A formulação de um produto é constituída do seu ingrediente ativo (i.a) mais os inertes (solventes, surfactantes, molhantes, etc) descritos na bula como outros ingredientes. As formulações WG (grânulos dispersíveis) e WP (pó molhável) são comuns para fungicidas com i.a. insolúveis em água. Alguns produtos a base de mancozebe são exemplos bastante utilizados atualmente em lavouras.
Por vezes são relatadas dificuldades de uso dessas formulações sólidas por parte dos produtores, porém discutiremos aqui alguns cuidados que devem ser tomados para minimizar os problemas com a aplicação e com o equipamento de pulverização.
- Ajuste o volume de calda
Em aplicações terrestres com pulverizadores e pontas convencionais, volumes de calda muito pequenos podem dificultar a aplicação de produtos WP e WG. Considerando uma mesma pressão de trabalho e velocidade de deslocamento, a redução no volume de calda pode implicar na necessidade de redução do tamanho de gotas (Figura 1). Gotas muito pequenas com produtos WG ou WP tendem a se tornar demasiadamente concentradas (Figura 2), especialmente quando esses produtos são usados em altas doses por hectare.
A água é o veículo de aplicação, quanto menos água, mais concentrado e maior os riscos com entupimento de bicos e desgaste de equipamento. Acredita-se que um mínimo de 80 L/ha seja necessário para se trabalhar com produtos WG e WP em pulverizações terrestres. Em aplicações com aeronaves, esses volumes são bem menores, mas na grande parte das vezes são utilizados outros tipos de bicos para aplicação como os atomizadores, que reduz o problema de entupimento.
Figura 1. Pontas de Jato Plano de Deriva Reduzida (DG Teejet). Fonte: Teejet
Figura 2. Esquema ilustrando a mudança na concentração da calda em função da redução do volume de calda. *Elaborado pelo autor
- Defina a ordem de colocação dos produtos no tanque
É comum os produtores utilizarem mais de uma classe de produto em suas aplicações. Quando houver essa necessidade de realizar misturas em tanque, a ordem de colocação passa a ser um fator importante a ser cuidado. Os primeiros a serem adicionados devem ser aqueles com maior dificuldade de mistura, ou seja, os de formulação sólida (grânulos dispersíveis, pó solúvel e pó molhável). Após a mistura desses e obtenção de uma calda homogênea, adiciona-se os demais produtos e adjuvantes líquidos.
Sugestão de ordem de colocação dos produtos no tanque (Epagro, 2020):
- Grânulos dispersíveis em água (WG)
- Pó solúvel em água (SP)
- Pó molhável (WP)
- Suspensão concentrada (SC)
- Emulsão óleo em água (EW)
- Emulsão de água em óleo (EO)
- Concentrado para Emulsão (EC)
- Solução concentrada (SL)
- Adjuvantes (molhantes, óleos, etc.)
Segundo a Portaria Nº 148, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2017, as misturas em tanques podem ser prescritas em receituário agronômico com responsabilidade do técnico. Por isso, é importante que cada caso seja analisado e que sejam seguidas recomendações em bulas, para se evitar problemas de incompatibilidades. Além disso, é altamente recomendável que seja preparada uma pré-mistura teste para avaliação da compatibilidade entre os produtos.
- Prepare a calda momentos antes da aplicação
Na formulação em grânulos dispersíveis e pó molhável o produto fica apenas disperso na água, formando a solução de aplicação. A agitação da solução é fundamental para manter a homogeneidade da dispersão dos grânulos. Na ausência de agitação, ao deixar a solução parada, rapidamente os grânulos começam a decantar, se depositando no fundo do tanque. Dessa forma, é fundamental que a calda seja preparada momentos antes da aplicação e o agitador seja mantido sempre ligado na capacidade máxima.
