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Giberela e Manchas Foliares no Trigo

A cultura do trigo no Brasil enfrenta desafios constantes devido a incidência de várias doenças ao longo do ciclo de desenvolvimento, entre essas doenças, as causadas por fungos destacam-se como as mais importantes e comuns, de acordo com Santana et al. (2017). As Manchas Foliares e a Giberela são as principais doenças que atingem as lavouras de trigo, ambas têm a capacidade de causar danos consideráveis ​​à cultura, o que se torna ainda mais preocupante devido à dificuldade de controle, especialmente durante períodos de chuvas frequentes e constantes que favorecem sua incidência.

A Giberela do trigo (Triticum aestivum), causada por Gibberella zeae ou Fusarium graminearum, é uma doença de infecção floral. Santana et al. (2012), afirmam que lavouras infectadas por Giberela são identificadas devido à descoloração precoce das espiguetas. À medida em que o patógenos se desenvolve, as glumas das espigas adquirem uma cor salmão e as aristas podem projetar-se para fora das espigas, conferindo à espiga um aspecto arrepiado.

Conforme Lima et al. (2021), períodos prolongados de chuva, com no mínimo de 48 horas consecutivas e temperaturas médias entre 20 e 25 °C, são as condições propícias que favorecem o desenvolvimento da doença. Cunha & Caierão (2023), destacam que o período de predisposição à infecção ocorre desde o início da floração, quando há anteras soltas e presa, até o estádio de grão leitoso, marcado pela presença exclusiva de anteras presas. Esse intervalo compreende os estádios 60 a 75 de Zadoks et al. (1974).

De acordo com Santana et al. (2012), os prejuízos ao rendimento de grãos causados pela giberela, são ocasionados pela formação de grãos chochos, que possuem menor peso e tamanho. Em casos de infecções tardias, embora não provoquem a deformação dos grãos, podem levar ao acúmulo de micotoxinas prejudiciais tanto para seres humanos quanto para animais.

Figura 1. Giberela em espiga de trigo.

Foto: Joseani Mesquita Antunes (2023).

De acordo com Costamilan et al. (2021), as doenças denominadas manchas foliares no trigo, são atribuídas a quatro diferentes doenças fúngicas, as quais são conhecidas como Mancha Amarela (Drechslera tritici-repentis), Mancha Marrom (Bipolaris sorokiniana), Mancha das Glumas (Stagonospora nodorum) e Mancha Salpicada (Septoria tritici).

A mancha amarela é causada pelo fungo Pyrenophora tritici-repentis ou Drechslera tritici-repentis, de acordo com Santana et al. (2008), o patógeno é um fungo necrotrófico capaz de sobreviver entre uma safra e outra nos restos culturais deixados sobre o solo.  A ocorrência de chuvas e vento contribuem para a disseminação dos ascoporos. Santana et al. (2012), afirmam que os sintomas em plantas jovens começam com pequenas lesões, com pontuações escuras evoluindo para necroses marrons com halos amarelos devido à produção de toxinas pelo patógeno. Já em cultivares suscetíveis, ao final do ciclo da planta as lesões se unem e, com infecções simultâneas de outros patógenos, resultam em necrose completa do limbo foliar.

Santana et al. (2012), afirmam ainda que a temperatura ideal para o desenvolvimento da mancha amarela está entre 18 e 28° C com período de molhamento variando entre 12 horas, para cultivares suscetíveis a 30 horas contínuas. Além disso, os danos podem variar de 3 a 15%, mas em alguns casos podem chegar a 30 a 40%, os autores destacam que o nível de dano depende da quantidade de chuvas durante o ciclo de cultivo do trigo, que influencia na quantidade de esporos do fungo responsável pela infecção, os danos afetam a área fotossintética da planta, dependendo do número e tamanho das lesões, o que consequentemente, leva a um menor enchimento de grãos, reduzindo a produtividade da cultura.

Figura 2. Mancha amarela em trigo.

Foto: Joseani Mesquita Antunes (2023).

De acordo com Santana et al. (2012), a mancha marrom, ocasionada por Cochliobolus sativus ou Bipolaris sorokiniana, se manifesta por meio de lesões escuras e pontuais nas folhas, que evoluem para formas ovais alongadas de cor marrom escuro. Além disso, essa doença também afeta as bainhas e os colmos. Nas espigas, resulta no escurecimento das glumas e afeta os grãos, causando enrugamento e sintomas de ponta preta.

Prestes afirma que o patógeno que causa a mancha marrom em trigo, além de afetar todos os órgãos aéreos da planta e prejudicar a fotossíntese, ele pode atacar o sistema radicular, causando podridão nas raízes e afetando a absorção de água e nutrientes.  Santana et al. (2012), afirmam ainda que os danos de rendimento de grãos podem variar de 20 a 80%, e as condições ideais para a ocorrência da doença são temperaturas entre 20 e 28° C e período de molhamento foliar de pelo menos 15 horas.

Figura 3. Mancha marrom do trigo.

Foto: Flávio Santana (2020).

Mancha das Glumas causada por Phaeosphaeria nodorum ou Stagonospora nodorum ocorre principalmente em glumas, brácteas florais, nós das plantas e folhas. De acordo com Santana et al. (2012), os sintomas nas folhas são característicos devido à presença de picnídios, pequenos pontos escuros que surgem nas lesões. Esses picnídios liberam uma massa de esporos após um período umidade relativa elevada, apresentando um aspecto pastoso e uma cor que varia de parda a salmão. As condições ideais para o desenvolvimento da doença são temperaturas entre 20 e 25° C e período de molhamento foliar de 12 a 18 horas para que ocorra a infecção.

