Entre as pragas que acometem a cultura da soja, os percevejos se destacam pelo elevado potencial de causar prejuízos econômicos, tanto em termos produtivos quanto qualitativos, reduzindo não apenas a produtividade da lavoura, mas também a qualidade das sementes produzidas. Dentre as principais espécies de importância agrícola, destacam-se o percevejo-marrom (Euschistus heros), o percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii), o percevejo-verde (Nezara viridula) e o percevejo-barriga-verde (Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus).
Os danos produtivos e qualitativos provocados pelos percevejos variam conforme a espécie e a densidade populacional da praga. Além de reduzir significativamente a produção, algumas espécies, como o percevejo-verde-pequeno, apresentam elevado potencial de injúria, afetando atributos fisiológicos das sementes, como germinação e vigor, o que resulta na depreciação e redução da qualidade da produção.
Em relação à produtividade, embora as perdas variem de acordo com a espécie do percevejo e o estádio de desenvolvimento tanto do inseto quanto da soja, estudos indicam que a redução média de produção pode alcançar cerca de 70 kg de soja para cada percevejo por metro quadrado, ou aproximadamente 10.000 percevejos por hectare (Pozebon, 2024).
Figura 1. Profundidade de danos por diferentes espécies de percevejo em soja.
Nesse contexto, o manejo e controle eficiente dos percevejos é determinante não só para a manutenção do potencial produtivo da soja, como também da qualidade fisiológica das sementes. Logo, em sistemas de produção de sementes, os percevejos fazem parte do complexo das principais pragas da cultura.
Figura 2. Sementes de soja com danos causados por picada de percevejo: à esquerda, sementes secas com danos típicos mostrando manchas de Nematospora coryli; à direita, sementes com danos de percevejo coloridas pelo sal de tetrazólio.

Nível de controle
Dada a relevância dos danos ocasionados por percevejos na qualidade das sementes de soja, o nível de ação para o controle dos percevejos em lavouras destinadas a produção de sementes é mais criterioso em relação ao controle de populações da praga em lavouras produtoras de grãos. Tecnicamente, recomenda-se que o controle químico dos percevejos em lavouras produtoras de grãos ocorra ao observar 2 percevejos/m e em lavouras produtoras de sementes ao observar 1 percevejo/m, durante o período crítico de ocorrência da praga (Roggia et al., 2020).
Quadro 1. Níveis de ação para percevejos em soja.

Fonte: Roggia et al. (2020)
Período crítico
A fase mais sensível da soja ao ataque dos percevejos vai de R4 (vagem completamente desenvolvida) a R6 (Grão cheio ou completo em um dos quatro nós superiores na haste principal). Esse período é portanto considerado crítico para o controle dos percevejos, e deve ser levando em consideração para o posicionamento de práticas de manejo voltadas ao controle da praga.
Figura 3. Período crítico da ocorrência de percevejos em soja.
Monitoramento
Especialmente em sistemas de produção de grãos, os percevejos que acometem a soja podem estar presentes nas áreas de cultivo antes mesmo da semeadura da cultura. No entanto, a presença da praga durante a fase vegetativa da soja não representa grande risco econômico e produtivo, entretanto, o monitoramento periódico da lavoura mesmo durante a fase vegetativo pode auxiliar no posicionamento da estratégias de manejo visando o aumento da performance no controle dos percevejos durante a fase crítica de ocorrência da praga (figura 3).
Recomenda-se que o monitoramento de percevejos na cultura da soja seja realizado principalmente por meio da amostragem com pano de batida. Para isso, o pano deve ser posicionado ainda enrolado entre as fileiras escolhidas, de modo que uma parte fique na base das plantas e a outra seja estendida sobre as plantas da fileira adjacente (Figura 4).
Durante a contagem, deve-se priorizar os percevejos, uma vez que esses insetos apresentam alta capacidade de voo, o que pode dificultar a obtenção de uma contagem realista. Por essa razão, é recomendável que as amostragens sejam realizadas nos horários mais frescos do dia, quando a temperatura corpórea dos percevejos ainda é insuficiente para permitir o voo, aumentando, assim, a eficiência da amostragem (Reigert et al., 2024).
Figura 4. Demonstração de alocação do pano de batida para amostragem de pragas na lavoura.

Controle
Definida a necessidade de realizar o controle químicos dos percevejos, é essencial atentar para o posicionamento dos inseticidas. Conforme observado por Moreira et al. (2024), percevejos como o Euschistus heros apresentam suscetibilidade distinta a determinados inseticidas. No caso do percevejo-marrom, os autores observaram alta mortalidade e variação geográfica e interespecífica relativamente baixa na suscetibilidade às doses de campo de acefato, etiprole, bifentrina, acetamiprido + bifentrina e imidacloprido + bifentrina.
Figura 5. Variação geográfica na suscetibilidade de populações de Euschistus heros de diferentes regiões do Rio Grande do Sul à dose de campo de inseticidas selecionados em bioensaios dip-test. Barras (± desvio padrão) com letras diferentes diferem significativamente.

