A maioria dos solos agricultáveis do Brasil apresentam, naturalmente, baixa fertilidade do solo, baixa capacidade de retenção de nutrientes e elevada acidez, caracterizada por baixos valores de pH e elevado teor de alumínio.

A prática de correção da acidez do solo é denominada de calagem. Para que o agricultor obtenha sucesso com a calagem é preciso fazer uma amostragem representativa de uma área que apresente o mesmo tipo de solo, histórico de uso, declividade e cor, interpretar os atributos químicos do solo e atentar para os aspectos técnicos e econômicos do uso de corretivos de acidez do solo.

Os aspectos técnicos estão relacionados com a composição química (teores de óxidos de cálcio e magnésio) e granulométrica (tamanho das partículas) dos corretivos. O Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) dos corretivos é uma característica que combina a composição química e granulométrica. Esta característica é usada para corrigir a dose dos corretivos que será aplicada e ajudar na escolha do corretivo mais econômico disponível no mercado.



Todos os métodos de cálculo de calagem consideram que os corretivos irão ser incorporados na camada de 0 a 20 cm de profundidade, devido à baixa movimentação no solo, e que possuem um PRNT de 100%. Porém, a maioria dos corretivos de acidez do solo comercializados não possui este valor de PRNT, necessitando, portanto de correção na dose do corretivo que será aplicado ao solo com o uso do PRNT. Para avaliar o corretivo mais econômico, o produtor deve relacionar o custo da tonelada do corretivo na propriedade (incluir o frete), dividindo o valor pelo PRNT, ou seja, quanto ele estará pagando por unidade de PRNT.

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O corretivo de acidez mais usado no Brasil é o calcário, por apresentar boa distribuição das jazidas e menor custo. Na escolha do calcário, o técnico deve atentar pelos teores de magnésio no solo. Se o solo estiver com baixos teores de magnésio, deve-se escolher um calcário com maior teor de magnésio, pois é a fonte mais barata de magnésio usada na agricultura. Caso o técnico deixe de fornecer magnésio via calcário, ele terá como opções o sulfato de magnésio e o termofosfato magnesiano, os quais são de alto custo e menos disponíveis no mercado.

O correto manejo do calcário envolve decisões relacionadas, além da escolha do calcário, com a dose, época de aplicação e modo de aplicação. A base carbonato (CO3-2), proveniente da dissolução do calcário é fraca e, consequentemente a velocidade de reação é lenta. Além desta característica, a granulometria também influencia o tempo de reação dos calcários.

Desta forma, a eficiência relativa do calcário expressa a porcentagem de calcário que irá reagir em até noventa dias e está diretamente relacionada com o diâmetro das partículas do calcário. Para a escolha do método de cálculo da calagem, o técnico deve atentar para as particularidades de cada método, regionalidade e tipo de solo. É importante ressaltar que, antes de adotar um sistema de plantio direto, cultivo mínimo ou sistema agroecológico (sistemas de produção que não revolvem o solo), é recomendado fazer uma calagem incorporando e optando por um calcário de menor PRNT (maior efeito residual).

Além da calagem, também é importante fazer aplicação de fósforo, potássio e micronutrientes para aumentar os teores destes nutrientes no solo, caso o solo apresente baixos teores. No início dos sistemas conservacionistas a aplicação de calcário é feita á lanço sem incorporação e, neste caso, o técnico deve corrigir a dose de calcário a ser aplicada. De maneira geral, para solos arenosos e argilosos, divide-se a dose por dois e três, respectivamente, considerando a sua descida natural.

Entretanto, o técnico deve estar ciente que, ao longo do tempo de cultivo nestes sistemas, principalmente com presença contínua de palhada, rotação de culturas e aumento de matéria orgânica, os processos químicos e físicos que atuam na descida do calcário se intensificam, possibilitando aumento da dose de calcário. Em função da maior variabilidade dos atributos químicos após iniciar os sistemas conservacionistas de produção, tanto no sentido horizontal quanto vertical, o técnico deve fazer amostragem mais estratificadas ao longo do perfil do solo, sempre considerando a entrelinha e a linha de cultivo da cultura antecessora.

O custo da prática da calagem no primeiro ano é considerado alto, porém o mesmo deve ser amortizado ao longo do tempo, uma vez que, na maioria dos solos o efeito residual está em torno de três anos. Durante esse tempo, o técnico deve amostrar o solo todo ano para ir acompanhando a necessidade de reaplicação do calcário.

Uma calagem mal feita pode acarretar sérios problemas que afetam a disponibilidade dos nutrientes no solo, como por exemplo, a de fósforo e micronutrientes como ferro, manganês, cobre, zinco e boro, porém, uma calagem bem feita, além de corrigir o pH, diminui as perdas de potássio, cálcio e magnésio, aumenta a atividade dos microrganismos benéficos no solo, corrige a toxidez de alumínio, fornece cálcio e magnésio, proporcionando aumento de produtividade e lucratividade para o produtor rural.

Elaboração: 

Prof. Dr. Leandro Flavio Carneiro – UFPR – Paraná

Pedro Augusto Silva Fernandes – UFSJ Campus Sete Lagoas – Minas Gerais

Leandro Pereira dos Santos – UFSJ Campus Sete Lagoas – Minas Gerais

Cristiano Araujo Meira – UFSJ Campus Sete Lagoas – Minas Gerais

Giordânia Rocha da Silva – UFSJ Campus Sete Lagoas – Minas Gerais

G-FERT – Grupo de Apoio a Pesquisa e Extensão em Fertilidade do Solo

Gfert@ufsj.edu.br.

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