As doenças são de fato um dos principais fatores que limitam a produtividade no cultivo de trigo no Brasil. O excesso de chuvas, especialmente quando acompanhado de longos e frequentes períodos de molhamento foliar e temperaturas elevadas, cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de doenças fúngicas, como a brusone. Torres et al. (2009), afirmam que a brusone foi descrita pela primeira vez, em trigo, no ano de 1985 no norte do Paraná,
De acordo com Cunha & Caierão (2023), a ocorrência de brusone pode variar significativamente dependendo das condições climáticas associadas aos fenômenos El Niño e La Niña. Em anos de El Niño, é comum observar alta incidência da doença, com infecção de 75 a 100% das espigas. Já em anos de neutralidade ou de La Niña, a incidência tende a ser menor, com até 25% das espigas infectadas em condições de baixa incidência e de 25 a 75% em condições de média incidência. Conforme Santana et al. (2012), os danos podem chegar a 100% em anos chuvosos e com temperaturas em torno de 25° C, além disso, quando a espiga é infectada logo no início de seu desenvolvimento, não ocorre a formação de grãos.
Figura 1. Espiga de trigo com brusone.
Brusone é uma doença causada pelo fungo Magnaporthe oryzae (Pyricularia oryzae), esse patógeno é capaz de sobreviver em ampla gama de hospedeiros, como trigo, cevada, milheto, milho, triticale, centeio, azevém, e quando encontra condições ideais de temperatura e umidade ocorre o desenvolvimento da doença. Lima (2004), afirma que a disseminação do patógeno ocorre, principalmente, através do vento, para que ocorra a germinação do conídeo (estrutura de reprodução assexuada), é necessário a presença de água. O patógeno sobrevive na forma de micélio ou conídeo, em restos de culturas, em sementes, em hospedeiros alternativos e em plantas voluntárias da cultura principal, que no caso da brusone é o arroz.
Conforme Maciel et al. (2021), os sintomas raramente manifestam-se nas folhas, mas quando ocorre, aparecem manchas, geralmente elípticas ou arredondadas, com margem marrom escura e centro acinzentado, nas espigas ocorre o branqueamento e morte acima do ponto de infecção e escurecimento do ráquis. Santana et al. (2012), afirmam que as espiguetas afetadas produzem grãos malformados, menores e enrugados devido à interrupção na translocação de nutrientes.
Figura 2. Sintomas de brusone em folhas de trigo.
Os sintomas mais graves ocorrem a partir do florescimento, sendo esse estádio considerado o principal, pois uma vez a doença estabelecida nas espigas, são maiores os impactos na produtividade (Sussel & Melo, 2019). Maciel et al. (2013) desenvolveram uma escala diagramática para a avaliação da gravidade de brusone em espigas de trigo, sendo uma ferramenta útil para auxiliar na quantificação da doença. Essa escala fornece valores numéricos ou classes que representam diferentes níveis de severidade da brusone, permitindo que se possa avaliar e comparar o grau de infecção em diferentes plantas ou cultivos.
Figura 3. Escala diagramática para quantificação da severidade de brusone em espigas de trigo.
Em estudos realizados por Sussel e Melo (2019), testando a eficiência de agentes de controle biológico no manejo da brusone do trigo, observou-se a redução da incidência de brusone nas espigas em condições de baixa intensidade de brusone, tanto utilizando o manejo químico quanto com o manejo biológico com agente biológico Streptomyces rishiriensis, os autores propõem ser uma estratégia de manejo, promovendo a integração e intercalando pulverizações de fungicidas com produtos alternativos no controle da brusone.
Os resultados dos ensaios cooperativos na safra 2020, sobre eficiência de fungicidas para o controle da brusone de trigo, mostraram que na análise conjunta dos tratamentos utilizados, os tratamentos que se destacaram no controle da brusone no trigo, são eles : azoxistrobina + mancozebe + tebuconazol, trifloxistrobina + protioconazol + mancozebe e piraclostrobina + epoxiconazol + mancozebe, que aliaram uma redução de incidência e severidade de brusone com médias mais altas de peso do hectolitro e rendimento de grãos.
