Embora a maioria dos nematoides fitopatogênicos sejam consideradas pragas de solo, uma espécie em específico pode causar danos diretos à parte aérea da soja. Trata-se do nematoide Aphelenchoides besseyi, agente causal da doença popularmente conhecida como Soja Louca II, cujos principais efeitos são a retenção foliar e haste verde da soja.
A ocorrência da praga é mais comum em anos chuvosos em regiões quentes, causando perdas de produtividade que podem chegar a 100%, dependendo da severidade e grau de infestação. Esse nematoide parasita a parte aérea da soja, causando sintomas como folhas com coloração verde mais intenso, menor pilosidade, afilamento e embolhamento no limbo foliar (Figuras 1A e 1B) e, algumas vezes, lesões necróticas angulares de coloração pardo-avermelhadas a marrons (Figuras 1C e 1D) (Favoreto & Meyer, 2019).
Figura 1. Folhas de soja com coloração verde mais intenso, menor pilosidade, afilamento e embolhamento (A e B); folhas com lesões necróticas angulares de coloração pardo-avermelhadas a marrons, em plantas inoculadas com Aphelenchoides besseyi (C e D).
Segundo Favoreto & Meyer (2019), ainda é possível observar deformações nas hastes de soja, caracterizadas pelo engrossamento dos nós, caneluras e retorcimento dos entrenós das plantas. Ocorre acentuado abortamento de flores e, em alguns casos, rosetamento dos racemos florais (Figura 2). Há redução no número de vagens, e as remanescentes geralmente apresentam deformações e lesões necróticas marrons (Favoreto & Meyer, 2019).
Figura 2. Rosetamento em racemo floral de soja (A); redução no número de vagens na planta, deformações e lesões necróticas nas vagens (B e C); vagens verdes, na época da colheita (D – embaixo) em comparação a vagens normais e secas (D – acima).
Normalmente os grãos formados por plantas acometidas pela praga não amadurecem, permanecendo verdes até o posterior apodrecimento. Mas sem dúvidas, um dos sintomas mais típicos da ocorrência do nematoide da haste verde á e não maturação das plantas infectadas, sendo comum observar plantas ainda verdes (em consequência da retenção foliar) em meio a plantas sadias em ponto de colheita (figura 3).
Figura 3. Lavouras de soja afetadas pelo nematoide da haste verde, apresentando ocorrência em reboleiras (A) e uniformemente distribuída na lavoura (B).
Manejo do nematoide da haste verde
Uma das principais estratégias de manejo consiste no controle de plantas daninhas e/ou espontâneas que possam hospedar a praga, bem como a rotação de culturas com plantas não hospedeiras. Segundo Favoreto & Meyer (2019), são plantas hospedeiras do nematoide Aphelenchoides besseyi: trapoeraba (Commelina benghalensis), agriãozinho-do-pasto (Synedrellopsis grisebachii), caruru (Amaranthus viridis) e cordão de frade (Leonotis nepetifolia).
Poáceas como milheto, sorgo e milho não são consideradas boas hospedeiras do nematoide da haste verde, sendo culturas com potencial uso na rotação de culturas em áreas com a presença da praga, entretanto, Favoreto & Meyer (2019) destacam que a palhada residual dessas espécies pode servir como abrigo para o nematoide, contribuindo para sua sobrevivência. Não menos importante, a semeadura da soja sobre a palhada de plantas completamente mortas é fundamental para reduzir as infestações da praga.
Ainda não foram encontradas fontes de resistência genética em soja e a integração de medidas de controle químico e biológico do nematoide será possível no futuro, mas a eficiência e o posicionamento de uso de alguns potenciais nematicidas ainda estão em estudo (Favoreto & Meyer, 2019).
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Referências:
FOVORETO, L.; MEYER, M. C. O NEMATOIDE DA HASTE VERDE. Embrapa, Circular Técnica, n. 147, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1109351/1/CIRCULARTECNICA147.pdf >, acesso em: 02/08/2022.
Foto de capa: Henrique Pozebon