Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

A cotação do trigo, em Chicago, para o primeiro mês cotado, fechou a quinta-feira (16) em US$ 10,78/bushel, contra US$ 10,71 uma semana antes. O mercado registrou, portanto, bastante estabilidade na semana.

O relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado em 10/06, trouxe as seguintes informações, relativas à safra 2022/23:

  • 1) A produção dos EUA ficou mantida em 47,3 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais somariam 17 milhões de toneladas;
  • 2) A produção mundial de trigo é estimada em 773,4 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais chegam a 266,8 milhões de toneladas;
  • 3) A produção da Rússia e da Ucrânia somariam, respectivamente, 81 milhões e 21,5 milhões de toneladas, lembrando que no ano anterior a Ucrânia produziu 33 milhões de toneladas;
  • 4) A produção da Argentina ficaria em 20 milhões de toneladas, com exportações de 14 milhões;
  • 5) Já o Brasil produziria 8,5 milhões de toneladas, com importações em 6,4 milhões;
  • 6) O preço médio aos produtores estadunidenses de trigo chegaria a US$ 10,75/bushel, contra US$ 7,70 no ano anterior e US$ 5,05/bushel dois anos antes.

Dito isso, nos EUA, as lavouras do trigo de inverno, até o dia 12/06, apresentavam 86% do total germinado, contra 90% na média histórica. Já a colheita deste trigo atingia a 10% da área, contra 12% na média histórica. Por sua vez, as condições das lavouras que restavam colher apresentavam, no dia 12/06, um total de 42% entre ruins a péssimas, 27% regulares e 31% entre boas a excelentes.

Enquanto isso, o trigo de primavera, naquele país, estava semeado em 94% da área esperada, contra 99% na média histórica para a data. Já 72% das lavouras apresentavam germinação, contra 93% na média histórica. Enfim, as condições das lavouras do trigo de primavera apresentavam 9% entre ruins a péssimas, 37% regulares e 54% entre boas a excelentes.

Ainda em termos internacionais, tem-se que a condição da safra de trigo macio da França enfrenta dificuldades climáticas. Estima-se que 66% da safra francesa deste trigo estava em boas ou excelentes condições na semana até 6 de junho, contra 67% na semana anterior. A classificação caiu 25 pontos percentuais desde o início de maio, à medida que uma onda de calor piorou a seca após as chuvas escassas deste ano. As estimativas do mercado preveem a safra francesa de trigo macio entre 33 e 34 milhões de toneladas, contra cerca de 35,5 milhões no ano passado. (cf. Reuters)

Já na Itália, a produção de trigo deve recuar 15% neste ano devido a uma seca que cortou os rendimentos em todo o país, fato que aumentará a dependência italiana para com as importações. Uma safra de trigo menor, esperada na Europa Ocidental, incluindo a Itália, aumenta a pressão sobre a já tensa oferta global devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, que elevou os preços porque ambos os países são grandes produtores de trigo. Na Itália, a produção de trigo poderá alcançar, neste ano, um total de 6,5 milhões de toneladas, sobre uma área de 1,71 milhão de hectares. Hoje a Itália produz apenas 36% do trigo macio, usado para pão, biscoitos e bolos, e 62% do trigo duro para massas. (cf. Reuters)

Por sua vez, analistas internacionais do mercado de trigo indicam que o conflito entre Rússia e Ucrânia possa gerar uma escassez global do cereal por, pelo menos, três anos, empurrando os preços para níveis recordes. A Ucrânia deverá ficar fora do mercado mundial por muito tempo, tamanho são os estragos sofridos pela guerra.

Neste momento, está difícil retirar a safra do ano passado, não é possível colher e retirar a atual safra e há enormes dificuldades para semear a próxima safra. Diante desta realidade ucraniana, os moinhos de trigo dos países asiáticos tendem a aumentar as compras do cereal da França e da Romênia, a partir deste próximo mês de julho, quando se inicia o novo ano comercial europeu do cereal.

De forma geral, o que vem aliviando um pouco a tensão global no mercado do trigo é a safra recorde da Austrália, hoje o segundo exportador mundial do cereal. Por enquanto, o país da Oceania vem exportando bastante, porém, há limites no horizonte. Neste amplo contexto mundial, os preços do trigo no Brasil se mantêm firmes, com a média gaúcha fechando a presente semana em R$ 110,71/saco, enquanto no Paraná os preços oscilaram entre R$ 110,00 e R$ 115,00/saco.

Além dos fatores já citados, preocupa igualmente a redução da área semeada na Argentina, principal fornecedor de trigo ao Brasil. Com isso, além da oferta regional, os preços no Brasil, até setembro, estarão balizados pela paridade de importação, a qual depende do câmbio. Um Real valorizado favorece as importações, pressionando os preços locais para baixo. A partir de setembro, a entrada da nova safra nacional, projetada para ser recorde nesrte ano, definirá o nível de preços até o final do ano.

Neste sentido, o Rio Grande do Sul projeta semear uma área recorde de 1,41 milhão de hectares neste ano, o que significa um aumento de 15% sobre a área do ano anterior. O Estado gaúcho poderá chegar à produção final de 4 milhões de toneladas, caso a produtividade média alcance 2.822 quilos/hectare, como vem sendo projetado.

Obviamente, isso terá que ser combinado com o clima. Em tal contexto, a produção da região Sul do Brasil poderá responder por quase 90% do trigo nacional ofertado nesta safra, já que o Paraná espera colher 3,9 milhões de toneladas. No total do país, a produção final de trigo poderá atingir o recorde de 8,9 milhões de toneladas, com um aumento de 13,6% sobre o volume registrado em 2021.

Lembrando que o Brasil consome cerca de 12,5 milhões de toneladas anuais do cereal. (cf. IBGE) Em tudo isso se confirmando, naturalmente o Brasil deverá importar bem menos trigo neste ano, em relação ao seu comportamento histórico.

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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