A cultura do trigo (Triticum aestivum) é uma das culturas mais utilizadas pelos produtores durante o período do inverno no Sul do Brasil e especificamente no estado do Rio Grande do Sul, cultivado durante o período de outono/inverno, períodos estes que se caracteriza por apresentar uma maior variabilidade climática, como excesso de umidade e ampla variação de temperatura.

Na safra 2022, a produção brasileira de trigo foi de 10,55 milhões de toneladas, em uma área cultivada de 3,86 milhões de hectares, com previsão do início do processo de semeadura da cultura na safra 2023 durante o mês de Abril (CONAB, 2023).

Entre a colheita da safra de verão e a semeadura da cultura do trigo é de grande importância evitar vazio outonal com o cultivo de alguma espécie de cobertura de solo como forma de ciclagem de nutrientes liberados pela decomposição da palhada da cultura de verão. O vazio outonal se caracteriza pela não utilização das áreas agrícolas na pré semeadura do trigo devido a inexistências de plantas com alto interesse comercial no período, por vez, a prática irá favorecer a redução microbiota do solo e além de intensificar o desenvolvimento de plantas daninhas.

Neste período pós colheita da soja e semeadura do trigo, é de grande interesse trabalhar com plantas de cobertura na pré-semeadura da cultura do trigo. Esta prática além de manter o solo coberto, irá contribuir para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas e principalmente possibilitar a ciclagem e disponibilização de nutrientes para a cultura sucessora.

Para a escolha das plantas de cobertura é necessário analisar as características e necessidades da área a ser semeada, procurando evitar trabalhar com culturas que possam vir a ser hospedeiras de pragas e doenças que sejam problemas na área, o que pode resultar em um aumento do potencial de inóculo, sendo problema para a cultura sucessora de interesse.

 Priorizar na escolha, culturas com rápido estabelecimento, grande produção de biomassa, bom sistema radicular, grande potencial de ciclagem de nutrientes e principalmente trabalhar com sementes acessíveis, de qualidade e procedência.

Culturas como Nabo, Capim Sudão, Trigo Mourisco, Milheto e os Mix de plantas de cobertura têm sido alternativas muito utilizadas pelos produtores.

A cultura do Nabo Forrageiro (Raphanus sativus), possui palhada com baixa relação C:N, resultando em uma rápida decomposição, liberação e disponibilização dos nutrientes. Este, após a decomposição de sua palhada, fornece ao solo em média 63,5 kg/ha de nitrogênio(N), 4,5 kg/ha de fósforo (P), 78,5 kg/ha de potássio (K) e 35,5 kg/ha de cálcio (Ca) (CHERUBIN et al., 2022, p.107).

Por sua vez, a cultura do Capim – Sudão (Sorghum sudanense), também conhecida como Aveia de Verão, possui maior relação C:N, mantendo o solo protegido por sua palhada por mais tempo em comparação com Nabo. Este, possui sistema radicular profundo e após a decomposição de sua palhada, disponibiliza ao solo em média 90 kg/ha de N, 20 kg/ha de P, 260 kg/ha de K, 50 kg/ha de Ca e 20 kg/ha de Mg ao solo (CHERUBIN et al., 2022, p.27).

O Trigo Mourisco (Fagopyrum esculentum), possui boa relação C:N, juntamente com alta capacidade de ciclar fósforo e potássio das camadas subsuperficiais. Após a decomposição de sua palhada, fornece ao solo até 46 kg/ha de N, 11 kg/ha de P, 88 kg/ha de K, 29 kg/ha de Ca e 13 kg/ha de Mg em 4,5 t/ha de MS (CHERUBIN et al., 2022, p.78).

A cultura do Milheto (Pennisetum glaucum), possui sistema radicular agressivo, com grande capacidade de produção de biomassa. Este, após a decomposição de sua palhada, disponibiliza para o solo em média 113 kg/ha de N, 13,9 kg/ha de P, 93 kg/ha de K, 32 kg/ha de Ca e 16 kg/ha de Mg (CHERUBIN et al., 2022, p. 56).

Por outro lado, os Mix de plantas de cobertura possibilitam o consórcio de espécies como gramíneas, crucíferas e/ou leguminosas. Tendo na área uma maior interação entre raízes e quanto a ciclagem e disponibilização de nutrientes irá depender de quais cultura estão sendo trabalhados no Mix.

Quando se pensa em aportar mais nitrogênio para o trigo cultivado em sucessão, cultura essa muito responsiva a esse nutriente, a utilização do nabo forrageiro é uma excelente estratégia como forma de reduzir a aplicação mineral de N no trigo.

A partir disso, pode se constatar que é de extrema importância a utilização de plantas de cobertura durante o vazio outonal. Isso mantem o solo coberto durante o período, facilitando o manejo de plantas daninhas, além da ciclagem e disponibilização para o trigo, além da prática, influenciar positivamente também nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo.

Por: Alfredo Henrique Suptiz e Caetano Rocha, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONAB – Boletim de grãos. 6º Levantamento – Safra 2022/23. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acesso em: 23 mar. 2023.

CHERUBIN et al. – Guia Prático de Plantas de Cobertura. Aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf. Acesso em: 26 mar. 2023.

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