Os enfezamentos são doenças resultantes da infecção das plantas por microrganismos conhecidos como moliculites, que incluem espiroplasmas e fitoplasmas, responsáveis, respectivamente, pelo enfezamento-pálido e enfezamento-vermelho. Os molicutes invadem os tecidos do floema das plantas de milho, multiplicam-se e, são transmitidos de plantas doentes para plantas sadias pela cigarrinha Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae) (Embrapa).

Apesar da cigarrinha-do-milho poder utilizar outras plantas como alojamento, o milho é considerado o único hospedeiro da Dalbulus maidis no Brasil. Os enfezamentos destacam-se como doenças preocupantes para a cultura do milho nas últimas safras, ocasionando perdas severas em várias regiões do país. As perdas atribuídas a essas doenças podem atingir até 100%, em função da época de infecção e da suscetibilidade da cultivar utilizada (Cota et al., 2021).

Os enfezamentos, segundo Oliveira & Sabato (2018), são doenças sistêmicas que afetam a fisiologia, a nutrição, o desenvolvimento e a produção das plantas de milho, podendo reduzir de forma expressiva a produção de grãos/sementes. O complexo de enfezamentos do milho resulta em sintomas como folhas amareladas e/ou avermelhadas, estrias cloróticas nas folhas, perfilhamento, encurtamento dos entrenós, redução do porte das plantas, proliferação de espigas, espigas com menor desenvolvimento ou deformadas, grãos chochos, acamamento e morte prematura das plantas (Alves et al., 2020).

Figura 1. Danos por enfezamentos em espiga de milho.

Foto: Elisabeth Oliveira Sabato (2016).

Ao se alimentar, a cigarrinha introduz o estilete diretamente nos tecidos do floema da planta, succionando a seiva. Durante esse processo, ela pode adquirir o fitoplasma e/ou espiroplasma. O modo de transmissão dos moliculites pela cigarrinha-do-milho é considerado persistente e propagativo. Persistente, pois após adquirir os patógenos de plantas com sintomas de enfezamentos, o inseto é capaz de infectar as plantas por praticamente durante toda a sua vida. Após adquirir os patógenos em plantas doentes, a cigarrinha requer um período de 3 a 4 semanas para se tornar capaz de transmiti-los, conhecido como período latente. Além disso, o tempo de retenção dos patógenos no inseto, ou seja, por quanto tempo a cigarrinha permanece infectiva, é relativamente longo, sendo de três a quatro semanas (Ávila et al., 2021).



Conforme destacam Oliveira et al. (2003), o enfezamento-vermelho causado pelo fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma) pode ocorrer em 100% das plantas na lavoura, a incidência dessa doença nas lavouras tem aumentado nos últimos anos devido ao cultivo do milho em mais de uma época do ano. Além disso, ambas as doenças podem acarretar perdas totais de produção. Os sintomas característicos do enfezamento-vermelho incluem o avermelhamento intenso e generalizado da planta, podendo estar associado a proliferação de espigas que podem ocorrer em uma ou em várias axilas foliares da planta.

Figura 2. Sintomas de enfezamento-vermelho do milho.

Fonte: Sabato et al. (2014).

O enfezamento-pálido causado pelo Spiroplasma kunkelli, manifesta seus sintomas principalmente após o florescimento, podendo ser mais acentuado durante o período de enchimento de grãos, apesar da infecção poder ocorrer desde os estádios iniciais da cultura. Os sintomas do enfezamento-pálido, incluem o surgimento de estrias cloróticas esbranquiçadas nas folhas, estendendo-se da base em direção ao ápice. Geralmente, as plantas com a doença possuem folhas com margens e ápice avermelhados e clorose (Sabato et al., 2014).

As plantas infectadas ficam enfraquecidas e secam rapidamente, de maneira precoce e atípica. O enfezamento pálido pode ser confundido com o enfezamento vermelho devido a semelhança entre os sintomas (Grigolli & Grigolli, 2020).

Figura 3. Sintomas do enfezamento-pálido do milho.

Fonte: Sabato et al. (2014).

A cigarrinha-do-milho apresenta como característica uma coloração palha com manchas negras no abdômen e duas manchas semelhantes a olhos escuros na cabeça. Tanto os adultos quanto as ninfas vivem em colônias no cartucho e nas folhas jovens do milho, alimentando-se da seiva das plantas, onde adquirem os patógenos para posterior transmissão.

