Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

As cotações do trigo, em Chicago, recuaram fortemente nesta semana. O primeiro mês cotado literalmente despencou de US$ 11,43/bushel no dia 26/05, para US$ 10,41 no dia 01/06, perdendo pouco mais de um dólar por bushel em três dias úteis. Posteriormente, ajustes técnicos elevaram para US$ 10,58 o fechamento da quinta-feira (02/06) para o primeiro mês cotado. Lembrando que este bushel havia chegado a US$ 12,77 em 17 de maio passado.

A possibilidade de uma abertura russa às exportações ucranianas de cereais pressionaram o mercado, pois a Ucrânia é um dos grandes exportadores de trigo. Ao mesmo tempo, nos EUA, 72% do trigo de inverno havia germinado, contra a média histórica de 76%, na data de 29/05. Já as condições das lavouras deste trigo, na mesma data, apresentavam 40% entre ruins a muito ruins, 31% regulares e 29% entre boas a excelentes. Enquanto isso, o trigo de primavera, naquele país, havia sido semeado em 73% da área esperada, no final de maio, contra 92% na média histórica para a data. Já 42% das lavouras estavam emergidas, contra 69% na média histórica.(cf. USDA)

Pelo lado das exportações, os EUA, na semana encerrada em 26/05, embarcaram 343.927 toneladas de trigo, ficando o volume dentro do esperado pelo mercado. No total do atual ano comercial, o volume atinge a 20 milhões de toneladas, diante de mais de 25 milhões um ano antes, na mesma data.

Por sua vez, a previsão de produção, do trigo macio na União Europeia e Reino Unido, subiu para 143 milhões de toneladas no atual ano comercial, ganhando quase dois milhões sobre as estimativas de março. Somente a França deverá colher 34,8 milhões de toneladas deste trigo, enquanto no Reino Unido a colheita será de 15,6 milhões de toneladas. Já na Ucrânia, a produção prevista é de 19,2 milhões de toneladas, contra as 33 milhões colhidas em 2021. Com isso a Ucrânia, talvez, consiga exportar, no máximo, 10 milhões de toneladas de trigo, contra 19 milhões no ano anterior.

Já no Brasil, os preços do trigo se mantiveram elevados, com a média gaúcha atingindo a R$ 110,78/saco, enquanto as principais regiões produtoras ficavam em R$ 112,00. No Paraná, o saco do cereal girou entre R$ 102,00 e R$ 105,00.

A situação para os compradores nacionais de trigo não é das melhores, pois logo mais terão que ir às compras, devendo pagar mais caro pelo produto. Para esta próxima safra, os indicativos de preço estão na casa de R$ 2.000,00/tonelada no Paraná e entre R$ 2.200,00 e R$ 2.300,00 no porto de Rio Grande. (cf. Safras & Mercado)

O plantio da nova safra continua avançando no país, com o processo tomando mais corpo também no Rio Grande do Sul, apesar das constantes chuvas. Até o final de maio cerca de 35% da área esperada no país já teria sido semeada.



Enquanto isso, a Abitrigo divulgou pesquisa, com dados de 2021, indicando que houve estabilidade na demanda de farinha de trigo no Brasil, enquanto os custos de produção do cereal já disparavam. No ano foram moídas 12,67 milhões de toneladas de trigo no país, gerando cerca de 9,9 milhões de toneladas de farinha. Cerca de 44% deste volume de farinhas foi consumido no segmento de panificação.

Enfim, mesmo sendo um dos maiores importadores mundiais de trigo, de forma individual, o Brasil já exportou, nos quatro primeiros meses de 2022, um total de 2,3 milhões de toneladas do cereal, ou seja, mais do que o dobro do volume de igual período do ano passado. Lembrando que as importações de trigo, no período, foram de 2,04 milhões de toneladas. Ou seja, exportamos mais do que importamos trigo no primeiro quatrimestre do corrente ano. Os altos preços internacionais e o bloqueio das exportações da Ucrânia, devido à guerra, estimulam nossas vendas externas, mesmo com um Real bem mais valorizado.

No final de maio a tonelada de trigo brasileiro era vendida por US$ 358,11, enquanto o produto do sul do país, por exemplo, na média, ao produtor, se fixava ao redor de US$ 364,42, ao câmbio de R$ 4,90 por dólar. O problema é que, com a disparada inflacionária no país, o consumo freou, sobrando mais produto para exportar. Antes da guerra, o Brasil tinha comprometido 2,686 milhões de toneladas de trigo ao exterior.

Depois da guerra, triticultores venderam mais 180 mil toneladas no fim de fevereiro e março, para embarque em março, e outras 150 mil toneladas para embarque em abril. (cf. Trigo & Farinhas) O volume exportado no primeiro quadrimestre deste ano foi 313,6% superior ao comercializado em igual período do ano passado. O preço médio do cereal exportado ficou 40,8% acima do registrado um ano antes.

O real desvalorizado no período de fechamento dos acordos, combinado com o cenário de cotações mundiais elevadas, puxou a competitividade do cereal brasileiro frente aos concorrentes e até mesmo ante exportadores tradicionais de trigo. Assim, quando as tradings fizeram as compras, o trigo brasileiro era o mais barato do mundo com real desvalorizado, preços mundiais elevados, entressafra no mercado mundial e entrada da safra brasileira de 2021. O principal destino do cereal brasileiro, no primeiro quadrimestre, foi a Arábia Saudita, que comprou 504.969 toneladas de trigo do país. Na sequência, aparecem Indonésia (360.498 toneladas) e Marrocos (322.044 toneladas). (cf. Hedge Point) Espera-se que um total de 3,02 milhões de toneladas de trigo, da safra 2021, venham a ser exportadas. E não se descarta que, para a safra 2022, se a mesma vier cheia, o país exporte entre 3 a 3,5 milhões de toneladas, de uma produção total esperada um pouco acima de 8 milhões de toneladas. (cf. Trigo & Farinhas)


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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