A cultura do milho é amplamente difundida em território nacional, especialmente no sistema plantio direto, cultivada muitas vezes como milho safrinha (milho segunda safra) sucedendo a cultura da soja. Para a obtenção de altas produtividades, além da boa adubação e estabelecimento da lavoura, é necessário restringir a competição de plantas daninhas com o milho.
As plantas daninhas matocompetem com a cultura por água, radiação solar e nutrientes, podendo limitar a produtividade do milho ou até mesmos reduzi-la em casos mais extremos. Por pertencer a família Poaceae, e apresentar características comuns de algumas gramíneas, o controle de plantas de folha estreita é mais complexo na cultura do milho em comparação ao controle de plantas de folhas largas.
Umas das plantas mais comuns e preocupantes que infestam a cultura do milho é o capim-amargoso (Digitaria insularis), planta cujo o potencial em reduzir a produtividade do milho pode ser superior a 80% dependendo da densidade populacional da daninha e estádio que infesta a cultura do milho (Piazentine, 2021). Essa espécie é evolutivamente mais adaptada ao sistema plantio direto do que ao convencional, e essa é uma das explicações para o aumento de sua importância relativa nas áreas sob este sistema de cultivo (Timossi, 2009).
Atrelado a isso, essa daninha apresenta resistência conhecida ao glifosato (Heap, 2022), fato que dificulta ainda mais seu controle e manejo eficientes. Avaliando as perdas produtivas da cultura do milho em função da convivência com o capim-amargoso, Hass et al. (2020) observaram que 1 planta m-2 pode causar perdas de produtividade de aproximadamente 8% em milho, e que a medida em que a densidade populacional da daninha aumenta, tem-se o acréscimo das reduções de produtividade do milho, podendo chegar a valores de até 30 sc ha-1 (18%) para infestações de 6 plantas m-2.
Tendo em vista os aspectos observados e levando em consideração a dificuldade de controle do capim-amargoso em milho, uma das principais estratégias para mitigar os efeitos da matocompetição é a semeadura da cultura no limpo (livre da presença de plantas daninhas). Quando necessário realizar o controle químico, é interessante analisar o período anterior a interferência (PAI) para avaliar a necessidade de controle.
Controle observado por Piazentine (2021), para populações de plantas daninhas predominantemente formadas pelo capim-amargoso, o período anterior a interferência é de aproximadamente 30 dias após a semeadura (Figura 1).
Figura 1. Produtividade de grãos de milho ‘‘P4285VYHR PIONEER’, em função dos períodos de interferência das plantas daninhas, com a estimativa do período anterior à interferência (PAI).
Com base nos resultados apresentados, fica evidente a necessidade do controle pós-emergente eficiente de plantas daninhas aos 30 dias após a semeadura do milho para evitar maiores perdas produtivas, em especial se tratando do capim-amargoso. Cabe destacar que em virtude das características fisiológicas dessa planta daninha, é comum observar fluxos de emergência ao longo do desenvolvimento de culturas agrícolas, sendo essencial por tanto, realizar também o controle entre safra do capim-amargoso.
Veja mais: Perdas por matocompetição em soja – o caso da buva e do amargoso
Referências:
HASS, R. et al. PERDAS NA CULTURA DO MILHO GERADO POR CAPIM AMARGOSO (Digitaria insularis). XXV Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica da UTFPR, 2020. Disponível em: < https://eventos.utfpr.edu.br//sicite/sicite2020/paper/viewFile/7165/2890 >, acesso em: 20/01/2022.
Heap, I. O BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. 2021. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, a cesso em: 20/01/2022.
PIAZENTINE, A. E. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DO CAPIM-AMARGOSO NA CULTURA DA SOJA E DO MILHO. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Dissertação de Mestrado, 2021. Disponível em: < https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/213688/piazentine_ae_me_jabo.pdf?sequence=7&isAllowed=y >, acesso em: 20/01/2022.
TIMOSSI, P. C. MANEJO DE REBROTES DE Digitaria insularis NO PLANTIO DIRETO DE MILHO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 27, n. 1, p. 175-179, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/k3bSWjpzD6gY5rQP8TT8SNq/?lang=pt >, acesso em: 20/01/2022.