Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

O primeiro mês cotado para o trigo, em Chicago, mais uma vez viveu uma semana de fortes oscilações. O fechamento desta quinta-feira (09) ficou em US$ 10,71/bushel, contra US$ 10,58 uma semana antes. A média de maio passado chegou a US$ 11,40, ficando 6,9% acima da média de abril.

Em maio de 2021 a média mensal foi de apenas US$ 7,10/bushel. Também aqui a expectativa do relatório de oferta e demanda do USDA, a ser informado neste dia 10/06, e do relatório de plantio, previsto para o dia 30/06, pesaram sobre o mercado. Mas os elementos centrais continuam sendo o clima sobre as regiões de produção estadunidenses e o desenrolar da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Em relação ao estágio das lavouras de trigo de inverno e primavera nos EUA, até o dia 05/06, tem-se que o trigo de inverno registrava 79% das lavouras germinadas, contra a média de 84%, enquanto a colheita já iniciou nos EUA, chegando a 5% da área semeada, contra a média histórica de 6% para a data.

As condições das lavouras que restam a ser colhidas apontavam 40% entre ruins a péssimas, 30% regulares e 30% entre boas a excelentes. Já em relação ao trigo de primavera, nos EUA, o plantio do mesmo, também até o dia 05/06, atingia a 82% da área, contra 97% na média histórica, sendo que 55% das lavouras semeadas haviam germinado, contra 83% na média histórica. (cf. USDA)

Por outro lado, as vendas líquidas de trigo estadunidense, ao exterior, na safra 2021/22, na semana encerrada em 26 de maio, apresentaram apenas 700 toneladas, ficando 98% abaixo da média das quatro semanas anteriores. Em todo o atual ano comercial os EUA exportaram 18,5 milhões de toneladas de trigo, contra 24,4 milhões no mesmo período do ano anterior.

A estimativa final é de uma exportação de 21,91 milhões de toneladas em 2021/22. Já em termos de embarques concretizados, na mesma semana, o volume ficou em 372.700 toneladas, com alta de 18% sobre a média das quatro semanas anteriores. Enquanto isso, na Argentina, a área de trigo deverá ficar em 6,5 milhões de hectares para 2022/23, com um recuo de 100.000 hectares em relação as projeções anteriores.

Este recuo se deve ao clima seco no norte do país vizinho. Até o final da semana anterior o plantio atingia a 13,9% da área esperada, lembrando que o mês de maio foi de seca na Argentina. A preocupação, agora, é quanto ao clima neste mês de junho. Complementando, para a soja, o vizinho país revisou para cima sua safra 2021/22, colocando a mesma, agora, em 43,3 milhões de toneladas, sendo que a colheita está quase finalizada. Mesmo assim, com forte recuo em relação ao inicialmente esperado.

Em relação ao milho, a colheita argentina está com 32% da área concluída, esperando um volume de 49 milhões de toneladas em 2021/22. (cf. Bolsa de Cereais de Buenos Aires) E na Rússia, houve aumento nas projeções de exportação de trigo, com o volume final esperado chegando a 42,3 milhões de toneladas. (cf. Sovecon) Já no Paraguai, as chuvas constantes estão atrasando o plantio do trigo, podendo levar a uma redução na produção final deste país, o qual é importante exportador para o Paraná.

Nas regiões de Itapúa e Alto Paraná, as principais produtoras de trigo do Paraguai, as atividades de plantio da nova safra tiveram que ser paralisadas devido às chuvas constantes. Mesmo com a retomada do plantio, depois de uma semana de paralisação, não haverá novas parcelas incorporadas a esta semeadura porque já seria tarde para o trigo, havendo risco de geadas. (cf. Coordenadoria Agrícola do Paraguai, no Alto Paraná)

Enfim, para compensar, em parte, os problemas de produção em diferentes partes do mundo, a Austrália está pronta para iniciar um terceiro ano de produção quase recorde do cereal. Os produtores locais semearam 14,45 milhões de hectares de trigo, um recorde histórico. Em o clima ajudando, o país poderá produzir entre 30 e 35 milhões de toneladas de trigo, ficando muito próximo do recorde de 36 milhões de toneladas atingido em 2021/22. (cf. IKON Commodities)

Nos últimos 10 anos a produção de trigo da Austrália atingiu a média de 24,8 milhões de toneladas por ano. (cf. Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics and Sciences – ABARES) E, aqui no Brasil, os preços do cereal se estabilizaram, porém, mantendo o viés de alta.

A média gaúcha ficou em R$ 110,40/saco, com as principais praças compradoras mantendo os R$ 110,00, enquanto no Paraná os valores do saco do cereal oscilaram entre R$ 106,00 e R$ 110,00. Os preços, no Brasil, estão um pouco descolados do comportamento de Chicago, seguindo prioritariamente o mercado argentino, maior fornecedor do cereal ao nosso país.

O comércio interno nacional continua em ritmo lento, diante da baixa disponibilidade do produto e dos altos preços. Enquanto isso, Goiás indica que aumentará sua produção de trigo em 35,7% neste ano, com a mesma chegando a 175.500 toneladas. E no Rio Grande do Sul, segundo relatório da Emater, a área a ser semeada com trigo, em 2022, poderá ser a maior dos últimos 42 anos, com crescimento de 15%, atingindo a 1,41 milhão de hectares.

Com isso, se o clima ajudar, a produção estadual do cereal poderá atingir a 3,99 milhões de toneladas, mesmo com uma produtividade média 2,2% menor do que a do ano anterior, devendo ficar em 2.822 quilos/hectare (47 sacos/hectare). Lembrando que em 2021 o Estado gaúcho colheu 3,54 milhões de toneladas de trigo, sobre uma área semeada de 1,23 milhão de hectares.



Enfim, destaque para o fato de que o Brasil vem testanto uma variedade de trigo transgênico, resistente à seca, buscando ficar menos dependente das importações do cereal. Esse é um movimento global, que busca produzir trigo resistente à seca, diante das mudanças climáticas que parecem irreversíveis. A Embrapa teria feito uma parceria com a argentina Bioceres, a qual desenvolveu este trigo no vizinho país. Enquanto isso, a Austrália e a Nova Zelândia aprovaram, no mês passado, a venda e uso de alimentos que contêm trigo transgênico HB4 da Bioceres.

A Embrapa recebeu a aprovação regulatória da agência de biossegurança do Brasil, CTNBio, em março, quando começou a plantar trigo em campos de teste perto de Brasília, no Cerrado, onde os agricultores tradicionalmente plantam soja e milho. Espera-se as primeiras informações sobre este trigo para o mês de agosto. Plantar trigo mais ao norte do país deverá aumentar muito a quantidade do cereal disponibilizado no Brasil, diminuindo as importações e aumentando as exportações.

Todavia, é bom lembrar que, qualquer potencial plantio comercial de trigo transgênico, em nosso país, pode demorar ainda cerca de quatro anos, com pendências de resultados de testes de plantio e aprovações regulatórias. Não esquecendo que tentativas de semear trigo transgênico mundo afora resultaram em dificuldades.

Por exemplo: a empresa de sementes Monsanto engavetou os planos de desenvolver trigo geneticamente modificado nos Estados Unidos, em 2004, devido a preocupações com a rejeição de compradores estrangeiros e temores de que as plantas de teste pudessem entrar no suprimento de alimentos. Já o Japão parou de comprar trigo do Canadá, em 2018, depois que grãos contendo uma característica geneticamente modificada foram descobertos na província de Alberta.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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