InícioDestaqueBioagentes no controle do mofo-branco

Bioagentes no controle do mofo-branco

Popularmente conhecida como mofo-branco, a doença causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum ocorre em diversas regiões do Brasil. O mofo-branco se manifesta com maior severidade em anos chuvosos, temperaturas amenas e constante umidade do solo, a principal forma de infecção das plantas de soja ocorre pelos ascosporos do fungo, que são produzidos nos apotécios, decorrentes da germinação carpogênica dos escleródios (Meyer et al., 2022).

Os danos em decorrência da doença podem expressar significativas perdas produtivas em soja. Em casos mais extremos, dependendo da severidade da doença e suscetibilidade da cultivar, perdas de até 70% podem ser observadas (Meyer et al., 2020). Dependendo das condições ambientais, os escleródios podem germinar emitindo micélio (germinação miceliogênica), ou formando apotécios (germinação carpogênica). Na cultura da soja, a fonte primária de infecção mais observada é a germinação carpogênica (Meyer, Mazaro, Godoy, 2022).  

A germinação carpogênica consiste na formação de apotécios pelos escleródios, que são estruturas em forma de corneta ou taça (Figura 1), de coloração bege a amarelo-amarronzado, constituído por uma haste (estipe) que emerge do escleródio, formando um himênio na extremidade, medindo de 4 mm a 8 mm de diâmetro. No himênio são produzidos os ascosporos, que são os esporos sexuados do patógeno (Meyer; Mazaro; Godoy, 2022). Quando liberados e dispersos, os ascósporos são responsáveis por infectar a planta, dando origem ao mofo-branco na soja.

Figura 1. Germinação carpogênica de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, com elevada formação de apotécios (A e B), e de um escleródio enterrado a cerca de 3 cm de profundidade no solo, mostrando a capacidade de elongação da estipe (C).

Fotos: Maurício C. Meyer

Embora o controle químico seja a medida mais empregada no manejo e controle do mofo-branco, vale destacar que, por se tratar de uma doença monocíclica, uma das principais estratégias de manejo da doença consiste na redução dos escleródios nas áreas de cultivo. O Fundo é extremamente polífago, apresentando mais de 400 espécies hospedeiras, o que dificulta seu controle via rotação de culturas (Meyer; Mazaro; Godoy, 2022).

Meyer; Mazaro; Godoy (2022) destacam que as principais medidas de controle são: formação de palhada para cobertura uniforme do solo (preferencialmente oriunda de gramíneas não hospedeiras),  a utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas sistêmicos; emprego de controle químico, através de pulverizações foliares de fungicidas principalmente no período de maior vulnerabilidade da planta (estádios de pré-fechamento das entrelinhas ou R1 até R4); o uso de cultivares com arquitetura de plantas que favoreça uma boa aeração entre plantas e com período mais curto de florescimento, e, a utilização de população de plantas e espaçamento entrelinhas adequados às cultivares.



Considerando que uma das principais se não a principal medida de manejo da doença é reduzir o banco de escleródios no solo, o emprego de agentes biológicos antagonistas ao fungo pode contribuir para reduzir a incidência do mofo-branco em soja. Dentre os principais microrganismos empregados com esse intuito, destacam-se os fungos do gênero Trichoderma e as bactérias do gênero Bacillus.

Conforme observado por Meyer et al. (2020), tanto as bactérias do gênero Bacillus quando os fungos do gênero Trichoderma atuam na inibição da germinação carpogênica do mofo-branco. Corroborando, Meyer et al. (2022) avaliando o controle biológico do mofo-branco, observaram que formulações de biofungicidas contendo Bacillus e Trichoderma, aplicados no período vegetativo da soja, possibilitaram reduzir a germinação carpogênica de escleródios em até 41%, demonstrando uma importante contribuição para o manejo da doença.

Tabela 1. Germinação carpogênica e seu respectivo percentual de controle (%C), escleródios inviáveis e seu respectivo percentual de controle (%C) e colonização de escleródios pelos agentes de biocontrole em função dos tratamentos com biofungicidas nos experimentos em rede de controle biológico de mofo-branco, safra 2021/2022.

Fonte: Meyer et al. (2022)

Logo, considerando a necessidade em reduzir o banco de escleródios no solo, além das estratégias citadas anteriormente, o uso de agentes de biocontrole como Bacillus e Trichoderma pode contribui para um manejo mais eficiente do mofo-branco em soja.


Veja mais: Crestamento foliar de Cercospora



Referências:

MEYER, M. C. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE MOFO-BRANCO (Sclerotinia sclerotiorum) EM SOJA, NA SAFRA 2021/2022: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS EXPERIMENTOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 189, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1147086/1/Circ-Tec-189.pdf >, acesso em: 24/01/2024.

MEYER, M. C. et al. EXPERIMENTOS COOPERATIVOS DE CONTROLE BIOLÓGICO DE Sclerotinia sclerotiorum NA CULTURA DA SOJA: RESULTADOS SUMARIZADOS DA SAFRA 2019/2020. Embrapa, Circular Técnica, n. 163, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/216581/1/CIRCULAR-TECNICA-163-online.pdf >, acesso em: 24/01/2024.

MEYER, M. C. et al. EXPERIMENTOS COOPERATIVOS DE CONTROLE BIOLÓGICO DE Sclerotinia sclerotiorum NA CULTURA DA SOJA: RESULTADOS SUMARIZADOS DA SAFRA 2021/2022.  Embrapa, Circular Técnica, n. 186, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1145774/1/Circ-Tec-186.pdf >, acesso em: 24/01/2024.

MEYER, M. C.; MAZARO, S. M.; GODOY, C. V. CONTROLE BIOLÓGICO DE MOFO-BRANCO NA CULTURA DA SOJA. Bioinsumos na cultura da soja, Cap. 18, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1147051/1/cap-18-Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 24/01/2024.

Equipe Mais Soja
Equipe Mais Soja
A equipe editorial do portal Mais Soja é formada por profissionais do Agronegócio que se dedicam diariamente a buscar as melhores informações e em gerar conteúdo técnico profissional de qualidade.
Artigos relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Populares