As lagartas do Complexo Spodoptera causam prejuízos nas vagens da soja devido ao seu comportamento cosmopolita e voraz. O ataque da praga por iniciar no período vegetativo da soja e se estender até próximo à colheita.

O controle biológico é a utilização de organismos vivos, como fungos, bactérias, vírus, parasitoides e determinados ácaros, nematoides e insetos predadores, aplicados ou preservados no ambiente.

O controle das lagartas geralmente é realizado através de aplicações tradicionais de inseticidas químicos. O uso de soja com tecnologia Bt não é eficiente para o controle das lagartas do complexo Spodoptera. Outros métodos, como o biológico podem ser adotados e reduzir as populações da praga, agregando vantagens para o produtor.

Neste texto vamos estudar a importância e a efetividade do controle biológico e de insetos-chaves que ocorrem naturalmente no ambiente. Note que cada lagarta apresenta comportamento, biologia e preferências distintas, sendo necessário um manejo mais apropriado para cada espécie.

Figura 1. Identificação de lagartas do Complexo Spodoptera. 

Broca-grande, lagarta-das-folhas ou lagarta-das-vagens (S. eridania)

O manejo com percevejo, Podisus nigrispinus, é eficiente no manejo de diversos lepidópteros. Contudo, podemos confundir a sua espécie com outros pentatomídeos que causam prejuízos na soja. Assim, precisamos saber identificar corretamente e propiciar ambiente favorável para seu desenvolvimento.

Laercio Dalla Vecchia, campeão nacional 19/20 do CESB, relatou em vídeo para o Mais Soja sobre a importância de sabermos identificar os inimigos naturais e as pragas. Na Figura 2, podemos observar sua fase ninfal (a) e adulta (b), alimentando-se de pequenas lagartas-da-soja.

Figura 2. Ninfa (a) e adulto (b) de Podisus sp. se alimentando de lagarta Anticarsia gemmatalis. 

Fonte: J. J. da Silva.

Em uma pesquisa de Carvalho (2016), intitulada “Comportamento e desempenho de agentes de controle biológico sobre Spodoptera eridania”, foi avaliada a eficiência do controle  de lagartas com percevejos pentatomídeos.

Como observamos na Figura 3, os percevejos preferem atacar a região frontal da lagarta.

Figura 3. Ataque do percevejo na região frontal da lagarta S. eridania. 

Foto: Carvalho (2018).

Em 16 minutos os percevejos provocam cerca de 60% de mortalidade da lagarta. Em cerca de duas horas, o predador pode suprimir toda a população (Figura A). Contudo, caso os percevejos já estejam adaptados a atacar lagartas, em 4 minutos a população de percevejos pode reduzir drasticamente os insetos-pragas (Figura 4 – B)


Veja também: Percevejos Benéficos em Soja?


Figura 4. Potencial de mortalidade (%) das pragas quando existem predadores iniciais (A) e adaptados (B).

Foto: Carvalho (2018).

Perceba que o controle biológico pode ter rápido impacto na redução da população de pragas fitófagas. Recomenda-se preservação destes insetos que favorecem o controle natural de lagartas.



Lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar (S. frugiperda)

É a praga que apresenta maior relevância na cultura do milho. O uso de baculovírus pode suprimir as pragas, como mostram estudos de Cunha (2017) no combate à lagarta-do-cartucho (S. frugiperda).  A utilização do baculovírus ocorre através da pulverização foliar de partículas que contém o vírus.

O inseto ao se alimentar, contamina-se e morre. As partículas virais são dissolvidas no intestino da praga e difundidas por todo seu corpo. Após 7 dias do consumo do alimento contaminado, interrompe-se o ciclo da praga. Uma lagarta de Spodoptera frugiperda contaminada com o vírus ingere 7% do alimento que consumiria se estivesse sadia (Valicente & Cruz, 1991).

Figura 5. S. frugiperda infectada com baculovírus. 3. A) Lagartas mortas com o isolado (I6) que não provoca o rompimento imediato do tegumento; 3. B) Lagartas mortas com o isolado que provoca o rompimento imediato do tegumento.

Fotos: Fernando Hercos Valicente.

