Desde a implantação até a colheita, a cultura da soja pode sofrer ataques de diversas pragas. O conhecimento do impacto dos insetos na lavoura é essencial para que as ações preventivas e as técnicas de manejo sejam implementadas adequadamente. O monitoramento e reconhecimento das principais pragas, associados às ferramentas disponíveis para manejo integrado de insetos são aspectos fundamentais para a proteção da lavoura.
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Os ácaros, considerados anteriormente como pragas secundárias na cultura da soja, vêm ganhando importância nos últimos anos devido a sua maior distribuição e intensidade dos seus ataques. Existem algumas regiões e épocas em que a praga pode exigir medidas de controle, merecendo por isso atenção do agricultor no monitoramento da sua lavoura.
Atualmente são conhecidas seis espécies de ácaros associadas à soja no Brasil com potencial de causar dano, sendo o ácaro-verde e o ácaro-rajado os mais comuns. Os demais ácaros-praga são o ácaro vermelho e o ácaro-branco. Associados aos ácaros-praga, comumente ocorrem agentes de controle biológico como os ácaros predadores (ácaros benéficos) e doenças como o fungo Neozygites floridana. Tais agentes de controle biológico contribuem para reduzir a intensidade de ataque dos ácaros-praga na lavoura de soja.
Os ácaros são organismos minúsculos que se alimentam das células da folha da soja, reduzindo a fotossíntese e a produção de energia pela planta, sendo que ataques intensos podem reduzir a produção da lavoura. A ocorrência de estiagem é o principal fator condicionante para surtos de ácaros em soja. No entanto, o uso inadequado de inseticidas e fungicidas pode aumentar a intensidade de ataque da praga.
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Em soja, misturas comerciais de piretróides e neonicotinóides são amplamente utilizadas para o controle de percevejos, uma das principais pragas da cultura assim como os fungicidas (triazóis, estrobirulinas e benzimidazóis) utilizados para controle da ferrugem podem prejudicar o fungo Neozygites floridana que controla naturalmente os ácaros-praga então é fundamental estarmos atentos ao monitoramento das populações para adoção dos métodos de controle.
Ácaro-verde (Mononychellus planki)
O ácaro-verde é o ácaro mais frequente em soja no Brasil, porém é menos agressivo que os demais. É comumente encontrado em baixa densidade populacional, porém em períodos de estiagem na fase de enchimento de grãos da soja podem ocorrer surtos populacionais da praga.
Este ácaro possui coloração verde intensa com as quatro pernas dianteiras de coloração amarelo-ouro. Os ovos são depositados diretamente sobre a superfície da folha, principalmente na sua face inferior e junto às nervuras. Produz pequena quantidade de teia, utilizada para fixar os seus ovos na folha e no processo de dispersão pelo vento.
Os sintomas do ataque do ácaro-verde são pontuações claras (células mortas) ao longo de toda a superfície da folha, em ambos os lados, porém mais intensamente na sua face inferior. No início, o ataque se concentra próximo das nervuras, porém com o passar do tempo se distribui ao longo de toda a superfície da folha que apresenta coloração acinzentada.
Figura 1: Ácaro-verde (Mononychellus planki).

O ataque do ácaro-verde é bem distribuído na lavoura, ocorrendo grandes reboleiras de coloração acinzentada. Como a transição de áreas pouco atacadas para outras com ataque mais intenso é gradual, o início do desenvolvimento de reboleiras pode passar despercebido para o olho pouco treinado.
Ácaro-rajado (Tetranychus urticae)
O ácaro-rajado é a segunda espécie mais frequente em soja no Brasil, habitualmente é mais agressiva o que o ácaro-verde, porém muito sensível à chuva e ao ataque de agentes de controle biológico. É notado em ataques intensos em soja, sendo favorecido pela estiagem.
Esse ácaro possui coloração verde com duas manchas escuras laterais, o que motivou o seu nome “ácaro-rajado”. Vivem em colônias abrigadas sob teia que é produzida em grande quantidade na face inferior das folhas.
Os sintomas do ataque na face inferior da folha são pontuações claras (células mortas) que evoluem rapidamente para manchas contínuas acinzentadas, correspondentes à região de abrangência da colônia, delimitada pela sua teia, enquanto na face superior surgem manchas amareladas.
O ácaro-rajado, ao contrário do ácaro-verde, apresenta ataque bem concentrado em pequenas manchas na folha. Com o passar do tempo, novas colônias são estabelecidas formando novos pontos de ataque na mesma folha.
Figura 2: Ácaro-rajado (Tetranychus urticae).

