A ocorrência de tripes tem aumentado no Brasil, especialmente nos períodos com menor precipitação, o que acentua os danos da praga. Na cultura da soja já foram observadas mais de dez espécies, com destaque para Caliothrips brasiliensis e Caliothrips phaseoli, muito similares morfologicamente e conhecidas como “tripes-carijó”. A espécie Frankliniella schultzei, conhecida como “tripes-marrom”, também apresenta relevância na cultura.
Ciclo biológico
Os adultos medem 1,4 mm e apresentam cores escuras (preto, marrom ou cinza). As asas são membranosas e estreitas, com bordas franjadas, embora existam também espécies sem asas (ápteras). As ninfas/larvas medem 0,5 mm, possuem coloração branca ou amarelada e se abrigam na face inferior dos folíolos jovens. Ocorrem dois ínstares ninfais, seguidos de duas a três fases inativas (sem alimentação). A fase de pupa ocorre no solo, de onde emergem os adultos. A maioria das espécies de tripes reproduzem-se por via sexuada, embora algumas apresentem reprodução parcial ou totalmente partenogenética. Os ovos são depositados no interior dos tecidos jovens, dificultando sua detecção.
Figura 1. Ciclo biológico de Frankliniella schultzei e período crítico como praga (vermelho).
Sintomas e danos
Esses insetos raspam as folhas de soja com seu aparelho bucal composto por três estiletes, ingerindo o conteúdo celular extravasado e ocasionando o aparecimento de pequenas áreas de coloração prateada. Em ataques severos, observa-se branqueamento nas folhas e alterações na fisiologia da planta, como redução da atividade fotossintética, da estatura e da área foliar. Outro dano associado a essa praga é a transmissão persistente-propagativa de tospovírus, ocasionado a “queima-do-broto-da-soja”. Essa infecção danifica o broto apical e faz com que se curve para baixo, resultando em plantas atrofiadas e com brotamento excessivo. A espécie F. schultzei é a mais eficiente na transmissão de tospovírus e pode ocasionar perdas de até 100% na produção da soja.
O ataque por tripes também ocasiona maior perda de água pelas plantas de soja, agravando o estresse hídrico em períodos de estiagem. Nessas condições, o menor teor de água presente nas células leva os insetos a realizar um maior número de ataques em plantas diferentes, para suprir suas necessidades nutricionais. Por outro lado, períodos com precipitações volumosas levam à morte das formas juvenis do inseto e reduzem a capacidade de voo dos adultos, que dependem principalmente do vento para dispersar-se na lavoura.
Figura 2. Fase adulta de Caliothrips brasiliensis em folha de soja.
Embora possam ocorrer desde a fase vegetativa da soja, as populações de tripes aumentam significativamente após o florescimento da cultura. Geralmente, as infestações são detectadas primeiro em reboleiras resultantes de solos rasos, mais compactados e degradados, onde o menor teor de umidade acentua a expressão dos danos nas plantas. Portanto, o monitoramento deve ser mais rigoroso nesses locais, com amostragem de folíolos nas bordas das áreas.
Medidas de controle
A principal dificuldade no manejo de tripes em soja deve-se à sua capacidade de aumentar rapidamente a população, além de concentrar-se nos terços médio e inferior das plantas, dificultando o controle com aplicação de inseticidas. Apesar de não haver um nível de dano econômico estabelecido, estudos conduzidos na Argentina recomendam o controle quando a população atingir 20 indivíduos por folíolo da parte superior do dossel de plantas, em estágio reprodutivo. Densidades populacionais acima desse patamar podem resultar em perdas de 5 a 10 sacas de soja/ha.
Atualmente existem 26 inseticidas químicos registrados para o controle de tripes no Brasil, sendo a maioria deles formulados à base de acefato (organofosforado). Também há registros para clorfenapir (fenilpirazol), imidacloprido (neonicotinoide), dinotefuran + lambda-cialotrina (neonicotinoide + piretroide) e permetrina (piretroide). Outra medida preventiva importante é manter a soja livre de outras plantas hospedeiras de tripes. A planta espontânea cravorana (Ambrosia polystachya), por exemplo, atua como reservatório do tospovírus na natureza, devendo ser eliminada das lavouras ou áreas próximas.
Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
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