As tesourinhas (Doru luteipes e Euborelia anullipes), agentes de controle natural, também podem combater ovos e lagartas de S. frugiperda. Na Figura 6, note que a predação pode ocorrer em várias fases de desenvolvimento da praga (ovos e lagartas). As duas espécies de tesourinhas podem interferir de modo a causar aproximadamente 90% de predação.

Figura 6. Predação (%) de Doru luteipes (esquerda) e Euborelia anullipes (direita) em apenas 1 dia.

Fonte: Souza et al. (2019).

Parasitoides de ovos também realizam a função de eliminar a população de lagartas, como o Trichogramma spp. Estão naturalmente no ambiente. Contudo, devido as aplicações de inseticidas estes organismos benéficos são drasticamente reduzidos. Assim, há produção de parasitoides e sua liberação na lavoura. Além da vantagem da eficiência de controle, há uma redução de custos entre 30-45% com uso dos parasitoides (Jiménez, 2015).

Lagarta-preta, lagarta-das-folhas, lagarta-das-vagens (S. cosmioides)

O controle pode ser utilizado através de bioinseticidas a base de Bt. Estes organismos são compostos de bactérias retiradas do solo que apresentam ação tóxica às lagartas quando ingerem o alimento contaminado.

Loureiro, et al. (2020), verificou que o tratamento com Bt (Dipel) pode reduzir a população de lagartas, sendo o melhor método de controle entre todos os testados, como visualizamos na Tabela 1. Perceba que as demais ferramentas biológicas não atingiram controle superior a 80%.

Segundo os autores, utilizando da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), houve incremento da produtividade em 15 sacas/hectare quando se compara com lavouras sem tratamento.

Tabela 1. Eficiência de controle (%) de produtos químicos e biológicos.

Fonte: Loureiro et al. (2020).

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Para as aplicações de organismos vivos, como baculovírus e bioinseticidas a base de Bt, devemos atentar para as condições ambientais no momento de aplicação. Cenários extremos de temperaturas baixas ou elevadas, podem comprometer a viabilidade e eficiência do produto.

Considerações finais

Os manejos com organismos vivos incluem vírus, bactérias, fungos, determinados insetos predadores, ácaros e nematoides que apresentam a capacidade de suprimir insetos-pragas. Estes organismos podem estar no ambiente ou podem ser inseridos nele.

As ferramentas de manejo de combate com organismos vivos correspondem tanto às aplicações quanto à preservação dos inimigos naturais. Note que ambas as técnicas contribuem para um manejo mais sustentável e econômico. Contudo, antes de pulverizar, lembre-se de que é preciso atingir o nível de controle de insetos para intervir com medidas de controle.

A proposta do texto é enfatizar que além do controle químico, existem estratégias biológicas que auxiliam no manejo no combate as principais pragas agrícolas. Lembre-se de que estes amigos do produtor e inimigos das pragas, podem ser preservados na sua lavoura e reduzir custos de aplicações. Nota-se a importância de sabermos identificar corretamente quem são os favoráveis ao desenvolvimento sustentável e ecológico.

Referências:

CARVALHO, José. Comportamento e desempenho de agentes de controle biológico sobre Spodoptera eridania (Lepidoptera: Noctuidae). 2018.

CUNHA, Isabella Cardoso et al. Controle biològico de spodoptera frugiperda: eficiência do uso de bacilovirus spodoptera e outras técnicas. 2017.

LOUREIRO, E. S.  et al. Management of Spodoptera cosmioides (Walker)(Lepidoptera: Noctuidae) with bioinsecticides. Research, Society and Development, v. 9, n. 7, p. 280974142, 2020.

JIMÉNEZ L. M. Vespa parasitoide Trichogramma sp. Controle biológico de lagartas. Mundo horta, agosto de 2015.

SOUZA, C. et al. Controle biológico: qual espécie de tesourinha consome mais lagartas e pode ser menos sensível à exposição a inseticidas?. Embrapa Milho e Sorgo-Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento (INFOTECA-E), 2019.

VALICENTE, F.H.; CRUZ, I. Controle biológico da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, com o baculovírus. Circular Técnica, n. 15, 1991.

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Redação: Equipe Mais Soja.

 

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