Tabela 1. Estimativas de médias de diferentes características avaliadas de trigo obtidas na análise conjunta dos três ensaios (E1, E2 e E3), com aplicação de fungicidas. Ensaios Cooperativos – safra 2020.
Conforme Maciel et al. (2021), é indicado realizar a aplicação preventiva com fungicida quando ocorrem condições favoráveis de temperatura e precipitações até o emborrachamento do trigo, se o clima for favorável, uma segunda aplicação é indicada no florescimento. E caso necessário uma terceira aplicação, essa pode ser realizada 12 dias após a segunda aplicação. Destaca ainda, que fungicidas contendo mistura de triazol+estrubirulina são mais eficientes no controle da doença, em relação a aplicação isolada de triazóis.
Para o controle eficiente da brusone, é essencial adotar medidas integradas de manejo da doença, diversas estratégias podem ser combinadas afim de reduzir os danos causados pelo fungo Pyricularia oryzae e garantir uma produção saudável da cultura. Santana e et al. (2012) propõem diversas estratégias eficazes para o controle da brusone em cultivos de trigo. Uma delas é o uso de sementes sadias e certificadas, totalmente livres de fungos patogênicos. Além disso, recomenda o tratamento das sementes com fungicidas apropriados para garantir a proteção das plantas durante seus estágios iniciais de desenvolvimento.
Outra medida importante é a escolha criteriosa de variedades de trigo com diferentes níveis de resistência à brusone, visando reduzir tanto a incidência quanto a agressividade da doença. O monitoramento constante das lavouras é essencial para identificar quaisquer sintomas iniciais de infecção, permitindo uma intervenção rápida e precisa, se necessária.
De acordo com Cunha & Caierão (2023), quando ocorre brusone com alta incidência, infectando a maioria das espigas na lavoura de trigo, o controle químico se torna limitado e economicamente inviável. No entanto, a aplicação de fungicidas em anos de menor incidência de brusone, como nos anos de neutralidade ou de La Niña, pode ser uma estratégia eficiente para controlar a doença e melhorar o rendimento de grãos. Essas aplicações ajudam a reduzir a infecções do fungo e protegem as espigas do trigo durante o período crítico de desenvolvimento, proporcionando níveis de produtividade compatíveis com a viabilidade econômica da lavoura. Dentre os fungicidas avaliados pela Rede de Ensaios da Embrapa, aqueles que contêm mancozebe (mancozebe, mancozebe + azoxistrobina, mancozebe + tiofanato-metílico) apresentaram melhor desempenho. O momento ideal de aplicação é no início do espigamento, quando cerca de 25% das espigas estão expostas.
Portanto, é fundamental estar atento às condições meteorológicas que favoreçam o desenvolvimento da brusone, como molhamento foliar superior a 10 horas e temperatura do ar próximo a 25 ºC. Nessas situações, pode ser preciso avaliar a necessidade de reaplicações de fungicidas para melhor controlar a doença.
Veja mais: Eficiência de Fungicidas para Controle de Giberela em Trigo
Referências:
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SUSSEL, A. A. B.; MELO. I. S. EFICIÊNCIA DE AGENTES DE CONTROLE BIOLÓGICO NO MANEJO DA BRUSONE DO TRIGO NO CAMPO. Embrapa Cerrados, Planaltina – DF,2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223460/1/Bolpd-351.pdf >, acesso em: 25/07/2023.
TORRES, G. A. M. DOENÇAS DA ESPIGA CAUSAM PERDA DE RENDIMENTO EM TRIGO NOS ESTADOS DO PARANÁ, SÃO PAULO E MATO GROSSO DO SUL, EM 2009. Comunicado Técnico 255, Embrapa, Passo Fundo – RS, 2009. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co255.pdf >, acesso em: 25/07/2023.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.