Pertencente a família Poaceae, o azevém, (Lollium multiflorum) é considerada uma planta de outono/inverno, predominante nas regiões Sul do Brasil, onde as condições climáticas são favoráveis ao seu desenvolvimento. Embora seja considerada uma planta daninha, em especial em sistemas de produção de grãos em culturas de inverno como trigo e aveia, o azevém apresenta características e particularidades que o tornam um tanto quanto atrativo para o sistema plantio direto, quando cultivado com a finalidade de planta de cobertura.

Quando cultivado como planta de cobertura, a época de semeadura do azevém varia de março a junho nas regiões indicadas. O ciclo da cultura até o florescimento varia em função da cultivar, mas normalmente fica entre 100 a 120 dias. A cultura adapta-se bem a solos pobres em fertilidade e apresenta elevado potencial em produzir biomassa e matéria seca, podendo chegar a 40 t ha-1 e 6 t ha-1 respectivamente (Cherubin et al., 2022).

Figura 1. Azevém (Lollium multiflorum).

Fonte: Cherubin et al. (2022)

A abundante produção de matéria seca, fornecendo palhada para a cobertura do solo é uma atrativa característica do azevém como planta de cobertura. A boa cobertura do solo é uma das premissas básicas do sistema plantio direto, e contribui para a redução das erosões superficiais, redução a amplitude térmica do solo e também dos fluxos de emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas (necessitam de luz para germinar).

Avaliando o manejo de plantas de cobertura no controle de plantas daninhas na cultura do milho, Moraes et al. (2009), observaram que dentro das culturas avaliadas como cobertura do solo (azevém, nabo forrageiro, trevo-vesiculoso e pousio), o azevém apresentou boa cobertura do solo (tabela 1).

Tabela 1 – Área coberta de solo pelas espécies vegetais aos 90 e 145 dias após emergência (DAE) e matéria seca de cobertura aos 145 DAE.

1/ Médias seguidas por mesma letra minúscula, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). Fonte: Moraes et al. (2009)

A boa cobertura do solo pela cultura de cobertura contribui significativamente para a redução dos fluxos de emergência de plantas daninhas, entretanto, não é a única característica interessante do azevém. É conhecido que diferentes compostos alelopáticos estão presentes em plantas de azevém, inibindo a germinação e o desenvolvimento de plantas daninhas.



O fato exerce efeito direto no manejo de plantas daninhas, conforme observado por Moraes et al. (2009), após 15 DAE, o azevém foi a cobertura que apresentou maior redução na população de espécies de plantas daninhas (Tabela 2).

Tabela 2. Número de plantas daninhas emergidas (m2), em função das coberturas de solo aos 15 e 45 dias após emergência da cultura do milho.

1/ Médias seguidas por mesma letra minúscula, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). Fonte: Moraes et al. (2009)

Os resultados obtidos por Moraes et al (2009) demonstram a importante contribuição do azevém no manejo integrado de plantas daninhas, em especial nos períodos entressafra das culturas de verão. Contudo cabe destacar que algumas características do azevém também podem ser desvantajosas.

Conforme destacado por Cherubin et al. (2022), o azevém é conhecido por demonstrar persistência em áreas de cultivo caso não seja adequadamente manejado.  A planta produz considerável quantidade de sementes, as quais são facilmente dispersas, contribuindo para a manutenção das populações de azevém em lavouras agrícolas. Essa característica é desejável quando o sistema de produção visa a produção de forragem/pastagens, mas é indesejada no sistema de produção de grãos, uma vez que as plantas remanescentes de azevém podem matocompetir com culturas como trigo e aveia.

Além disso, vale destacar há relatos de casos de resistência do azevém a herbicidas, fato que dificulta ainda mais o controle eficiente dessa espécie em pós emergência, quando assume o papel de planta daninha. Sobretudo, quando bem manejada, em especial por suas características e particularidades, o azevém pode contribuir significativamente para o manejo de plantas daninhas em sistemas de produção.

Mas atenção, da mesma forma que o azevém pode exercer efeito alelopático sobre as plantas daninhas, também pode exercer esse efeito sobre algumas culturas agrícolas, logo deve-se ficar atento ao manejo do azevém, realizando as dessecações com antecedência para evitar a redução da emergência de culturas agrícolas.


Veja mais: Controle do azevém em trigo



Referências:

CHERUBIN, M. R. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBETURA: ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. ESALQ-USP, 2022. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf >, acesso em: 18/10/2022.

MORAES, P. V. D. et al. MANEJO DE PLANTAS DE COBERTURA NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO MILHO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 27, n. 2, p. 289-296, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pd/v27n2/11.pdf >, acesso em: 18/10/2022.

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