O ataque é desuniforme ao logo da planta e da lavoura, sendo que folhas de uma mesma planta podem apresentar intensidades de ataques muito diferentes. Na lavoura são notadas pequenas reboleiras com plantas intensamente atacadas, com aspecto amarelado, gerando forte contraste em relação ao entorno, o que facilita seu reconhecimento.
Ácaros-vermelhos (Tetranychus desertorum, Tetranychus gigas e Tetranychus ludeni)
Figura 3: Ácaro vermelho (Tetranychus ludeni).

As espécies de ácaros-vermelhos que ocorrem em soja são semelhantes entre si. Possuem coloração vermelha-carmim que com o passar do tempo passam para o vermelho-escuro. Apresentam sintomas e potencial de ataque semelhantes ao do ácaro-rajado, porém são pouco frequentes em soja no Brasil.
Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus)
O ácaro-branco também é pouco frequente em soja no Brasil e comumente ocorre em baixas densidades populacionais. Ao contrário dos demais, é favorecido por períodos chuvosos e presente na fase vegetativa da soja.
Esses ácaros apresentam coloração creme brilhante e são muito pequenos, difíceis de serem observados a olho nu. É comum observar os machos transportando pupas de fêmeas, com as quais copulam tão logo estas emerjam. Os ovos são depositados diretamente sobre a superfície da folha ao longo de toda sua extensão, principalmente na face inferior.
O ácaro-branco não produz teia. Devido ao seu pequeno tamanho, o ácaro-branco ataca preferencialmente folhas novas (ponteiros), sendo que seu ataque prejudica o processo de expansão da folha deixando-a encarquilhada, podendo ser confundido com virose.
A deformação nos folíolos, causada pelo ácaro-branco, é sempre simétrica e ocorre com a mesma intensidade nos três folíolos da mesma folha. Enquanto que, no caso de viroses, pode ocorrer deformação assimétrica no folíolo e folíolos de uma mesma folha que podem apresentar deformações com intensidades variadas.
Os folíolos de plantas com virose podem apresentar rajadas de coloração amarelada, preta, avermelhada ou verde, já folíolos atacados pelo ácaro-branco não apresentam tais modificações. Na lavoura, o ataque do ácaro-branco ocorre em reboleiras, já as viroses podem ser verificadas em plantas isoladas.
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Danos
Os surtos de ácaros ocorrem, frequentemente, na fase reprodutiva da soja, quando a planta se encontra na fase de maior área foliar, dificultando a distribuição dos acaricidas, principalmente nas folhas medianas e inferiores.
O ataque de ácaros à soja reduz a eficiência fotossintética. Em casos de ataque severo, causa antecipação na senescência e queda de folhas, podendo haver redução de produtividade da cultura, em casos extremos.
Quando os ácaros se alimentam, rompem com suas quelíceras as células da epiderme da parte debaixo dos folíolos de soja e depois absorvem o conteúdo celular que extravasa (Moraes; Flechtmann, 2008). Esses ‘furos’ no tecido do folíolo reduzem o teor de clorofila e a capacidade fotossintética das plantas e aumentam a taxa transpiratória da planta (Flechtmann, 1972; Flechtmann, 2008).
O sintoma característico do ataque de ácaros em folíolos de soja é a presença de pontuações brancas ou amarelas, que evoluem para bronzeamento e necrose.
Figura 4. Pontuações brancas no início do ataque de ácaros em soja.

Em períodos secos, as células murchas das folhas de soja, forçam os ácaros a “furar” um maior número de células para obter o mesmo volume de líquidos (conteúdo celular), necessário à sua sobrevivência, aumentado as injúrias nas plantas (Figura 6).
Figura 5. Injúrias avançadas de ácaros em folíolo de soja.

