Assim como a maior parte das culturas agrícolas, a soja necessita de condições adequadas de temperatura, radiação solar, nutrientes e água para o bom crescimento e desenvolvimento vegetal, resultando em boa produtividade da cultura. Entretanto, dependendo do estádio de desenvolvimento em que a cultura se encontra, maiores ou menores exigências podem ser observadas.
Quando a soja entra no período reprodutivo aumenta-se o acúmulo de massa seca (MS) e nutrientes na planta, sendo maior no período de enchimento de grãos.
Figura 1. Marcha de absorção e acúmulo de nutrientes na cultura da soja.
Com o aumento do acúmulo de matéria seca, a planta tende a transpirar mais, elevando seu requerimento hídrico, conforme observado por Berlato et al. (1986) e apresentado na figura 2.
Figura 2. Evapotranspiração (ET) diária da cultura da soja nos diferentes estádios do desenvolvimento.
Segundo Farias et al. (2007), a disponibilidade hídrica durante o ciclo de desenvolvimento da soja é o principal fator limitante da produtividade da cultura. A disponibilidade hídrica desempenha papel fundamental principalmente em dois períodos do desenvolvimento da soja, sendo eles germinação-emergência e floração-enchimento de grãos.
Os autores destacam que no período germinação-emergência, tanto o déficit quanto o excesso hídrico podem prejudicar a germinação das sementes. Para dar início ao processo germinativo, além de adequadas condições de temperatura, a semente de soja necessita absorver cerca de 50% do seu peso em água. Já no período de floração-enchimento de grãos, e evapotranspiração da cultura eleva-se consideravelmente, variando entre 7 e 8 mm.dia-1. Sendo assim, períodos prolongados de déficit hídrico podem prejudicar a cultura nesse, comprometendo sua produtividade.
Segundo Zanon et al. (2018), a deficiência hídrica ocorre quando á absorção de água é inferior à transpiração da planta. Esse fato desencadeia desidratação da planta, que tenta resistir reduzindo seu metabolismo, fechando os estômatos para minimizar e transpiração, enrolando folhas e até mesmo reduzindo a área foliar exposta á radiação solar, por meio da senescência prematura em casos mais severos.
Plantas infestadas com nematoides ou em áreas com elevada compactação do solo tendem a ser mais sensíveis ao déficit hídrico, podendo apresentar sintomas mais acentuados. Conforme destacado por Matzenauer & Barni (2003), o período entre R1 e R5 é o período mais crítico para a cultura da soja, sendo observadas maiores perdas de produtividade quando ocorrem déficits nesses períodos.
Dentre as estratégias para minimizar os danos ocasionais pelo déficit hídrico, podemos destacar práticas como a descompactação do solo por meio de plantas de cobertura ou métodos mecânicos como a escarificação, promovendo melhores condições para o crescimento radicular e consequentemente maior absorção de água e nutrientes; o uso de cultivares tolerantes; a aplicação do zoneamento de risco climático para planejamento dos períodos de semeadura; a irrigação das áreas de cultivo, entre outros práticas agronômicas.
Quando utilizada a irrigação, deve-se estabelecer limites para a irrigação da cultura, limites esses que levam em consideração a profundidade do sistema radicular e a fração de água disponível no solo. Segundo Montovani et al. (2009), o fator de disponibilidade de água tem como objetivo limitar parte da água disponível no solo que a planta possa utilizar sem que sejam observadas perdas de produtividade na cultura. Para o cultivo de grãos o fator de disponibilidade mais utilizado varia entre 0,4 e 0,6; ou seja, 40 a 60% da água disponível no solo.
Figura 3. Ilustração do total de água disponível (TAW) em um perfil de solo homogêneo, de 70 cm de profundidade, incluindo a umidade de saturação, a lâmina de água na capacidade de campo e ponto de murcha permanente (mm) e a depleção permitida para que não ocorra estresse nas plantas (linha tracejada, em vermelho), (Petry et al., 2020).
Conforme ilustrado na figura 3, o déficit hídrico tem início após a faixa pré estabelecida pelo fator de disponibilidade de água, sendo assim, sempre que atingido esse valore, deve-se irrigar a área de cultivo para evitar o déficit hídrico. Entretanto, cabe destacar que o fator de disponibilidade pode variar de acordo com a cultura, profundidade do sistema radicular e estádio de desenvolvimento da cultura com base em sua exigência hídrica.
Veja também: Evapotranspiração padrão e real da cultura da soja
Referências:
FARIAS, J. R. B. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 48, 2007.
MATZENAUER, R.; BARNI, N. A. ESTIMATIVA DO CONSUMO RELATIVO DE ÁGUA PARA A CULTURA DA SOJA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Ciência Rural, v. 33, n. 6, nov-dez, 2003.
MONTOVANI, E. C. et al. IRRIGAÇÃO: PRINCÍPIOS E MÉTODOS. UFV, ed. 3, 2009.
PETRY, M. T. et al. IRRIGAÇÃO DE MILHO: ENTENDA QUANDO É NECESSÁRIA A IRRIGAÇÃO, QUANTO DE ÁGUA APLICAR E A IMPORTÂNCIA DISSO PARA A PRODUTIVIDADE DE MILHO. Sementes Biomatrix, 2020. Disponível em: <https://blog.sementesbiomatrix.com.br/fertilidade-e-nutricao/produtividade-agricola/irrigacao-de-milho/>, acesso em: 16/10/2020.
ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 1, 2018.
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