A adoção do sistema plantio direto (SPD) pode ser considerado um marco revolucionário na história da agricultura, contribuindo significativamente para a redução das erosões superficiais, além de possibilitar maior sustentabilidade de culturas agrícolas como a soja. O sistema plantio direto fundamenta-se no não revolvimento do solo e em sua cobertura permanente (Salton; Hernani; Fontes., 1998).

Sendo assim, o cultivo de plantas de cobertura ou culturas com significativa produção de palhada é de suma importância para a manutenção e sustentabilidade do sistema plantio direto. Uma das culturas mais empregadas com essa finalidade é a aveia preta (Avena strigosa), cultura tradicionalmente cultivada durante o período de inverno, especialmente nas regiões Sul do Brasil, em virtude da sua aptidão agrícola.

Segundo Tiecher (2016), a parte aérea da aveia preta pode produzir quantidade de matéria seca superior a 7.000 kg.ha-1, o que atrelado a sua alta relação Carbono/Nitrogênio (relação C/N), proporciona uma boa cobertura do solo por um significativo período.



Além de proporcionar boa cobertura do solo, quando inserida no sistema de produção, via rotação e culturas, a aveia preta contribui para a melhoria de atributos físico, biológicos e químicos do solo. Um bom indicativo da qualidade do solo é a matéria orgânica do solo (MOS), a qual é composta principalmente pela decomposição de resíduos vegetais, sendo boa parte deles, oriundos do sistema radicular e parte aérea das plantas.

Conforme observado por Wolschick et al. (2016), a aveia preta acumula em sua parte aérea e sistema radicular, significativas quantidades de nutrientes, os quais poderão ser disponibilizados para a cultura sucessora, contribuindo para a nutrição de plantas e aumento da produtividade.

Tabela 1. Quantidade acumulada (kg.ha-1) de nutrientes na parte aérea e nas raízes de diferentes plantas de cobertura.

Adaptado: Wolschick et al. (2016)

Avaliando a Taxa de decomposição e liberação de macronutrientes da palhada de aveia preta em sistema plantio direto, Crusciol et al. (2008) observaram uma gradual liberação dos macronutrientes Nitrogênio (N); Fósforo (P); Cálcio (Ca) e Enxofre (S) após o manejo da aveia preta (rolo faca, seguido da aplicação de glyphosate). Os autores destacam que o Potássio (K) e o N são os nutrientes disponibilizados em maior quantidade no solo, atingindo máxima velocidade de liberação entre 10 e 20 dias após o manejo da fitomassa de aveia preta (Crusciol et al., 2008), o que pode ser interessante, especialmente quando cultivadas culturas exigentes em N e K em sucessão a aveia, a exemplo da soja.

Figura 1. Taxa diária de liberação de Nitrogênio (N) e Potássio (K) da palhada de aveia preta em função do tempo após o manejo da fitomassa.

Adaptado: Crusciol et al. (2008)

Além de promover boa cobertura do solo quando cultivada de forma correta, a aveia preta pode contribuir significativamente na melhoria de atributos do solo, atuando também como “adubo verde”, liberando nutrientes para a solução do solo e beneficiando o desenvolvimento da cultura sucessora. Sendo assim, seja como planta de cobertura ou com finalidade de produzir grãos, a aveia-preta é uma cultura com importante papel no sistema plantio direto, possibilitando a rotação de culturas e o maior uso da terra.

Confira o trabalho completo de Crusciol et al. (2008) clicando aqui!


Veja mais: Soja após Crotalária – aumento da produtividade e controle de nematoides



Referências:

CRUSCIOL, C. A. C. et al. TAXAS DE DECOMPOSIÇÃO E DE LIBERAÇÃO DE MACRONUTRIENTES DA PALHADA DE AVEIA PRETA EM PLANTIO DIRETO. Bragantia, Campinas, v.67, n.2, p.481-489, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/brag/a/6ssBtCfr96cvD5s3phvBtrk/?lang=pt&format=pdf >, acesso em: 01/10/2021.

SALTON, J. C.; HERNANI, L. C.; FONTES, C. Z. SISTEMA PLANTIO DIRETO: O PRODUTOR PERGUNTA, A EMBRAPA RESPONDE. Coleção 500 Perguntas, 500 Respostas, 1998. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/98258/1/500perguntassistemaplantiodireto.pdf >, acesso em: 01/10/2021.

TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 2016. Disponível em: < http://www.agrisus.org.br/arquivos/livro_RGS.pdf >, acesso em: 01/10/2021.

WOLSCHICK, n. h. et al. COBERTURA DO SOLO, PRODUÇÃO DE BIOMASSA E ACÚMULO DE NUTRIENTES POR PLANTAS DE COBERTURA. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.15, n.2, p.134-143, 2016. Disponível em: < https://revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/download/223811711522016134/pdf_32/25737#:~:text=A%20utiliza%C3%A7%C3%A3o%20de%20plantas%20de,capacidade%20produtiva%20de%20%C3%A1reas%20agr%C3%ADcolas.&text=O%20uso%20de%20plantas%20de,superior%20ao%20pousio%20de%20inverno. >, acesso em: 01/10/2021.

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