Os registros de perdas de produtividade pelo ataque de ácaros são variáveis. Em condições experimentais foram observadas perdas de 4,5 sacas de soja/ha, comparando-se parcelas com e sem controle de ácaros na fase de enchimento de grãos.
Já, em estudos realizados em áreas com e sem controle de ácaros, na safra 2011/12 em São Sepé e Santa Maria – RS, constatou-se que as perdas ocasionadas por estes podem chegar a 20 sacas/ha-1, dependendo da cultivar de soja utilizada (Arnemann et al., 2018). Em termos práticos, em média a presença de 2-3 ácaros/folíolo de soja justificam o seu controle, visto o baixo custo de acaricidas e o alto valor da saca de soja (2018).
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Controle
Considerando a dificuldade de controle de ácaros-praga em soja, e os custos associados ao tratamento, prevalecem estratégias de manejo integrado da praga, como o uso racional de agrotóxicos, visando a preservação de inimigos naturais e a redução dos riscos de ataque de ácaros.
São medidas de manejo integrado:
- Amostrar semanalmente os ácaros em soja;
- Aumentar a atenção com altas temperaturas, falta de chuva e baixa UR;
- Não usar piretróides precocemente e se possível, evitá-los;
- Usar cultivares de soja menos suscetíveis ao ataque de ácaros em soja;
- Aplicar acaricidas registrados, na dose recomendada e no nível de controle;
- Usar inseticidas neonicotinóides + piretróides para percevejos apenas quando for atingido o nível de controle.
Neste contexto, ganha importância a correta identificação dos ácaros-praga e de seus inimigos naturais, para aprimorar as estratégias de manejo. Bem como, a escolha de inseticidas para o manejo de pragas da soja, sendo desejável o uso de produtos que não favoreçam o aumento populacional de ácaros ou que apresentem algum nível de supressão dessa praga.
Os ácaros podem ser encontrados em soja durante praticamente todo o ciclo, porém, ataques mais intensos do ácaro-branco ocorrem na fase de crescimento da planta e os demais causam ataques mais severos a partir do florescimento.
Estudos recentes indicam que a resistência de cultivares pode ser uma ferramenta para o manejo de ácaros em soja. Mas ainda é um desafio obter conhecimento sobre: a fase crítica da soja ao ataque da praga; o nível de controle; a definição de estratégias práticas e eficientes de amostragem e a viabilidade do controle biológico aplicado, com predadores e patógenos.
O controle de ácaros baseado apenas na presença da praga na lavoura de soja acarreta em elevação dos custos de produção, indução à resistência a inseticidas/acaricidas, mortalidade de inimigos naturais e contaminação do meio ambiente (Fiorin, 2014).
Devem ser considerados na tomada de decisão de controle de ácaros em soja o estádio da cultura, o número de ácaros presentes (incluindo ovos), o custo do controle (custo do inseticida/acaricida + custos de aplicação), o valor da saca de soja e a previsão de chuvas, temperatura e UR do ar para as semanas subsequentes.
Os produtos mais utilizados no controle de ácaros em soja são formulados à base de abamectina e espiromesifeno, entre outros registrados para a cultura.
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No trabalho realizado por FIORIN, 2014, onde avaliou-se os genótipos, danos e tamanho de amostra de ácaros na cultura da soja, destacou-se que a crescente ocorrência de ácaros na cultura da soja, deve-se, entre ouros fatores, à substituição dos genótipos, modificações nas estratégias de controle de doenças ocasionadas por fungos, alterações no manejo de plantas daninhas, a retirada de agrotóxicos de amplo espectro e aos veranicos.
O pesquisador pode concluir com o trabalho que a população de ácaros e o dano avaliado no rendimento de grãos é variável em função do genótipo de soja, que o tratamento com acaricidas é eficiente e preserva a produtividade da cultura e que o dano médio devido à presença de ácaros no experimento que foi realizado em Santa Maria – RS foi de 493,17 kg ha-1 e em São Sepé de 426,7 kg ha-1, representando um ganho médio de 33,39%.
Veja na tabela abaixo o resultado obtido pelo autor da pesquisa.
Tabela 1 – População média de ácaros em 20 cm-2 em diferentes genótipos de soja, nos experimentos realizados em Santa Maria e São Sepé, 2012.

Para acessar o trabalho completo clique aqui.
Fontes utilizadas: Agência Embrapa de Informação Tecnológica;Embrapa; Revista cultivar; Mais Soja.
Para saber mais acesse: O que você precisa saber sobre os ácaros da soja.
Elaboração: Engenheira Agrônoma Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.