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Fonte: kimica.pro.br
- Agitação máxima do tanque
A agitação deve ser mantida no máximo e de forma ininterrupta desde o momento de início da colocação dos produtos até o término da pulverização. A capacidade de agitação muda entre os pulverizadores, sendo que, quanto maior a capacidade de agitação, mais favorável para aplicar produtos sólidos. A calda nunca deve ser mantida em repouso dentro do pulverizador.
- Tenha paciência na hora de jogar os produtos no tanque
Os produtos WG e WP devem ser colocados aos poucos no tanque, para que a água vá incorporando devagar e dispersando o produto. Se o operador jogar rapidamente tudo de uma vez só, não dá tempo de a dispersão ocorrer, favorecendo para formação de aglomerados (“bolas”) do produto não molhadas ou dispersas. Essas bolas podem decantar posteriormente e causar problemas na bomba, desgastes e entupimentos.
- Não encha completamente o tanque
Com menos água a agitação do tanque se torna mais eficiente. Preencher 2/3 da capacidade do tanque e adicionar a dose necessária dos produtos pode ajudar na homogeneização da calda. Posterior a isso, completa-se o tanque.
- O uso de pré-misturas é uma prática eficiente
As pré-misturas podem ser feitas de forma caseira ou utilizando pré-misturadores industriais. A maneira caseira é diluir os produtos sólidos em baldes com água e posterior, adicionar a pré-mistura no tanque. A forma caseira é uma prática onerosa e tem alto risco de contaminação do operador no momento de agitar a calda. As grandes vantagens da pré-mistura são obtidas com o uso de pré-misturadores industriais. Eles auxiliam na distribuição e homogeneização da calda, especialmente para produtos sólidos. Além disso, é possível obter maior autonomia e rapidez no preparo da calda, ganhando tempo para aproveitar as condições de aplicação e janelas apertadas.
Figura 3. Esquema ilustrativo de um pré-misturador rebocável com incorporador para colocação dos produtos. Fonte: Solomaq
Figura 5. Exemplo de pré-misturador utilizado na Agropecuária Santa Maria, em Júlio de Castilhos-RS.
8- Tensoativos podem ajudar na mistura
O uso de adjuvantes pode melhorar a dispersão de produtos insolúveis em água. Tais adjuvantes são compostos por surfactantes e variam confirme o tipo de tensoativo utilizado (Decaro, 2019). Segundo Decaro (2019), um exemplo clássico de surfactante utilizado no nosso dia-a-dia é o detergente de cozinha, que consegue misturar a água com a gordura, devido à presença dos tensoativos que são moléculas capazes de interagir tanto com água quanto com óleos. Outra função dos surfactantes/tensoativos é reduzir a tensão superficial da calda. A tensão superficial funciona como uma fina película ou uma fina membrana elástica na superfície da água que pode dificultar a molhabilidade dos produtos WG e WP. A quebra da tensão superficial pelos tensoativos pode ajudar no preparo da calda.
Figura. Tensão superficial da água devido especialmente as forças das ligações hidrogênio. Fonte: Fogaça, JRV (2020)
- Não deixe calda dosada no tanque
Para os casos de necessidade de o aplicador interromper a aplicação devido a problema na máquina, chuva ou outro motivo, recomenda-se que a calda seja transferida do pulverizador para um tanque ou reservatório auxiliar. Se a calda ficar dosada no pulverizador irá haver a decantação dos sólidos e acúmulo no fundo do tanque, dificultando a homogeneização posterior. Nesse caso, é comum haver problemas com a bomba do pulverizador.
10 – Lave seu pulverizador após término da aplicação
Sabidamente não é uma prática comum por parte das fazendas. No entanto, para retirar resíduos dos produtos da bomba, das mangueiras, bicos e peneiras, seria muito importante a limpeza do pulverizador fazendo circular água por todo o sistema.
Sobre o Autor: Leandro N. Marques, Eng. Agrônomo formado na UFSM. Mestrado e Doutorado em Agronomia, na área da fitopatologia (UFSM). Atualmente é professor de fitopatologia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).