Este ano, a cotonicultura brasileira celebra dez anos de uma grande conquista, o benchmark com a Better Cotton Initiative (BCI), entidade presente em 26 países e que é sinônimo de licenciamento de fibra produzida em padrões responsáveis. Somos hoje a origem de 42% de todo o algodão chancelado por esta instituição, em todo o mundo. O volume, contudo, diz muito menos sobre o que significa essa parceria com uma renomada instituição internacional do que o fato de que, no Brasil, coube a nós, Abrapa, sermos o parceiro oficial de implementação do programa da BCI, junto aos produtores. Isso foi possível graças ao nosso programa de certificação das fazendas, o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), reconhecido, primeiro por esta instituição e, cada vez mais, pelos diferentes órgãos do governo, por agentes financeiros e pelo mercado como o compromisso do cotonicultor brasileiro com a sustentabilidade.
A complexidade e seriedade do nosso programa é tal, que um produtor que tenha se habilitado a conseguir a certificação ABR, terá como certo licenciamento da BCI, se assim for a sua vontade. Isso se explica pelo fato de que o ABR é respaldado nas legislações Ambiental e Trabalhistas do Brasil, de onde derivam os 183 itens constantes no seu checklist. A BCI, por sua vez, requer 51 itens, já englobados nas exigências nacionais. Ambos os programas têm Critérios Mínimos de Produção obrigatórios, que eliminam, de saída, quem não os cumpra.
O Brasil abraçou a sustentabilidade desde que retomou a produção brasileira de algodão, em novos moldes e nova localização, na região centro-oeste. Sem isso, produzir a fibra no cerrado jamais deixaria o plano das ideias para se tornar realidade. O algodão brasileiro é um caso de sucesso porque, com estratégias sustentáveis, conseguimos reescrever a nossa própria história, deixando de ser o segundo maior importador mundial do produto para nos tornarmos o segundo maior exportador, entre todos os países produtores.
De origem desacreditada, há pouco mais de 20 anos, hoje temos o algodão que os consumidores e o mundo querem e precisam: com volume, qualidade e sustentabilidade. Elegemos a esta última como compromisso. Feito o dever de casa, juntamos outras das nossas competências, a rastreabilidade, para desenvolver um projeto inovador, o SouABR, pelo qual se pode resgatar todo o caminho sustentável que o algodão percorreu, desde a semente até o guarda-roupa. Fizemos as primeiras experiências, com extremo sucesso no Brasil, junto com as varejistas Reserva e Renner. Em breve, passos ainda mais largos serão empreendidos.
No ano em que comemoramos dez anos de benchmark com a BCI, nossa aliança fica ainda mais forte. No final de fevereiro e início de março, estaremos juntos num workshop, aqui no Brasil, debatendo melhores práticas em proteção de cultivos, com o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Trocando experiências e olhando para o horizonte. E quando se trata de sustentabilidade, horizonte é algo ainda mais largo e está sempre mais adiante.
Por: Alexandre Pedro Schenkel, disponível no portal da ABRAPA