Figura 4. Mancha de Stagonospora em Trigo.

Foto: Flávio Santana (2020).

A Mancha Salpicada causada por Septoria tritici, de acordo com Prestes, manifesta-se preferencialmente nas folhas, incluindo as bainhas sob forma de pequenas manchas alongadas de cor verde-escuro com aspecto aquoso.  As lesões se desenvolvem rapidamente, localizadas paralelas com as nervuras das folhas, o que limita a expansão do patógeno. À medida que a doença progride, as lesões de unem afetando partes ou a folha inteira, as folhas ficam com cor de palha e é possível observar pequenas estruturas escuras, os picnídios, que surgem paralelamente as nervuras, criando uma aparência salpicado às lesões.

Conforme Ponomarenko et al. (2011), a germinação dos esporos geralmente inicia cerca de 12 horas após o contato com a folha, contudo, para que a infecção aconteça, são necessários pelo menos 20 horas de alta umidade relativa.

Figura 5. Mancha salpicada em folha de trigo.

Fonte: Ponomarenko et al. (2011).

Para o controle de Giberela, recomenda-se o uso de cultivares resistentes e o controle químico, sendo que a tomada de decisão para o uso de fungicidas deve ser feita através do monitoramento da lavoura e quando as condições forem favoráveis para a ocorrência da doença. Dentre as principais medidas para o controle das doenças foliares do trigo, destacam-se a rotação de culturas, uso de cultivares resistentes, tratamento de sementes e aplicação de fungicidas.



Cunha & Caierão (2023), ressaltam que, em sistema plantio direto, o uso de sementes sadias e rotação de culturas são estratégias essenciais para o manejo integrado de manchas foliares. Além disso, recomendam o uso de sementes certificadas provenientes de área de rotação de culturas como estratégia para estabelecer a cultura e controlar manchas foliares. Sugerem também que se realize análise de patologia de semente (testes de sanidade) antes da semeadura, para avaliar a presença de patógenos.

Manter as plantas saudáveis, proporcionando adubação, de acordo com as exigências da cultura também é fundamental para reduzir a suscetibilidade da cultura a incidência de doenças. Cunha & Caierão (2023), afirmam que a intensidade de manchas foliares é agravada em plantas de trigo com deficiência nutricional, principalmente para o elemento nitrogênio.

De acordo com o pesquisador da CCGL, Carlos Augusto Pizolotto (2023), houve um aumento na incidência de manchas foliares nas áreas do estado nesse ano. Esse aumento pode ser atribuído à combinação das áreas de monoculturas, temperaturas médias mais elevadas e uma disponibilidade hídrica ótima devido aos volumes das precipitações que ocorreram.

O pesquisador destaca que a área foliar sadia possui influência direta na qualidade e peso dos grãos produzidos pela cultura, o que, por sua vez, afeta outro componente de rendimento do trigo que é o número de fileira. Além das manchas foliares que ocorrem no trigo, a Giberela destaca-se como a principal doença de espiga do trigo, para controlar essa doença, a aplicação de fungicidas deve ser realizada de forma preventiva, especialmente durante períodos de chuvas frequentes.

Confira o vídeo completo onde o pesquisador Carlos Augusto Pizoloto fala sobre o controle de Giberela e Manchas Foliares do trigo.


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Veja mais: Eficiência de Fungicidas para Controle de Giberela em Trigo



Referências:

COSTAMILAN, L. M. et al. DOENÇAS DO TRIGO: MANCHAS FOLIARES. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/trigo/producao/doencas/manchas-foliares >, acesso em: 14/08/2023.

CUNHA, G. R.; CAIERÃO, E. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023. Brasília – DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf  >, acesso em: 14/08/2023.

LIMA, M. I. P. M. et al. DOENÇAS DO TRIGO: GIBERELA. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/trigo/producao/doencas/giberela >, acesso em: 14/08/2023.

PONOMARENKO, E.; GOODWIN, S. B.; KEMA, G. H. J. ​​​SEPTORIA TRITICI BLOTCH (STB) OF WHEAT. Plant Heath Instructor, 2011. Translated Sandra M. Mathioni e Eduardo Alves. Disponível em: < https://www.apsnet.org/edcenter/disandpath/fungalasco/pdlessons/Pages/SeptoriaPort.aspx >, acesso em: 14/08/2023.

PRESTES, A. M. MANCHAS FOLIARES DE PLANTAS DE TRIGO. Embrapa Trigo. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/pesquisa/agromet/pdf/trigo_historia/cap13.pdf >, acesso em: 14/08/2023.

SANTANA, F. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DO TRIGO. Documentos 108, Embrapa, Passo Fundo – RS, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/137343/1/ID-42681-CNPT.pdf >, acesso em: 14/08/2023.

SANTANA, F. M.; CLEBSCH, C. C.; FRIESEN, T. L. CARACTERIZAÇÃO DE RAÇAS DE Pyrenophora tritici-repentis, AGENTE ETIOLÓGICO DA MANCHA AMARELA DO TRIGO, NO SUL DO BRASIL. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 60, Embrapa, Passo Fundo – RS, 2008. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/bp/p_bp60.pdf >, acesso em: 14/08/2023.

SANTANA, F.; LIMA, M. I.; MACIEN, J. AS DOENÇAS MAIS TEMÍVEIS DO CEREAL. Revista A Granja, Fitossanidade ed. 821, 2017. Disponível em: < https://edcentaurus.com.br/agranja/edicao/821/materia/8391 >, acesso em: 14/08/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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