A valorização do dólar frente ao Real estimulou as negociações de soja nos portos brasileiros em novembro. A comercialização só não foi maior devido ao baixo excedente interno e à retração de parte de produtores em negociar grandes lotes. Esse cenário somado à maior demanda interna e à alta nos prêmios de exportação elevaram os valores dos produtos do complexo soja no Brasil em novembro.
Assim, em novembro, as médias dos Indicadores ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá e CEPEA/ESALQ Paraná foram de R$ 89,87/sc de 60 kg e R$ 84,28/sc de 60 kg, respectivamente, as maiores desde outubro/18, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de out/19).
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os avanços foram de 1,6% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e de 2,2% no de lotes (negociações entre empresas), também entre outubro e novembro. O dólar, por sua vez, teve média de R$ 4,158 em novembro, o maior desde o início do Plano Real e com valorizações mensal de 1,8% e anual de 9,8%.
Campo
O clima favoreceu o semeio de soja no final de novembro, tranquilizando agentes de mercado – e, inclusive, limitando o movimento de alta nos preços. As chuvas generalizadas favoreceram o avanço do semeio da soja em muitas regiões e a finalização das atividades em Mato Grosso e no Paraná.
Os estados que registraram estiagem mais intensa no início do cultivo – como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranhão – também registraram chuvas na segunda quinzena de novembro. Produtores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina já estavam em fase final do semeio até o encerramento do mês e, agora, aguardam produtividade elevada nesta safra.
O início tardio do cultivo da oleaginosa, no entanto, deve atrasar um pouco a colheita e, consequentemente, o semeio da segunda safra, especialmente no caso do milho. Fundamentados nesse possível atraso da entrada da safra 2019/20, sojicultores estiveram retraídos nas vendas, à espera da continuidade das altas, até pelo menos o primeiro trimestre de 2020.
Internacional
A queda nos valores externos também limitou a elevação dos preços domésticos. Vendedores norte-americanos ainda tinham lotes de soja da temporada 2018/19 e estavam com os estoques cheios da safra 2019/20, tendo em vista que a colheita seguia para a fase final. Esse cenário e a prolongação do acordo comercial com a China pesaram sobre os futuros negociados na CME Group em novembro. Além disso, a valorização do dólar no mercado internacional torna o produto norte-americano mais caro aos importadores.
Na Bolsa de Chicago, o contrato de primeiro vencimento da soja caiu 2% entre outubro e novembro, com média de US$ 9,0616/bushel (US$ 19,98/sc de 60 kg). Para o farelo, a queda foi de 1,1%, a US$ 303,97/lp (US$ 306,27). O contrato de primeiro vencimento do óleo de soja, por sua vez, se desvalorizou 2,5%, a US$ 0,3096/tonelada curta (US$ 682,59/t) em novembro – a valorização do óleo se deve à maior demanda e à baixa oferta de óleo de palma, principal concorrente do subproduto da soja.
Derivados
O movimento de alta nos valores do óleo de soja tem sido verificado desde agosto deste ano, quando notícias começaram a indicar aumento na quantidade mínima obrigatória da mistura de biodiesel ao óleo diesel – que passou de 10% (B10) para 11% (B11) em 1º de setembro de 2019. Desde então, a liquidez de óleo de soja no Brasil cresceu significativamente, dado que esse produto corresponde a 70% das matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel.
O preço do óleo de soja teve média de R$ 3.454,57/tonelada em novembro, 5% acima da registrada em outubro e expressivos 16,2% superior à média de novembro/19 – esta é a maior média mensal desde dezembro de 2016, em termos reais – as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP–DI de outubro/19. Vale ressaltar que, em termos nominais, este é o maior valor da série histórica do Cepea, iniciada em jul/98.
A demanda doméstica por farelo de soja esteve mais aquecida em novembro, especialmente pelos setores de aves e suínos. Por outro lado, representantes de indústrias reduziram os lotes ofertados, contexto que elevou os preços. Muitos consumidores que indicavam não ter dificuldade na aquisição do cereal em outubro, passaram, em novembro, a tentar garantir maiores lotes para consumir até janeiro/20, com receio de valorizações ainda mais intensas. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja subiram 3,2% entre outubro e novembro.
Fonte: Cepea/Esalq