Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do milho em Chicago acabaram estáveis nesta semana, com o bushel fechando a quinta-feira (03) em US$ 6,62, contra US$ 6,64 uma semana antes, após ensaiar uma alta nos dias anteriores. A média de maio ficou em US$ 6,97/bushel, com aumento de 13,1% sobre a de abril. Para comparação, em maio de 2020 a média havia sido de US$ 3,18/bushel. Ou seja, o milho em Chicago, em termos médios, assistiu a um aumento de 119,2% nos últimos 12 meses.
E também aqui, embora a especulação climática seja um elemento presente em relação a nova safra dos EUA, o plantio da mesma está normal e muito avançado. Em 30/05 ele havia alcançado 95% da área esperada, contra 87% na média histórica. Do total semeado, 81% já havia germinado naquela data e as condições das lavouras assim se apresentavam: 76% entre boas a excelentes, 20% regulares e 4% entre ruins a muito ruins.
Enquanto isso, os embarques de milho por parte dos EUA somavam 2,05 milhões de toneladas na semana encerrada em 20/05, superando as expectativas do mercadol. No acumulado do ano, os EUA já exportaram 50,9 milhões de toneladas, ou seja, 96% acima do realizado um ano antes.
Por sua vez, na Argentina a colheita da atual safra de milho chegou a 31% da área na entrada de junho, com uma produtividade média de 8.500 quilos/hectare, ou seja, 141,7 sacos/ha. A Argentina espera colher 46 milhões de toneladas do cereal, contra 51,5 milhões colhidas no ano anterior.
E aqui no Brasil os preços do milho acabaram recuando em algumas praças e subindo em outras nesta semana, enquanto se confirma forte quebra na safrinha. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 85,89/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços do cereal oscilaram entre R$ 79,00 e R$ 99,00/saco, sendo que o CIF Campinas (SP) voltou para o patamar de R$ 102,00/saco.
Já na B3, o fechamento da quarta-feira (02), antes do feriado de Corpus Christi no Brasil, ficou em R$ 95,70/saco para o contrato julho; R$ 97,60 para setembro; R$ 98,48 para novembro; e R$ 100,00/saco para janeiro/22.
O recuo nos preços do milho em algumas praças veio do maior interesse de venda por parte de quem possui o cereal estocado, ainda da safra de verão. Além disso, a revalorização do Real freia as exportações, direcionando mais milho para o mercado interno. Dito isso, a grande preocupação continua sendo a performance final da safrinha.
Neste sentido, enquanto o Rio Grande do Sul se aproxima do encerramento de sua colheita de milho de verão, as diferentes consultorias privadas e mesmo os órgãos públicos, como a Conab, continuam revendo para baixo a safrinha. Com isso, a safra total de milho no Brasil, neste ano, deverá ficar em 95,2 milhões de toneladas, contra 104,1 milhões na projeção feita em abril. A safrinha deverá ficar em 61,6 milhões de toneladas, contra 70,8 milhões indicadas em abril e 73,5 milhões colhidas no ano passado (cf. Safras & Mercado). Outra consultoria (cf. AgRural) aponta que a safrinha ficará em 60 milhões de toneladas, com uma redução de 17 milhões de toneladas em relação ao esperado no início do plantio no Centro-Sul brasileiro. Nesta caso, espera-se uma produtividade média na região de apenas 77,5 sacos/hectare, sendo a mais baixa desde 2016. Em somando a produção esperada no Norte e Nordeste, estima-se que a safrinha alcance 64,6 milhões de toneladas neste ano, contra 75,1 milhões no ano passado. Para esta consultoria, a produção final total de milho no Brasil neste ano ficará em 90,9 milhões de toneladas, contra 102,6 milhões no ano anterior.
Quanto as exportações de milho, a Secex informou que nos primeiros 21 dias de maio o país embarcou para o exterior 13.920 toneladas do cereal. A média de embarque, nos primeiros cinco meses do ano, está em 662.900 toneladas, ficando 46,8% abaixo da média do mesmo período do ano passado. O preço da tonelada exportada aumentou 18,06% em relação ao ano anterior, ficando na média de US$ 317,60 neste mês de maio. Diante deste comportamento, as exportações totais de milho neste ano podem recuar para algo entre 21 milhões de toneladas (cf. StoneX) e 24 milhões de toneladas (cf. Safras & Mercado), sendo que os mais otimistas ainda acreditam na possibilidade de o país repetir o volume do ano passado, podendo chegar a um volume exportado entre 30 e 35 milhões de toneladas (cf. Brandalizze Consulting).
O fato é que será difícil repetir os volumes exportados do ano passado diante da forte quebra da safrinha. Entre as projeções mais otimistas de produção, no início do plantio, e as calculadas neste início de junho, a quebra gira ao redor de 22 milhões de toneladas para todo o Centro-Sul brasileiro. Assim, a produção total de milho no país está hoje estimada entre 90 e 95 milhões de toneladas, contra 112 milhões que se chegou a projetar no início do atual ano comercial.
Nestas condições, dificilmente os preços do milho irão baixar muito, salvo no momento da entrada desta safrinha. Mas se a demanda interna continuar intensa, mesmo com menor exportação, os preços do cereal devem continuar bastante sustentados até a entrada da nova safra de verão, no início de 2022. Soma-se a isso, o fato de que 60% da atual safrinha já foi comercializado, ficando pouco milho para ser negociado a partir da colheita, fato que tende a pressionar ainda mais os preços.
Enfim, para completar o quadro, Goiás projeta uma quebra de 38% em sua safrinha de milho, enquanto o Mato Grosso do Sul calcula perdas que podem ser importantes, pois apenas 6% das lavouras, neste início de junho, estariam em boas condições, contra 71% regulares e 23% ruins (cf. Ifag e Famasul).
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).