A fixação biológica do nitrogênio é a principal forma de obtenção desse nutriente na cultura da soja. Esse processo ocorre nos nódulos, e é realizado por espécies de bactérias que habitam o solo ou que são fornecidas via inoculante, capazes de fixar biologicamente o N2 e posteriormente, provocar a sua redução até amônia (NH3), que será incorporada em aminoácidos, na rota final do metabolismo do nitrogênio (Hungria et al., 2001).
A maior parte dos estudos que visam determinar a fixação biológica na cultura é realizada por meio da mensuração de massa e número de nódulos nas plantas. No entanto, esse método depende da coleta da raiz de forma eficiente do solo, o que é dificultado à metida que a planta se desenvolve. Desta forma, essa medida nem sempre representa a eficiência da fixação de N, sendo assim considerada uma medida indireta.
Veja também: Fixação biológica do nitrogênio
Portanto, se faz necessário o desenvolvimento de pesquisas que buscam estabelecer medidas diretas para a determinação da fixação biológica do nitrogênio (FBN) na cultura da soja ao longo do ciclo de desenvolvimento da planta. O conhecimento desse processo irá permitir futuras pesquisas referentes ao manejo da cultura, como o posicionamento de produtos como nitrogênio foliar e aminoácidos, com o objetivo de aumentar a FBN e, consequentemente a produtividade.
Em trabalho apresentado e publicado nos anais do VIII Congresso Brasileiro de Soja, número 99, página 326 da sessão de Fisiologia Vegetal, Agrometeorologia e Práticas Culturais, realizado em Goiânia no ano passado, os autores TEIXEIRA, W.F.; DOURADO NETO, D.; FAGAN, E.B.; SOARES, L.H.; PEREIRA, I.S.; SANTOS, L.L.S.; CABRAL, E.M.A.; SANTOS, H.C.; e SILVA, L.G. estudaram medidas diretas para a determinação da fixação biológica do nitrogênio (FBN) na cultura da soja ao longo do ciclo de desenvolvimento da planta. O trabalho pode ser acessado nos anais do VIII Congresso Brasileiro de Soja, número 99, página 326 da sessão de Entomologia.
A pesquisa foi conduzida no campo experimental da Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba (COOPADAP), localizado em Minas Gerais, no período de outubro de 2017 a fevereiro de 2018. Foi utilizada a cultivar TEC 7849 IPRO de ciclo precoce, com população de 350.000 mil plantas. Os tratamentos foram constituídos por diferentes épocas de coleta (V3/4, V6, R1/2, R3, R4, R5.5).
As avaliações foram realizas nos estádios V3/4, V6, R1/2, R3, R4, R5.5. Em cada estádio fenológico foram coletadas duas plantas por parcela experimental (repetição). Foi determinado o nitrogênio derivado da fixação biológica (Ndfa), o cálculo foi realizado com base nas quantificações de Nitrato (N-NO3), aminoácidos totais (N-Aminoácidos) e ureídeos. Foram coletadas as hastes e pecíolos das plantas, este material foi colocado em estufa de circulação forçada de ar a 65 °C, durante período de 72 horas.
Após a secagem, 200 mg de material vegetal moído foi transferido para tubos falcon e adicionados 10 mL de água destilada. Após esse procedimento o material foi incubado a 45 °C durante uma hora e posteriormente centrifugado em rotação de 10.000 rpm durante 15 minutos, ao final o sobrenadante foi separado e armazenado em local refrigerado para posterior avaliação. Foi realizada a determinação de nitrato, aminoácidos totais e ureídeos.
Durante o ciclo da cultura ocorreu variação na abundância relativa de ureídeos (Rur) e na fixação biológica (Ndfa). Os valores de Rur variaram de 37 a 82%, desde V3/4 até R5.5, o que demonstra o incremento da fixação biológica entre a fase vegetativa e reprodutiva (Tabela 1). Comportamento semelhante foi observado para os valores de Ndfa, onde no estágio V3/4 56% do nitrogênio adquirido pela cultura foi oriundo da fixação biológica, até chegar em 89% no estádio R5.5. Na Figura 1 é possível observar também os picos de fixação biológica ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura, os quais ocorreram em R1/2 e R5.5.


O pico fotossintético ocorre em R2, devido à demanda energética da planta. Isso resulta na maior produção de carbono, que poderão ser destinados a geração de energia para ser usada no processo de fixação. No entanto, após esse incremento, a planta passa por um período de estabilização, e a taxa fotossintética cai logo em seguida (R3). A redução da fotossíntese leva a menor produção de carbono, que repercute em menor energia para ser destinada aos nódulos para a fixação biológica, o que leva, portanto, à consequente redução do Ndfa.
Nesse contexto, os autores puderam concluir que a cultura da soja apresenta diferentes percentuais de nitrogênio oriundo da fixação biológica ao longo do seu ciclo de desenvolvimento, e mostrou picos de fixação nos estádios R1/2 e R5.5.
Essas informações podem servir de embasamento para possíveis manejos da adubação nitrogenada em campo, com o objetivo de aumentar a produtividade da cultura. Contudo, enfatiza-se que há necessidade de avaliações similares com outras cultivares e condições de ambiente, a fim de solidificar essa constatação.
O trabalho pode ser acessado nos anais do VIII Congresso Brasileiro de Soja, número 99, página 326 da sessão de Entomologia.
Elaboração: Equipe Mais Soja.