Os enfezamentos no milho, tem ganhado destaque nas últimas safras em virtude da grande capacidade em causar danos e complexidade de manejo. A redução da produtividade em plantas acometidas por essas doenças pode ser superior a 70%, sendo que, quanto mais jovem a planta é infectada, maiores são os danos (Sabato, 2018).
Os enfezamentos são doenças causadas pela infecção da planta por microrganismos denominados molicutes, que são um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) e um fitoplasma (Maize bushy stunt). Há dois tipos de enfezamentos: o enfezamento-pálido (causada por espiroplasma) e o enfezamento-vermelho (causada por fitoplasma). Os molicutes invadem sistemicamente e multiplicam-se nos tecidos do floema da planta de milho e são transmitidos de plantas doentes para plantas sadias, pela cigarrinha Dalbulus maidis (Embrapa).
Além dos sintomas foliares, as plantas acometidas pelos enfezamentos apresentam má formação das espigas, impactando diretamente a produtividade do milho. Em casos mais severos, as perdas de produtividade da cultura podem chegar a 100%, inviabilizando a colheita (Cota et al., 2021).
Figura 1. Espiga de milho de uma planta com enfezamento (esquerda) e planta sem sintomas (direita).

Como a cigarrinha-do-milho é o principal vetor de transmissão dos enfezamentos, o controle da praga é a principal estratégia de manejo dessas doenças. Entretanto, como a cigarrinha pode ou não conter a infecção, infelizmente não á nível de ação pré-estabelecido para o controle da praga, sendo aconselhado o controle químico da cigarrinha ao observar sua presença na lavoura.
Ainda que o controle químico possa ser realizado durante o desenvolvimento do milho, o manejo dos enfezamentos é um pouco mais complexo. O ciclo de vida da cigarrinha, de ovo a adulto, é em torno de 45 dias. Sob condições favoráveis de temperatura, 26 e 32 °C, o ciclo pode ser completado em 24 dias. Na fase adulta as fêmeas podem depositar cerca de 14 ovos dia-1, totalizando em média, 611 ovos durante seu ciclo (Cota et al., 2021).
Figura 2. Ovos da cigarrinha-do-milho.

A grande habilidade reprodutiva da cigarrinha-do-milho, permite o aumento expressivo da sua população tanto no período de safra quanto entressafra do milho. Tendo em vista que a cigarrinha Dalbulus maidis é o principal vetor dos enfezamentos e que o milho é considerado a única planta hospedeira da praga, o controle de plantas espontâneas (tiguera) de milho no período entressafra é determinante para o bom manejo e controle da cigarrinha do milho e consequentemente dos enfezamentos.
Levando em consideração que as condições climáticas permitem em algumas localidades o cultivo do milho tanto no período da safra quando safrinha (segunda safra), há uma grande probabilidade da manutenção do ciclo biológico da cigarrinha-do-milho, pela existência de plantas remanescentes de milho, que servem como pontes verdes para a sobrevivência da praga.
Figura 3. Ciclo biológico da cigarrinha (Dalbulus maidis) e locais preferenciais de ocorrência na planta de milho.

Como principal fator que contribui para a manutenção das populações de milho tiguera e consequentemente da cigarrinha, podemos destacar as perdas de colheita do milho, resultando em “sobras” de sementes na área de cultivo, as quais posteriormente sob condições adequadas de temperatura e umidade, darão origem a novas plantas de milho, servindo como pontes verdes para a sobrevivência da cigarrinha.
Figura 4. Germinação de grãos de milho em lavoura de soja.

Em algumas regiões de cultivo (especialmente no Sul), a ocorrência de geadas de certa forma proporciona o controle natural das plantas de milho tiguera durante o período de inverno. Entretanto, mesmo na ausência do milho, a cigarrinha pode utilizar a migração por longas distâncias como estratégia de sobrevivência, bem como a diapausa (espécie de estado de dormência em insetos) em restos culturais de milho (Cota et al., 2021).
A presença de plantas hospedeiras e condições adequadas contribui para a sobrevivência do patógeno no hospedeiro (cigarrinha), logo, mesmo que em algumas regiões a geada possa realizar o controle natural do milho tiguera, não é aconselhado a espera desse fenômeno para o controle das plantas espontâneas, principalmente pela elevada habilidade reprodutiva da cigarrinha e matocompetição do milho com a cultura cultivada.
Aliado a isso, a resistência de híbridos de milho a herbicidas dificulta ainda mais o controle de plantas voluntárias na cultura sucessora, sendo necessário utilizar de estratégias que possibilitem o controle eficiente dessas plantas. Além disso, indiretamente a boa regulagem da colhedora reduz as perdas de colheita e populações do milho tiguera. Ainda que o controle químico da cigarrinha seja a medida de manejo mais difundida, para um controle eficiente desse vetor não se deve desprezar o manejo entressafra com o controle do milho tiguera.
Veja mais: Milho tiguera – Como controlar plantas com diferentes tecnologias OGMs?
Figura 5. Milho tiguera em maio a cultura da soja.
Referências:
COTA, L. V. et al. MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, Folhetos, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1130346/manejo-da-cigarrinha-e-enfezamentos-na-cultura-do-milho >, acesso em: 28/07/2022.
EMBRAPA. ENFEZAMENTOS POR MOLICUTES E CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa, Controle da cigarrinha do milho. Disponível em: < https://www.embrapa.br/controle-da-cigarrinha-do-milho#:~:text=A%20cigarrinha%20D.,folhas%20do%20cartucho%20da%20pl%C3%A2ntula. >, acesso em: 28/07/2022.
SABATO, E. O. MANEJO DO RISCO DE ENFEZAMENTOS E DA CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 226, 2018. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1091746/1/ct226.pdf >, acesso em: 28/07/2022.
WAQUIL, J. M. CIGARRINHA-DO-MILHO: VETOR DE MOLICUTES E VÍRUS. Embrapa, Circular Técnica, n. 41, 2004. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/cigarrinha-do-milho-vetor-de-molicutes-e-virus.pdf/17d847e1-e4f1-4000-9d4f-7b7a0c720fd0#:~:text=Sob%20condi%C3%A7%C3%B5es%20favor%C3%A1veis%2C%20a%20eclos%C3%A3o,completa%2Dse%20em%2024%20dias. >, acesso em: 28/07/2022.