O percevejo-marrom Euschistus heros é um dos principais percevejos que ocorrem na cultura da soja, sendo a espécie predominante na maioria das lavouras de soja do Brasil. Os adultos e ninfas da praga sugam as vagens, danificando os grãos, sendo seus danos irreversíveis em altas densidades populacionais.

Os percevejos sugadores passam por cinco instares ninfais até atingirem a fase adulta, sendo de vital importância a correta identificação desses insetos nos diferentes estádios de desenvolvimento da soja, pois apenas as ninfas do terceiro ao quinto instar, juntamente com os adultos, causam danos e devem ser considerados para a tomada de decisão de controle (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999; CORRÊA-FERREIRA et al., 2009).
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Esse percevejo é um inseto sugador de hastes, ramos, vagens e plântulas, que pode atacar as culturas do algodão, milho e soja, causando redução de produção e abortamento de estruturas reprodutivas. Além disso, pode injetar toxinas na planta. Nos últimos anos tem sido observada a presença e multiplicação da praga no campo por um período mais longo, apresentando altos níveis populacionais o que tem levado a maiores dificuldades de controle e incremento do dano médio observado.
Danos na cultura da soja
Um percevejo marrom/m² pode reduzir em média 80 kg de soja/ha. Confira a informação na INFOS + Soja.
Percevejo Marrom (Euschistus heros) Ciclo de desenvolvimento
Os prejuízos resultam da sucção de seiva dos ramos ou hastes e de vagens, limitando a produção. Também injetam toxinas, provocando a “retenção foliar”.
Como outros percevejos fitófagos, E. heros é, em geral, responsável por reduções no rendimento e na qualidade das sementes, em consequência dos danos causados pelas picadas em si, bem como pela inoculação de patógenos, como o fungo Nematospora corylii. Este fungo é uma levedura que pode causar a deterioração das sementes, semelhante ao ataque de bactérias.
No campo, os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e tornam-se mais escuros. A má-formação das vagens e dos grãos provoca a retenção foliar nas plantas de soja, que não amadurecem na época da colheita. Por isso, o complexo de percevejos representa alto risco à produtividade da soja. Podem causar danos irreversíveis à cultura, alimentando-se diretamente dos grãos desde o início da sua formação nas vagens.
Quando sugam ramos, causam a “retenção foliar” (onde não há maturação fisiológica das folhas e/ou hastes, enquanto as vagens maturam). Este sintoma pode ser causado por todas as espécies de percevejos. Esta retenção foliar parece, possivelmente, estar associada ao desequilíbrio do ácido indolacético (AIA) na planta, decorrente da sucção causada pelos insetos.
Quando o ataque dos percevejos ocorre nas vagens, as perdas podem atingir valores superiores a 30%. Quando atacam vagens em formação, podem causar o surgimento de vagens chochas, secas e/ou sem a formação de grãos e, em decorrência disso, as vagens secam e se tornam marrons. Se o ataque ocorrer nas vagens em fase de granação, podem aparecer deformações, murchamentos e manchas nos grãos.
Neste caso, os grãos podem perder o valor para a comercialização, por terem o teor de óleo reduzido. As perdas no poder germinativo das sementes podem ultrapassar 50%, além de terem queda no vigor.
O ataque durante a fase de desenvolvimento resulta em sementes pequenas, enrugadas e deformadas, podendo-se visualizar as manchas características na área da punctura. Na fase em que a soja se encontra com sementes formadas, mas ainda com elevado teor de água, as manchas ocasionadas pela alimentação são bem características, no entanto, o enrugamento é menos pronunciado (Turner, 1967).
Quando o ataque dos percevejos se dá nos grãos, ocorre perda na qualidade e também das sementes, principalmente pela inoculação do fungo Nematospora corylii, que causa a mancha-de-levedura, também conhecida como mancha-de-fermento. Estas manchas nos grãos, no entanto, são causadas especialmente por Nezara viridula e Piezodorus guildinii, e são menos comuns em ataques de E. heros.
Do total de danos causados por percevejos, os mais prejudiciais são aqueles localizados próximos ou na região embrionária, que também inviabilizam a utilização do grão para semente (Gazzoni 1998).
Em suma, os percevejos causam danos à soja pela redução da produtividade por efeitos nas vagens e/ou grãos, pelas reduções do poder germinativo e vigor das sementes, pelas reduções nos teores de proteínas e óleos dos grãos e ainda pela inoculação de patógenos nas sementes. Além disso, por promoverem a retenção foliar no final do ciclo da soja, o que, geralmente, leva a um maior uso de dessecantes.
Figura 1 – Dinâmica da população de percevejos na cultura da soja.

