Beauveria bassiana é um fungo que possui capacidade de infeccionar e se desenvolver utilizando hospedeiros como lagartas, percevejos e larva-alfinete. Sobrevive nas pragas através da germinação dos esporos e liberação de conídios, os quais são estruturas de dispersão do fungo.

O controle com organismos biológicos está ganhando espaço no mercado. O setor de biológicos movimentou 64,5 milhões de reais em produtos no Brasil de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico. Estes produtos incluem os microbiológicos como bactérias, fungos, vírus, parasitoides e predadores.

Rogério Vian (engenheiro agrônomo), relatou que os custos reduziram 40% quando adotou o controle biológico. O prejuízo de 48 sacas.ha-1 com defensivos diminuiu para 29 (José Florentino, 2020).

Neste texto vamos conhecer os benefícios de utilizar do Manejo Integrado de Pragas (MIP), incluindo o controle biológico, bem como suas vantagens e o melhor manejo do produto.

Figura 1. Controle com Beauveria bassiana.

Foto: Agrivalle.

Quais são os principais entraves na utilização do fungo?

  • Altamente dependente de condições ambientais;
  • Temperaturas ideias de 23-28°C, temperaturas fora dessa faixa podem paralisar o crescimento do entomopatógeno;
  • Umidade é um fator imprescindível para germinação dos esporos;
  • Dificuldade para obtermos formulações de qualidade;
  • O tempo para causar mortalidade total é mais lento quando comparamos com inseticidas químicos;
  • Existem isolados de fungos que apresentam maior virulência e precisamos conhecer este fator;
  • Poucos produtos registrados;
  • Identificarmos a melhor concentração de conídios para causar mortalidade total.
  1. Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea)

Na cultura do milho, uma das principais pragas é a Helicoverpa zea. Para controle da lagarta, não há registro de produtos químicos, pois ela se aloja dentro da espiga, onde o inseticida não é capaz de atingir.

O uso de biológicos é uma das formas utilizadas para seu manejo, principalmente com utilização de Beauveria bassiana.

Para liberação do fungo, é preciso conhecer as concentrações de conídios a serem dispersados na lavoura. Zambiazzi et al. (2016) em sua pesquisa “Patogenicidade de Beauveria bassiana no controle in vitro da lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea)”, estudaram as concentrações ideais para controle da praga.



Como visualizamos na Figura 2, concentrações de 1 x 108 conídios.mL-1 (concentrações maiores), em 4 dias, causaram mortalidade de 100% das lagartas.

Figura 2. Concentrações de B. bassiana para causar mortalidade em Helicoverpa zea. 

Fonte: Zambiazzi et al. (2016).

Nota-se a importância de estarmos monitorando a lavoura de milho, pois após as aplicações, necessita-se de 4 dias para causar supressão na população das lagartas.

2. Lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar (Spodoptera frugiperda)

Para Spodoptera frugiperda, a principal lagarta do milho e com grande capacidade de causar severidade na soja, também pode-se utilizar de B. bassiana. Em estudos de Negrini (2019), houve mortalidade de quase 90% das lagartas com aplicação do fungo.

Na Figura 3, notamos que concentrações de 107 conídios.mL-1 é eficiente no manejo de S. frugiperda. Concentrações menores reduzem a taxa de eficiência do fungo. Nota-se que concentrações maiores causam quase 100% de mortalidade (Figura 3).

No mesmo trabalho, comparou-se aplicações com Diamidas e obteve resultados semelhantes com o controle biológico com B. bassiana.

Figura 3. Simulação de diferentes concentrações de B. bassiana.

Fonte: Negrini (2019).

3. Percevejo-marrom (Euschistus heros).

Em estudos com o percevejo-marrom, há respostas com grande eficiência de controle. Entretanto, as concentrações suficientes de conídios determinarão o nível de controle.

Dalla Nora (2019), concluiu que após 15 dias da inoculação de 1 x 109 conídios.mL-1, ocorreu grande resposta de mortalidade, como notamos na Figura 4. Nesta imagem, notamos a importância da escolha dos isolados de fungos: UFSM – 1 (A e B), UFSM – 2 (C e D), UFSM – 26 (E e F) e Unioeste 97 (G e H).

