Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações do trigo em Chicago permaneceram firmes, acima dos US$ 6,00/bushel, com o primeiro mês fechando a quinta-feira (22) em US$ 6,22, contra US$ 6,29 na véspera e US$ 6,18 uma semana antes. A cotação desta semana foi a melhor dos últimos seis anos em Chicago.

O plantio do trigo de inverno nos EUA avança bem, chegando a 77% da área esperada no dia 18/10, contra 72% na média histórica, não sendo o motivo das altas em Chicago. Deste total, 51% já havia emergido, contra 48% na média histórica para esta época do ano.

Por sua vez, as exportações de trigo por parte dos EUA, chegaram a 528.500 toneladas na semana encerrada em 08/10, ficando dentro do esperado pelo mercado. Deste total, o Brasil teria comprado 1.700 toneladas e mais 71.200 toneladas para o ano 2021/22. Por outro lado, na semana encerrada em 15/10 os embarques de trigo estadunidense somaram 239.688 toneladas, ficando bem abaixo do esperado pelo mercado. Todavia, no total do atual ano comercial o volume embarcado chega a 10,7 milhões de toneladas, ou seja, 6% acima do registrado na mesma época do ano anterior.

Em paralelo, a Rússia confirma uma safra entre 75 a 78 milhões de toneladas de trigo para 2021/22, enquanto a Ucrânia projeta 25 milhões de toneladas. No somatório dos dois países esta produção representa um recuo entre 4,6% a 7,4% em relação ao ano 2020/21. Entretanto, a estimativa oficial sai apenas em meados de dezembro. A região do Mar Negro está enfrentando um outono bastante seco neste momento, sendo que todas as regiões de trigo de inverno da Rússia tiveram apenas entre 20% a 40% das chuvas normais para este período. Desta forma, a perspectiva para a safra russa de trigo em 2021 é ruim, pressionando para cima os preços internacionais do cereal. A estimativa, neste momento, é de que a Rússia possa perder mais de 15% de sua área de trigo após o próximo inverno, que se inicia em 21 de dezembro, caso não chova no restante deste outono.

Já na Argentina, a Bolsa de Cereais de Rosário aponta que a colheita de trigo chegou a 1,3% da área em meados de outubro, porém, a produtividade média é péssima, ficando abaixo de 17 sacos/hectare. Muitos produtores poderão abandonar a colheita em áreas cujo rendimento não superar os 8,3 sacos/hectare. No Norte e Nordeste do país vizinho a produtividade gira entre 300 a 1.200 quilos/hectare no momento. Mas a produtividade deverá melhorar consideravelmente nas regiões mais ao sul do país. Por enquanto, 52% do trigo apresenta condição entre regular e ruim, enquanto somente 9% fica entre condições boas a excelentes. Cerca de 54% da área de trigo argentina está com condição hídrica de regular a seca.

Aqui no Brasil, o quadro igualmente é de preocupação climática, especialmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, afora as perdas importantes já confirmadas no Paraná, que está em fase final de colheita. Os mais otimistas continuam considerando uma safra final de 6,3 milhões de toneladas no país, porém, considerando apenas o produto de qualidade superior, é possível que o volume final fique entre 5 e 5,5 milhões de toneladas. Lembramos que o volume final da safra anterior, sem distinção de qualidade, a qual registrou igualmente perdas importantes, ficou em 5,2 milhões de toneladas. No início do plantio da atual safra, no país, o volume esperado era superior a 7 milhões de toneladas.



No Paraná, onde a colheita chegaria ao redor de 84% neste momento, a safra final ficaria ao redor de 3,2 milhões de toneladas, após 4 milhões projetados inicialmente. No Rio Grande do Sul, onde a colheita chegava a 18% da área em meados de outubro, a produtividade média é baixa, com a estimativa de perdas ao redor de 30% do volume inicial esperado. (cf. Fecoagro) Isso significa algo em torno de um milhão de toneladas, sem considerar a qualidade do produto, já que muitas regiões estão colhendo trigo com PH abaixo de 78 e produtividade média entre 5 a 10 sacos/hectare. Aliás, a quebra estimada no Rio Grande do Sul para este ano, poderá deixar a atual safra deste Estado um pouco menor do que a colhida no ano anterior.

Com isso, os dois principais Estados produtores deverão colher, na melhor da hipóteses, cerca de 5,2 milhões de toneladas sem distinção de qualidade.

Neste contexto, as importações de trigo por parte do Brasil, em 2020/21, deverão chegar a 7 milhões de toneladas. Espera-se que a Argentina, mesmo reduzindo sua produção para 17 milhões de toneladas (o projetado inicialmente estava em 22 milhões), tenha 12 milhões de toneladas para exportar, devendo fornecer 80% das necessidades brasileiras para com o cereal.

Esta situação mantém os preços elevados em plena colheita, ao mesmo tempo em que se constata que o auxílio emergencial do governo federal brasileiro, durante este ano de pandemia, elevou em 15% a demanda por trigo no país, reduzindo os estoques. Outro fator de elevação nos preços está no câmbio, o qual continua deixando a importação do cereal muito cara.

Nestas condições, os produtores que já possuem trigo da safra nova, de qualidade superior, estão segurando o produto visando preços ainda mais altos. Neste sentido, a média gaúcha no balcão fechou a semana com o saco de trigo valendo R$ 70,86, enquanto no Paraná o produto girava entre R$ 71,00 e R$ 72,00/saco. Há regiões, no sul do país, registrando R$ 75,00 e até R$ 80,00/saco neste momento.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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