Em trabalho realizado por Scopel et al., (2016), com o objetivo de avaliar os danos de Euschistus heros em soja infestada no estádio de grão cheio, concluíram que a infestação de 12 percevejos adultos da espécie E. heros/m (1 percevejo/ planta) no estádio de grão cheio (R6), por até 21 dias, não reduziu o rendimento de grãos e não causou retenção foliar. Contudo, a mesma infestação, a partir de 7 dias de duração, altera a qualidade das sementes, reduzindo sua viabilidade e vigor. Veja os resultados dos autores na Tabela 1.
Tabela 1. Médias (± erro padrão) do número de legumes por planta, número de grãos por legume, peso de mil grãos (PMG) (g) e rendimento de grãos (kg/ha) de soja infestada com 12 adultos/m de E. heras, durante 7, 14 e 21 dias, a partir do estádio de grão cheio (R6). Passo Fundo, RS, 2011/12.

Tabela 2. Danos (± erro padrão) em sementes (classificação visual, em percentagem) de soja infestada com 12 adultos/m de E. heras, durante 7, 14 e 21 dias, a partir do estádio de grão cheio (R6). Passo Fundo, RS, 2011/12.

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Manejo e controle da praga
Níveis de controle indicados para os percevejos da soja, atualmente, com o objetivo de controle químico:
- Campos de produção de grãos = 2 percevejos/metro;
- Campos de produção de sementes = 1 percevejo/metro.
Durante horas mais quentes do dia (entre 10h e 16h) estes insetos não são facilmente localizáveis no campo, devendo ser evitados estes horários para as amostragens, que devem ter maior intensidade nas bordaduras da lavoura onde, em geral, os percevejos começam seu ataque.
A implementação de até três pulverizações de inseticidas nas bordaduras (150m a 200m de largura, durante a fase vegetativa) tem sido útil para controlar os percevejos migrantes, especialmente em cultivares tardias, antes que estes insetos estabeleçam gerações capazes de causar danos acentuados. Inclusive, trata-se de uma técnica muito seletiva aos inimigos naturais, já que a área é pulverizada parcialmente. A pulverização de bordaduras é eficiente se o ataque da praga ainda não está generalizado por toda a lavoura, o que pode ser diagnosticado nas amostragens.
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Outro momento importante é realizar o controle na fase compreendida entre R2 e R5.1, se a praga estiver presente em níveis populacionais consideráveis. Esta tem sido uma prática muito eficaz para prevenir danos econômicos e grandes surtos de percevejos no final de safra. Surtos que, muitas vezes, têm levado os produtores a fazer aplicações sucessivas para controlar a praga, às vezes três ou quatro delas e, mesmo assim, tendo danos. Outro aspecto a se considerar é a diminuição das populações de final de safra, onde atingem o pico populacional e costumam migrar para outras áreas ou servir de sobreviventes na região, tornando-a muito infestada. Logicamente, as aplicações de final de safra devem ser criteriosamente baseadas em amostragens, levando em conta as restrições quanto ao intervalo de segurança (carência) do agroquímico utilizado.
Contudo, a falta de novas moléculas tem levado à utilização de produtos com modo de ação semelhante numa mesma safra, por vários anos e a repetida utilização desses produtos tem favorecido a evolução de resistência dos insetos. Por esse motivo, a aplicação deve ser criteriosamente planejada e conduzida, evitando o favorecimento da resistência.
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Elaboração: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.