelerado.
PREÇOS EXTERNOS – Nos Estados Unidos, considerando-se as médias de março e de abril, o primeiro vencimento do contrato Maio/21 do Soft Red Winter na Bolsa de Chicago (CME Group) se valorizou 4,99%, a US$ 6,6783/bushel (US$ 245,39/t). Na Bolsa de Kansas, o contrato de mesmo vencimento do trigo Hard Winter avançou 4,64%, para US$ 6,2287/bushel (US$ 228,87/t).
OFERTA E DEMANDA MUNDIAIS – Dados divulgados em abril pelo USDA indicam que a produção mundial em 2020/21 deve diminuir 1,6% frente à safra 2019/20, somando 776,492 milhões de toneladas. No relatório, foram ajustadas negativamente as safras de União Europeia, Etiópia e Japão, mas positivamente a da Argentina. Quanto ao consumo, houve aumento de 4,6% entre 19/20 e 20/21, para 781,013 milhões de toneladas.
Destaca-se a elevação de cinco milhões de toneladas nas estimativas de consumo da China entre os relatórios de março e de abril, atingindo 150 milhões de toneladas. Os estoques mundiais devem cair 1,6% frente à safra passada, para 295,523 milhões de toneladas. Assim, a relação estoque/consumo permanece em queda, indo de 38,8% para 37,8%.
Em relação às exportações da safra 20/21, o USDA prevê expressiva redução de 22,8% nas vendas externas da Argentina frente ao volume da safra anterior, somando 10,5 milhões de toneladas. Na União Europeia, a queda nos embarques também foi notável, passando de 38,42 milhões para 27,5 milhões entre as safras 2019/20 e 2020/21.
DERIVADOS – No mercado de farinhas, apesar da baixa demanda, os preços apresentaram leve reação, devido ao maior custo da matéria-prima – alguns moinhos tentaram repassar a valorização do trigo aos derivados. Em relação ao farelo, os preços seguiram influenciados pela maior oferta de substitutos de ração, principalmente milho.
Colaboradores do Cepea ainda relataram que alguns moinhos operavam com capacidade reduzida em abril. Os preços das farinhas seguiram direções opostas em abril, com valorização de 2% para a de bolacha salgada, 1,3% para panificação, 0,84% para massas em geral, 0,7% para massa integral, 0,58% para massas frescas e 0,36% para pré-mistura. Já a farinha destinada à bolacha doce se desvalorizou 0,22%. Para os farelos, os preços de ambos recuaram, 5,4% para o produto ensacado e 4,9% para o a granel.
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Fonte: Cepea – Agromensais de Abril/2021