O milho é uma cultura amplamente difundida, cultivada na safra ou safrinha (segunda safra), tanto solteiro quando em consórcio a outras gramíneas como a braquiária. Além de ser uma significativa fonte de renda, o milho exerce papel essencial na rotação de culturas e sustentabilidade do sistema produtivo, servindo como fonte de cobertura do solo e contribuindo para o aumento da matéria orgânica dele.
Do ponto de vista nutricional, o milho é uma cultura extremamente exigente, sendo o nitrogênio o nutriente mais requerido pela gramínea. Segundo Coelho & França, para produtividades médias de 3,65 t.ha-1 de grãos são extraídos cerca de 77 kg de nitrogênio por hectare. A exportação do nutriente aumenta a medida em que há o aumento da produtividade média de milho, podendo chegar a 217 kg.ha-1 de nitrogênio para produtividades médias de 10,15 t.ha-1 de milho.
Sabe-se que a produtividade do milho apresenta uma intima relação com a adubação nitrogenada, entretanto, em virtude do elevado custo de insumos, nem sempre a adubação nitrogenada prevendo altas produtividades é possível do ponto de vista econômico. Tendo em vista o representativo custo da adubação nitrogenada na cultura do milho, é indispensável buscar alternativas que possibilitem a manutenção ou aumento de produtividade da cultura sem elevar os custos de produção.
Uma dessas alternativas é a inoculação do milho com bactérias do gênero Azospirillum. A espécie de bactéria mais conhecida do gênero Azospirillum é o Azospirillum brasilense, as bactérias do gênero possuem habilidade em sintetiza fitormônios que promovem o crescimento vegetal, principalmente do sistema radicular (Prando et al. 2019).
Conforme destacado por Hungria (2011), essas bactérias apresentam capacidade em realizar a fixação biológica de nitrogênio, entretanto, por se tratar de uma relação de associação e não simbiose como no caso da relação entre bactérias do gênero Bradyrhizobium e a soja, nem todo o nitrogênio fixado pelas bactérias é disponibilizado para o milho, sendo necessário realizar a complementação de nitrogênio para a cultura por meio da adubação nitrogenada.
Contudo, ainda que a inoculação do milho com bactérias do gênero Azospirillum não forneça todo o nitrogênio requerido pela cultura do milho, o estímulo no crescimento do sistema radicular pode proporcionar maior volume de solo explorado pela planta de milho e com ele maior absorção de água e nutrientes do solo, possibilitando inclusive maior tolerância a períodos de déficit hídrico.
Figura 1. Efeito da inoculação de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de Azospirillum brasilense no crescimento radicular.
Conforme observado por Hungria (2011), o efeito da inoculação do milho sobre a produtividade pode estar relacionado a estirpe de Azospirillum utilizada, entretanto, avaliando a produtividade do milho em função da inoculação com estirpes das bactérias Azospirillum brasilense (Ab) e Azospirillum lipoferum (Al), a autora observou que independente da estirpe de bactéria, a inoculação do milho promoveu maior produtividade da cultura, sendo observado aumento médio de produtividade de 24% em comparação ao tratamento sem inoculação.
Tabela 1. Efeito da inoculação com estirpes de Azospirillum brasilense (Ab) e Azospirillum lipoferum (Al) no rendimento (kg de grãos ha-1) de milho.
Além do incremento de produtividade em decorrência de inoculação do milho, resultados de pesquisa da Embrapa destacam que o uso de tecnologia pode reduzir em até 25% o uso de fertilizantes nitrogenados aplicados em cobertura para lavouras de altos rendimentos.
Incrementos médios de produtividade de 17% com a inoculação do milho em comparação a testemunha também foram observados por Camilo; Oliveira; Marriel, assim como Bulla & Balbinot Junior (2012) observaram aumento médio da produtividade de aproximadamente 4,5% com o uso da tecnologia, o que corroboram os resultados de Hungria (2011) e aliado a redução dos custos com utilização de fertilizantes nitrogenados destacam a importante contribuição da inoculação para o aumento de produtividade e sustentabilidade no cultivo do milho.
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Referências:
BULLA, D.; BALBINOT JUNIOR, A. A. INOCULAÇÃO DE SEMENTES DE MILHO COM Azospirillum brasilense EM DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO. Revista Agropecuária Catarinense, v. 25, n. 2, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101915/1/Inoculacao-de-sementes-de-milho-com-Azospirillum-brasiliense-em-diferentes-doses-de-nitrogenio.pdf >, acesso em: 28/04/2021.
CAMILO, B. G.; OLIVEIRA, C. A.; MARRIEL, I. E. Resposta da cultura do milho à inoculação com Azospirillum brasilense sob três níveis de nitrogênio e tratamento químico da semente. Embrapa. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1086831/1/Respostacultura.pdf >, acesso em: 28/04/2021.
COELHO, A. M.; FRANÇA. G. E. NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO MILHO. Disponível em: < http://ccpran.com.br/upload/downloads/dow_5.pdf >, acesso em: 28/04/2021.
EMBRAPA. BACTÉRIAS AUMENTAM PRODUTIVIDADE DO MILHO E REDUZEM ADUBOS QUÍMICOS. Embrapa, 2015. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/2467608/bacterias-aumentam-produtividade-do-milho-e-reduzem-adubos-quimicos#:~:text=inocula%C3%A7%C3%A3o%20no%20milho-,A%20tecnologia%20de%20inocula%C3%A7%C3%A3o%20se%20baseia%20na%20capacidade%20promotora%20de,a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20biol%C3%B3gica%20de%20nitrog%C3%AAnio. >, acesso em: 28/04/2021.
HUNGRIA, A. INOCULAÇÃO COM Azospirillum brasilense: INOVAÇÃO EM RENDIMENTO A BAIXO CUSTO. Embrapa, Documentos, n. 325, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/29676/1/Inoculacao-com-azospirillum.pdf >, acesso em: 28/04/2021.
PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2018/2019 NO PARANÁ. Embrapa, Circular Técnica, n. 156, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1117312/1/Circtec156.pdf >, acesso em: 28/04/2021.