Figura 4. Mortalidade com utilização de diferentes linhagens.

Fonte: Dalla Nora (2019).

Oliveira (2017), em sua pesquisa relacionada à virulência de B. bassiana para controle do percevejo-marrom, concluiu que o manejo de ninfas é altamente eficiente com a utilização do fungo, como notamos na Tabela 1.

B. bassiana na maior dosagem de 4000 g.ha-1 e concentração de 1,0×108, apresentou os melhores resultados no período de 10 dias de avaliação.

Tabela 1. Mortalidade (%) de ninfas e adultos de Euschistus heros.

Adaptado: Oliveira (2017).

4. Percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus)

Em outro trabalho de Pellin (2017), para o percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus), há efeito inseticida em todas as fases da vida da praga, obtendo mortalidade total em menos de 5 dias.

Tabela 2. Mortalidade (%) de ovos, ninfas e adultos de Dichelops melacanthus

Adaptado: Pellin (2017).

Considerações finais

O controle alternativo como o uso de biológicos é uma das premissas do Manejo Integrado de Pragas e está crescendo anualmente no setor de defensivos.

A eficiência deste produto depende de alguns fatores, como a concentração de conídios. Essa característica definirá o potencial de germinação dos fungos e infecção nas pragas. É imprescindível que haja conídios suficientes, caso contrário a eficiência é comprometida.

As condições ambientais no momento de aplicação também afetam a qualidade do produto. Precisa-se haver temperaturas elevadas (até 28°C) e alta umidade relativa do ar para ocorrer germinação dos fungos.

Por fim, o nível de controle depende da espécie de praga que estamos tratando, podendo ocorrer maior ou menor eficiência. Como vimos nos trabalhos anteriores, o percevejo barriga-verde apresenta elevada suscetibilidade com controle de B. bassiana, bem como a lagarta-da-espiga.

O controle de biológicos é uma estratégia complementar, sendo altamente recomendado devido suas vantagens, como menor deposição de resíduos, mortalidade eficiente e preserva os inimigos naturais na lavoura.


Veja também: Você conhece as vantagens de utilizar Baculovírus?


Referências

DALLA NORA, Daiane. Isolamento e seleção de fungos para o controle do percevejo-marrom. Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Dissertação de Mestrado, 2019. Disponível em: acesso em: <https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/19613/DIS_PPGCS_2019_DALLA_NORA_DAIANE.pdf?sequence=1&isAllowed=y>, 05/11/2020.

FLORENTINO, José. Soja: produtor diminui custo com agrotóxicos em 40% usando biológicos. Canal Rural, 2020. Disponível em: <https://www.canalrural.com.br/projeto-soja-brasil/noticia/soja-custo-agrotoxicos-biologicos/> acesso em: 05/11/2020.

NEGRINI, Marcelo. Dinâmica populacional e manejo de pragas nas culturas de arroz, milho e soja no cerrado de Roraima. Universidade Federal de Roraima, Programa de Pós-graduação em Biodiversidade, Tese de Doutorado, 2019. Disponível em: <http://repositorio.ufrr.br:8080/jspui/bitstream/prefix/207/1/Din%C3%A2mica%20populacional%20e%20manejo%20de%20pragas%20nas%20culturas%20de%20arroz%2C%20milho%20e%20soja%20no%20cerrado%20de%20Roraima.pdf> acesso em: 05/11/2020.

OLIVEIRA, Darlin Henrique Ramos de. Patogenicidade e virulência de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae a Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae). Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Trabalho de Conclusão de Curso II. 2017. Disponível em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/16049/1/DV_COAGR_2017_1_02.pdf>, acesso em: 05/11/2020.

PELLIN, Mauricio Luis. Efeito de bioinseticidas à base de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae sobre Dichelops melacanthus (Hemiptera: Pentatomidae). Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Trabalho de Conclusão de Curso, 2017. Disponível em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/16398/1/DV_AGR_2017_2_06.pdf> , acesso em: 05/11/2020.

ZAMBIAZZI, E. V. et al. Patogenicidade de Beauveria bassiana no controle in vitro da lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea). Revista de Ciências Agrárias, v. 39, n. 1, p. 89-94, 2016.

 

 

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