O ciclo de vida da cigarrinha, desde o ovo até o estágio adulto, dura aproximadamente 45 dias. Sob condições climáticas favoráveis, com temperaturas entre 26 e 32 ºC, esse ciclo pode ser completado em apenas 24 dias. Durante a fase adulta, as fêmeas têm capacidade de ovipositar aproximadamente 14 ovos por dia, totalizando em média 611 ovos durante todo o seu ciclo de vida (Cota et al., 2024).

Figura 4. Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) em microscópio estereoscópio.

Foto: Charles Martins de Oliveira (2020).

A cigarrinha tem preferência por colonizar plantas de milho na fase inicial de estabelecimento da cultura, principalmente entre os estádio VE e V8. No entanto, ela pode se multiplicar durante todo o período vegetativo da cultura (Alves et al., 2021). Nas fases iniciais da lavoura, conforme destacado por Cota et al. (2024), quanto maior a população de cigarrinhas, maior a necessidade de proteção das plantas e, quanto mais cedo os sintomas se manifestarem maiores serão os prejuízos.

Wordell Filho & Chiaradia (2010) destacam que a incidência de enfezamentos de milho pode ser prevenida ou ter seus danos reduzidos com a adoção de algumas práticas, as quais devem ser implementadas em conjunto. Na figura abaixo, são apresentadas as principais medidas recomendadas para o manejo da cigarrinha-do-milho e dos enfezamentos. O pesquisador Oliveira (2017), ressalta que o manejo eficiente das doenças somente será alcançado se todas as medidas forem implementadas em conjunto, visando reduzir a população do inseto vetor, diminuir o inóculo e, consequentemente, minimizar as perdas ocasionadas pelas doenças.

Figura 5. Conjunto de boas práticas para o manejo da cigarrinha-do-milho e dos enfezamentos.


Veja mais: Helicoverpa armígera na cultura da soja



Referências:

ALVES, A. P. et al. GUIA DE BOAS PRÁTICAS PARA O MANEJO DOS ENFEZAMENTOS E DA CIGARRINHA-DO-MILHO. Embrapa, Croplife Brasil, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/220559/1/Charles-Guia-Boas-Praticas-Cigarinha-do-Milho.pdf >, acesso em: 20/02/2024.

ÁVILA, C. J. et al. A CIGARRINHA Dalbulus maidis E OS ENFEZAMENTOS DO MILHO NO BRASIL. Revista Plantio Direto & Tecnologia Agrícola, 2021. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/artigos/1522 >, acesso em: 20/02/2024.

COTA, L. V. et al. ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Revista Cultivar, 2024. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/enfezamentos-na-cultura-do-milho >, acesso em: 20/02/2024.

COTA, L. V. et al. MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/sanidade-vegetal/arquivos/Cartilhacigarrinhaeenfezamentos_Embrapa.pdf >, acesso em: 20/02/2024.

EMBRAPA. ENFEZAMENTOS POR MOLICULITES E CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa, perguntas e respostas. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/controle-da-cigarrinha-do-milho#:~:text=Os%20enfezamentos%20s%C3%A3o%20doen%C3%A7as%20do,fitoplasma%20(Maize%20bushy%20stunt). >, acesso em: 20/02/2024.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. DOENÇAS DO MILHO SAFRINHA. Tecnologia e Produção: Safrinha 2019. Fundação MS, Maracaju – MS, 2020. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Milho-Safrinha-2019.pdf >, acesso em: 20/02/2024.

OLIVEIRA, C. ENFEZAMENTOS DO MILHO. Embrapa, 2017. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=EWoNsozbm2E&t=285s >, acesso em: 20/02/2024.

OLIVEIRA, E. et al. ENFEZAMENTOS, VIROSES E INSETOS VETORES EM MILHO – IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE. Embrapa, circular técnica, 26. Sete Lagoas – MG, 2003. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMS/16180/1/Circ_26.pdf >, acesso em: 20/02/2024.

SABATO, E. O. et al. RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO DE DOENÇAS DO MILHO DISSEMINADAS POR INSETOS-VETORES. Embrapa, circular técnica, 205. Sete Lagoas – MG, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/121416/1/circ-205.pdf >, acesso em: 20/02/2024.

WORDELL FILHO, J. A.; CHIARADIA, L. A. DIAGNOSE E MANEJO DO ENFEZAMENTO-VERMELHO E DO ENFEZAMENTO-PÁLIDO NA CULTURA DO MILHO. Agropecuária Catarinense, Informativo Técnico, v. 23, n. 3, 2010. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/download/738/637/4610 >, acesso em: 20/02/2024.

Foto de capa: Fabiano Bastos.

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