É conhecido que a compactação do solo é um dos principais fatores limitantes da produtividade da soja e uma das formas mais práticas e usuais de se mensurar a compactação do solo é por meio da quantificação da resistência do solo à penetração (RP). Conforme observado por Cardoso et al. (2006), com o aumento da resistência do solo à penetração, tem-se a redução do volume de raízes da soja, limitando consequentemente o volume de solo explorado e a absorção de água e nutrientes do solo.
Além dos danos indiretos, refletindo na redução do volume de raízes da soja, Beulter & Centurion (2004) observaram relação direta da resistência do solo à penetração, com o rendimento de grãos da soja, sendo que a medida em que há o aumento da RP, tem-se a redução da produtividade da soja.
Figura 1. Produtividade da soja em função da compactação do solo (resistência do solo à penetração).

Tendo em vista a intima relação da compactação do solo com a produtividade da soja, realizar um adequado manejo da compactação do solo é essencial para a obtenção de boas produtividades de soja. Entretanto, se tratando do sistema plantio direto (SPD), onde uma das premissas fundamentais se baseia no não revolvimento do solo, práticas alternativas ao revolvimento do solo devem ser utilizadas a fim de garantir um adequado ambiente para o crescimento e desenvolvimento da soja, garantindo adequados níveis de RP.
O adequado manejo da compactação do solo no SPD demanda planejamento e persistência, havendo dois caminhos básicos a se seguir, à preservação e à melhoria da qualidade estrutural do solo no médio e longo prazo, e à recuperação no curto prazo de solos com alto grau de compactação (Conte et al., 2020). Normalmente, a escarificação é a prática de manejo mais empregada visando a correção de solos compactados, entretanto, cabe destacar que a mobilização periódica do solo no SPD por meio de escarificadores, não tem resultado em incrementos significativos da produtividade da soja, sendo a duração de seus efeitos sobre a estrutura do solo, na maioria dos casos, inferior a um ano (Conte et al., 2020).
Entretanto, conforme destacado por Conte et al. (2020), a escarificação constitui-se em uma alternativa para romper camadas compactadas restritivas ao crescimento radicular das culturas, ou seja, pode ser adotada como prática corretiva, desde que associada ao uso de culturas com alto potencial de produção de fitomassa da parte aérea e raízes. Ainda que não seja considerada uma solução duradoura, quando seguida pelo cultivo de culturas com grande capacidade de produção de biomassa, e com vasto e denso sistema radicular, pode contribuir significativamente para a melhoria de atributos do solo.
Dessa forma, visando potencializar os efeitos da escarificação do solo, recomenda-se que essa prática seja realizada preferencialmente após o cultivo da soja, antecedendo o cultivo de plantas de cobertura ou culturas com agressivo sistema radicular e grande produção de biomassa. O cultivo de culturas de cobertura como o nabo forrageiro (Raphanus sativus L.), contribui para a abertura de galerias no solo, contribuindo para a melhoria de aspectos estruturais do solo.
Aliado a isso, a diversificação de culturas contribui indiretamente para o manejo da compactação do solo, uma vez que a liberação de exsudatos, decomposição e mineralização dos resíduos culturais estimula o crescimento da macro, meso e micro fauna do solo, além de resultar em melhoria do teor de matéria orgânica do solo (MOS). A MOS atua como agente cimentante de partículas e coloides do solo, contribuindo para a formação de agregados e reduzindo os efeitos da compactação do solo. Em conjunto com a MOS, a grande quantidade de biomassa em cobertura do solo tende a reduzir a ação compactante de máquinas e equipamentos agrícolas sobre o solo.
Além da escarificação mecânica, do cultivo de plantas de cobertura e da diversificação de culturas, algumas ferramentas de manejo tais como o emprego de hastes sulcadores em semeadoras de soja contribui para a rompimento localizado de camadas compactadas na superfície do solo, colaborando para o desenvolvimento inicial do sistema radicular da soja, além de proporcionando a deposição mais profunda do fertilizante. Em contrapartida, Conte et al. (2020) destacam que a probabilidade de resposta positiva da produtividade da soja ao uso de hastes sulcadoras pode ser variável, estando condicionada a fatores ambientais, sendo maior em anos com ocorrência de seca e/ou em áreas que apresentam compactação superficial do solo.
Além dessas práticas, algumas alternativas de manejo, tais como o tráfego controlado de máquinas e a diferenciação dos manejos em áreas de trânsito de máquinas pode contribuir significativamente para a redução da influência da compactação na produtividade da soja, entretanto, esse modelo de manejo requer maior planejamento na condução de práticas agrícolas e tratos culturais.
Figura 2. Cultivo de nabo forrageiro em áreas de cultivo com adoção do tráfego controlado de máquinas agrícolas.

Cabe destacar que o manejo da compactação do solo depende de uma série práticas agrícolas integradas, e que o monitoramento e acompanhamento das condições físicas do solo em áreas de produção é essencial para embasar práticas de manejo culturais, bem como alternativas de correção ou manutenção da sustentabilidade do solo, sendo que além do manejo como o uso de culturas de cobertura, o trafego controlados de máquinas e a diversificação de culturas, devem ser pensadas a longo prazo, para mitigar os efeitos da compactação do solo.
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Referências:
BERTOLLO, G. M. DESEMPENHO E EMISSÕES DE TRATOR EM SEMEADURA COM DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DE SULCADORES EM ÁREAS DE TRAFEGO CONTROLADO DE MÁQUINAS. Santa Maria, 139p. 2018.
BEULTER, A. N.; CENTURION, J. F. COMPACTAÇÃO DO SOLO NO DESENVOLVIMENTO RADICULAR E NA PRODUTIVIDADE DA SOJA. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.39, n.6, p.581-588, jun. 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pab/a/Z4R3tnf59YV7bcpwbykQjnh/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 26/04/2022.
CARDOSO, E. G. et al. SISTEMA RADICULAR DA SOJA EM FUNÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO NO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.41, n.3, p.493-501, mar. 2006. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pab/a/6GMrH3T4MWy77r8ZMwNbFxJ/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 26/04/2022.
CONTE, O. et al. MANEJO DO SOLO. Tecnologias de Produção de Soja, Cap. 3, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 26/04/2022.