Considerando a variação na suscetibilidade dos percevejos, tanto do percevejo-marrom quanto de outras espécies aos inseticidas, a correta identificação das espécies presentes nas áreas agrícolas e o posicionamento de produtos com maior eficiência são etapas fundamentais para um manejo eficaz, capaz de minimizar o impacto sobre a produtividade da soja. Além disso, visando a prevenção e o manejo da resistência dos percevejos aos inseticidas, é indispensável adotar estratégias que reduzam a pressão de seleção de indivíduos resistentes, como a rotação de ingredientes ativos e de mecanismos de ação entre as diferentes janelas de aplicação.
Figura 6. Programas de rotação de inseticidas.

Em relação ao intervalo entre as janelas de aplicação (entendido como o tempo necessário para que a praga complete uma geração ou como a duração do efeito de uma única aplicação de inseticida), nem sempre é simples determinar esse período com precisão. Na ausência dessas informações específicas, o IRAC recomenda adotar uma janela de aproximadamente 30 dias para a maioria das pragas. Entretanto, durante a fase crítica de interferência dos percevejos na cultura da soja, o intervalo entre as janelas de aplicação deve ser definido com base no monitoramento frequente da lavoura, permitindo uma atuação proativa no controle da praga, assim que as infestações atingirem os níveis de ação pré-estabelecidos.
Vale destacar que além do impacto na produtividade e qualidade fisiológica das sementes, estudos demonstram que os percevejos podem reduzir atributos qualitativos dos grãos e sementes, como teor de proteínas, conforme observado por Marsaro Júnio et al. (2025). Avaliando o impacto que a alimentação do percevejo Euschistus heros causa na matéria seca das sementes de soja e nos teores de proteína, óleo e ácidos graxos, os autores identificaram uma associação negativa significativa entre as sementes danificadas e o conteúdo de proteína, indicando que a porcentagem desse componente diminui à medida que os níveis de dano aumentam (figura 7).
Figura 7. Modelo de regressão não linear ajustado para a relação entre sementes de soja danificadas por Euschistus heros e proteína. A linha sólida representa a curva ajustada, e a faixa sombreada indica o intervalo de confiança (IC) de 95% em torno dos valores previstos.

Tal fato demonstram a enorme capacidade dos percevejos em causar danos à soja, seja na qualidade dos grãos ou sementes ou na redução da produtividade da lavoura, sendo portanto, indispensável o controle eficiente dos percevejos para o sucesso da lavoura de soja.
Veja mais: Manejo e controle do percevejo barriga-verde em milho
Referências:
IRAC. MANEJO DA RESISTÊNCIA DO PERCEVEJO-MARROM A INSETICIDAS. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas: Brasil, s. d. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_4df4582b125f48ce990939fb0334b782.pdf >, acesso em: 03/11/2025.
MARSARO JÚNIOR, A. L. et al. IMPACT OF Euschistus heros (F.) (Heteroptera: Pentatomidae) FEEDING ON SOYBEAN SEEDS CHEMICAL COMPOUNDS. Revista Caderno Pedagógico, 2025. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1177076/1/Marsaro-Junior-et-al.2025-Impact-Euschistus-soybean-chemical.pdf >, acesso em: 03/11/2025.
MOREIRA, R. P. et al. GEOGRAPHIC AND INTERSPECIFIC VARIATION IN SUSCEPTIBILITY OF Euschistus heros AND Diceraeus furcatus (Hemiptera: Pentatomidae) TO SELECTED INSECTICIDES IN SOUTHERN BRAZIL. Crop Protection, 2024. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S026121942400053X >, acesso em: 03/11/2025.
POZEBON, H. PERCEVEJOS DA SOJA: QUAL O POTENCIAL DE DANO DE CADA ESPÉCIE? Mais Soja, 2024. Disponível em: < https://maissoja.com.br/percevejos-da-soja-qual-o-potencial-de-dano-de-cada-especie/ >, acesso em: 03/11/2025.
REIGERT, J. et al. MANEJO DO PERCEVEJO-MARROM E DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE NA CULTURA DA SOJA. Revista Inovação, 2024. Disponível em: < https://revistas.uceff.edu.br/inovacao/article/view/740/810 >, acesso em: 03/11/2025.
ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADE DE PRAGAS. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, Tecnologias de Produção de Soja, cap. 9, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 03/11/2025.




