Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja registraram um importante aumento nesta semana, especialmente após o anúncio dos relatórios de plantio e de estoques trimestrais feito pelo USDA no dia 30/06. Assim, o primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (02/07) em US$ 8,92/bushel, contra US$ 8,69 uma semana antes. O fechamento deste dia 02 de julho não era visto desde o início de março, portanto, há quatro meses. A média de junho ficou em US$ 8,67/bushel, contra US$ 8,42 em maio.

Dois motivos estiveram puxando as cotações: a previsão de clima seco nos próximos 14 dias no Meio Oeste dos EUA, dentro da natural especulação climática que sempre ocorre nesta época do ano por lá; e o fato de que o relatório de plantio, anunciado pelo USDA, mesmo indicando um aumento de 10% na área semeada com soja nos EUA, não agradou o mercado pois o mesmo esperava uma área maior.

Efetivamente, o relatório de plantio indicou uma área semeada com soja em 33,9 milhões de hectares. Em produtividade normal, tal área poderá resultar em uma safra final entre 115 e 118 milhões de toneladas no país norte-americano, recompondo bem a frustrada safra passada, a qual foi um pouco superior a 96 milhões de toneladas. Ou seja, em clima normal, os EUA poderão colher algo em torno de 20 milhões de toneladas a mais do que no ano anterior. Tal situação deverá levar Chicago a um recuo nas semanas futuras caso o clima nos EUA venha a ser normal.

Quanto ao relatório de estoques trimestrais, na posição 1º de junho, o mesmo indicou um recuo de 22% sobre o volume existente um ano antes. Tal volume ficou em 37,8 milhões de toneladas, enquanto o mercado esperava um número um pouco menor, ao redor de 37,6 milhões.

Em paralelo, as condições das lavouras de soja dos EUA melhoraram, sendo que no dia 28/06 as mesmas atingiam a 71% entre boas a excelentes (70% na semana anterior), enquanto 24% estavam regulares e 5% entre ruins a muito ruins. O plantio nos EUA está encerrado, com 95% da área com soja já emergida e 14% em floração, ou seja, em estágio bem mais avançado do que a média histórica.

Quanto aos embarques de soja por parte dos EUA, o volume atingiu a 324.512 toneladas na semana anterior, acumulando 36,8 milhões de toneladas no atual ano comercial. Apenas 0,8% a menos do que o registrado em igual momento do ano anterior.

Neste contexto, embora Chicago deva continuar oscilando bastante em torno das especulações climáticas nos EUA, podendo sim romper o teto dos US$ 9,00/bushel, a tendência é de cotações voltando para níveis entre US$ 8,00 e US$ 8,50/bushel caso a colheita estadunidense venha normal. Por enquanto, todos os indicativos estatísticos e de evolução da safra apontam para isso. Lembrando que, até a colheita no final de setembro, muita coisa pode acontecer.

Aqui no Brasil, diante de cotações em Chicago em elevação, um câmbio que se mantém entre R$ 5,30 e R$ 5,50 por dólar, e prêmios nos portos acima de US$ 1,00/bushel, os preços da soja subiram novamente.

O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 103,10/saco, enquanto nas demais praças os preços da oleaginosa, na média, assim ficaram: R$ 98,50 e R$ 100,50/saco no Paraná; R$ 110,00 no CIF em Rondonópolis (MT); R$ 104,00 em Maracaju (MS); R$ 98,00 em Rio Verde (GO) e R$ 100,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).

Por outro lado, segundo a Abiove, a safra brasileira em 2020 teria alcançado 125 milhões de toneladas. Somando a estas o total de estoques iniciais no ano, há soja suficiente para atender a demanda nacional pelo produto, segundo ainda a Associação.



A entidade reviu para cima as exportações do grão de soja, apontando agora 79,5 milhões de toneladas, enquanto em farelo de soja o país exportaria 16,5 milhões. Em óleo de soja o volume exportado chegaria a um milhão de toneladas. O Brasil já teria embarcado 63,8 milhões de toneladas de soja no primeiro semestre do corrente ano, superando em 43,7% o volume praticado em igual período do ano passado. Somente em junho, segundo a Secex, o país exportou 13,75 milhões de toneladas de soja, ou seja, 60,8% acima do registrado no mesmo mês de 2019. E tudo isso graças especialmente à China, que continua comprando muita soja no Brasil enquanto os constantes atritos políticos e comerciais com os EUA continuam, além do câmbio favorável. Para julho, já há programação de embarque de 7 milhões de toneladas.

Por sua vez, entre farelo e óleo de soja o Brasil já teria exportado 61% da produção, contra 46% no mesmo período do ano passado, indicando que os subprodutos da soja igualmente estão tendo demanda externa firme. Ao mesmo tempo, o consumo nacional de farelo de soja ficaria em 16,7 milhões de toneladas, com um recuo de 3,2% na comparação com 2019.

O esmagamento de soja no Brasil deverá atingir a 44,5 milhões de toneladas em 2020, superando em 2,4% o volume do ano anterior.

No conjunto do “complexo soja” o Brasil deverá exportar, em 2020, um total de US$ 32,6 bilhões, ficando muito próximo do ano anterior devido aos preços internacionais estarem, em média, um pouco mais baixos.

Diante de todo este quadro, a Abiove estima que o estoque final de soja no final de 2020, deva ficar em 669.000 toneladas, contra 1,67 milhão na previsão anterior e 3,3 milhões no final de 2019. Em se confirmando este volume, o mesmo será o menor da história no Brasil, ajudando a dar sustentação aos preços até a nova safra.

Outro cenário positivo para a soja é que a demanda de óleo voltou a crescer, graças ao aumento na produção de biodiesel em função da retomada, mesmo que parcial, da economia nacional no contexto da pandemia do Covid-19.

Em síntese, a conjuntura está favorável aos preços da soja no momento. O desenvolvimento da safra nos EUA, até sua colheita, e do câmbio no Brasil ditarão o percurso destes preços até o final do ano. Em condições normais, a tendência é de as duas variáveis cederem um pouco no segundo semestre, afetando para baixo os preços da soja. Isso reforça ainda mais a estratégia correta dos produtores de avançarem nas vendas futuras atualmente, visando garantir um preço excelente no final da colheita do próximo ano.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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