A plantabilidade consiste na quantidade de sementes com espaçamento adequado por unidade de área e na profundidade correta, o que determina a quantidade de plantas por unidade de área, ou seja, o estande de plantas na lavoura (Conte). Ainda que a cultura da soja seja conhecida por sua plasticidade, ou seja, sua capacidade de se adaptar em diferentes arranjos espaciais, o número de plantas por área representa um dos principais componentes de rendimento da cultura (Zanon et al., 2018).
De acordo com Martin et al. (2022), para alcançar o estande de plantas desejado, é fundamental a regulação precisa do fluxo de sementes na semeadora, além da correção da densidade por meio da seleção de um lote de sementes de alta qualidade. No entanto, em muitos casos, o estande desejado não é alcançado devido a outros fatores que interferem nesse processo. Esses fatores podem atrasar ou impedir a correta emergência das plântulas na lavoura, afetando a uniformidade e a densidade de plantas. Nesse sentido, o conceito de “plantabilidade” está diretamente relacionado à qualidade da distribuição vertical das sementes no sulco de semeadura e à distribuição horizontal entre as sementes nas fileiras de plantio. A uniformidade na distribuição de plantas se reflete em um bom estabelecimento da lavoura, com uma competição intraespecífica reduzida, garantindo que cada planta tenha um ambiente propício para seu desenvolvimento.
Conforme destaca Arbex (2020), a ocorrência de “duplas” ocorre quando duas sementes estão muito próximas uma da outra, resultando em duas plantas que crescem juntas. Por outro lado, as “falhas” ocorrem quando há ausência de uma semente na distribuição, resultando em um espaçamento maior entre as plantas. As falhas, ao representarem uma planta a menos, resultam em uma menor produção. Enquanto isso, as duplas podem ocasionar competição entre as plantas, levando ao estiolamento, tornando as plantas suscetíveis ao acamamento e prejudicando a deposição de produtos aplicados na cultura no manejo fitossanitário.
Nesse sentido, o espaçamento aceitável é determinado com base no número desejado de sementes por metro linear. Os espaçamentos são considerados duplos quando a distância entre as sementes no solo é menor que 50% do recomendado. Por outro lado, o espaçamento falho é identificado quando as plantas estão distanciadas em mais de 150% em relação ao espaçamento recomendado.
Figura 1. Espaçamentos duplos e falhos.
Estudos realizados por Gaziel et al. (2017), destacam que a uniformidade na distribuição longitudinal de sementes representa um fator limitante no aumento da velocidade de semeadura da cultura da soja. Isso se deve ao fato de que o aumento na velocidade de semeadura resultar na redução da porcentagem de espaçamentos considerados aceitáveis, o que, por sua vez, aumenta a irregularidade na semeadura. Portanto, os autores destacam que para garantir uma distribuição uniforme, as velocidades de semeadura adequadas para a cultura da soja aceitáveis variam dentro da faixa de 2 a 6 Km h-1.
Figura 2. Regularidade de distribuição Longitudinal de Sementes em função da velocidade de semeadura.
Pesquisas realizadas por Reynaldo et al. (2016), também constataram que o aumento da velocidade de deslocamento resulta em um aumento nos espaçamentos falhos e nas duplas, e consequentemente, leva à redução dos espaçamentos aceitáveis. Além disso à medida que a velocidade de deslocamento aumenta, a produtividade da cultura reduz, sendo que a velocidade avaliada que proporcionou melhor desempenho e produtividade foi de 4 Km h-1.
Com base nos resultados obtidos por Matos et al. (2021), o aumento da velocidade de semeadura, proporciona aumento na profundidade de semeadura. Aa semeadura da soja realizada na velocidade intermediária de 8 Km h-1 proporciona maior espaçamento normal e menor duplo, porém sem influência sobre os espaçamentos falhos. A produtividade pode variar de acordo com o mecanismo sulcador utilizado e a velocidade de semeadura, havendo interação entre os fatores. A plantabilidade é influenciada por fatores como a semente, semeadora e solo e a variação de algum desses fatores pode resultar em diferenças de plantabilidade, impactando inclusive a produtividade da soja.
Nesse contexto, é importante ajustar o mecanismo sulcador e a velocidade de semeadura de acordo com as condições particulares da área de cultivo, melhorando tanto a plantabilidade quanto a produtividade da cultura da soja. Essa etapa é fundamental para melhorar o desempenho da semeadura e, consequentemente, garantir maiores rendimentos na produção de soja.
Considerando que tanto a ocorrência de falhas quanto de duplas na lavoura pode impactar na densidade populacional de plantas, seja pela redução ou pelo adensamento de plantas, o que por sua vez reflete na produtividade da cultura e na competição das plantas por recursos essenciais, a plantabilidade acaba refletindo tanto de forma direta como indireta na produtividade da cultura. Portanto, é fundamental considerar os fatores que influenciam a plantabilidade, a fim de proporcionar condições ideais para um bom estabelecimento da lavoura com populações adequadas nos espaçamentos aceitáveis.
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Referências:
ARBEX, P. DUPLAS, FALHAS E ACEITÁVEIS. Mais Soja, 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=W-qG8axk334&t=242s >, acesso em: 23/10/2023.
CONTE, O. PLANTABILIDADE NA CULTURA DA SOJA: ATUALIZAÇÃO NO CULTIVO DA SOJA. Embrapa Soja. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355202/1529289/2-Osmar_Plantabilidade.pdf/d77e9697-97d9-df21-b377-b1f4e0b78f4a?version=1.0&download=true >, acesso em: 23/10/2023.
GAZIEL, K. L. et al. REGULARIDADE DE DISTRIBUIÇÃO EM DIFERENTES VELOCIDADES DE SEMEADURA DE SOJA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO. Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC, Belém – PA, 2017. Disponível em: < https://www.confea.org.br/sites/default/files/antigos/contecc2017/agronomia/110_rddedvdsdsespd.pdf >, acesso em: 23/10/2023.
MARTIN, T. N. et al. PLANTABILIDADE E VELOCIDADE DE SEMEADURA NA CULTURA DA SOJA. Tecnologias Aplicadas para o Manejo Rentável e Eficiente da Cultura da Soja, Editora GR. Santa Maria – RS, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/240497/1/Cap-plantabilidade.pdf >, acesso em: 23/10/2023.
MATOS, E. S. et al. MECANISMOS SULCADORES E VELOCIDADE DE SEMEADURA NA PLANTABILIDADE E PRODUTIVIDADE DA SOJA. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável, v. 11, n. 1, p. 36-42, 2021. Disponível em: < https://periodicos.ufv.br/rbas/article/view/12005/6652 >, acesso em: 23/10/2023.
REYNALDO, E. F. et al. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO NA DISTRIBUIÇÃO DE SEMENTES E PRODUTIVIDADE DE SOJA. Engenharia na agricultura, v. 24, n. 1. Viçosa – MG, 2016. Disponível em: < https://periodicos.ufv.br/reveng/article/view/571/388 >, acesso em: 23/10/2023.
ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGICA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. 136p., ed. 1, Santa Maria – RS, 2018.