O nitrogênio (N) é o macronutriente mais requerido pela cultura da soja, sendo necessários em média, cerca de 80 kg de N para cada tonelada de grãos produzidos (Embrapa, 2008). Felizmente, segundo Gitti (2016), todo o nitrogênio necessário para boas produtividades de soja pode ser fornecido via fixação biológica de nitrogênio (FBN), pela simbiose entre planta e bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Bradyrhizobium.
Embora as bactérias do gênero Bradyrhizobium possam ser encontradas no solo, normalmente a população existente dessa bactéria no solo não é suficiente para garantir o nitrogênio total demandado pela soja por meio da FBN. Sendo assim, visando suprir todo o nitrogênio demandado pela soja, é essencial aumentar os níveis populacionais dessa bactéria para proporcionar uma FBN capaz de aportar o nitrogênio requerido pela cultura.
A principal forma de se realizar o aumento populacional dessas bactérias é por meio da inoculação, adicionando quantidades significativas de bactérias ao solo, a ponto de garantir uma boa FBN. Conforme destacado por Prando et al. (2020), a inoculação da soja é capaz de proporcionar ganhos médios de produtividade de até 8% em comparação a soja não inoculada, já a coinoculação (Bradyrhizobium spp. + Azospirillum spp.) pode resultar em incrementos de produtividade de até 16%.
Dessa forma, fica evidente a importância de inoculação da soja para a obtenção de boas produtividades, sendo esse, um processo essencial para a sustentabilidade do cultivo. Entretanto, existem diferentes métodos de inoculação da soja, os quais apresentam vantagens e desvantagens, além de particularidades, as quais podem determinar a melhor aptidão do uso de cada método. Dentre os principais métodos de inoculação de soja, podemos destacar a inoculação nas sementes; inoculação no sulco de semeadura; sementes pré-inoculadas e inoculação por pulverização.
Inoculação nas sementes
A inoculação nas sementes consiste na adição do inoculante nas sementes, a nível de propriedade, seja ele líquido ou turfoso, preferencialmente no dia da semeadura. Independente do inoculante utilizando (líquido ou turfoso), recomenda-se a boa homogeneização das sementes e posterior secagem à sombra.
Cabe destacar que alguns cuidados são necessários para realizar essa prática, especialmente se tratando do uso de inoculantes turfosos. Para garantir a boa aderência do inoculante a semente, é recomendado realizar o umedecimento delas com uma substancia adesiva, a exemplo da água açucarada a 10%.
A não utilização de substancias adesivas pode resultar em baixa adesão do inoculantes às sementes, refletindo em baixa eficiência da inoculação. Não é recomendada a adição do inoculante diretamente na caixa de sementes da semeadora, tão pouco a adição de inoculantes concomitantemente ao tratamento de sementes com defensivos agrícolas, o famoso “sopão”.
Figura 1. Sementes de soja sem inoculação (esquerda); apenas inoculante turfoso aplicado sobre as sementes (centro); inoculante turfoso aplicado após umedecimento das sementes com solução açucarada a 10% (direita) (A); sedimentação do inoculante sem solução açucarada no fundo do frasco central (B) (Prando et al., 2020).
Inoculação no sulco de semeadura
Esse método de inoculação consiste da aspersão do inoculante líquido diretamente no sulco de semeadura, no momento da semeadura da soja. O método se destaca por possibilitar maior rendimento operacional e menor mão de obra já que dispensa o processo da inoculação das sementes de forma antecipada a semeadura.
Figura 2. Sistema de inoculação no sulco de semeadura.
Sementes pré-inoculadas
Embora seja recomendado que a inoculação de sementes de soja seja realizada na pré-semeadura, preferencialmente no mesmo dia da prática, é possível encontrar sementes pré-inoculadas para aquisição, as quais já apresentam inoculantes adicionados. Normalmente essas sementes são comercializadas por empresas produtoras de sementes, que empregam alta tecnologia para garantir a viabilidade das bactérias pré-inoculadas.
Dentre os principais benefícios das sementes pré-inoculadas podemos destacar a maior comodidade de uso, assim como a menor necessidade de mão de obra, visto que não há a necessidade de realizar a inoculação. Entretanto, cabe destacar que normalmente essas sementes apresentam um maior custo de aquisição em comparação a sementes não inoculadas, além disso, por se tratar de organismos vivos, o acondicionamento e armazenamento das sementes pré-inoculadas exige maior cuidado para a manutenção da viabilidade das bactérias, sendo assim, deve-se atentar para o período em que foi realizada a inoculação, bem como as condições de armazenamento, especialmente se tratando da temperatura.
O período máximo entre a inoculação até a semeadura deve ser respeitado conforme recomendação do fabricante para garantir a quantidade mínima necessária de bactérias viáveis nas sementes, sendo recomendada a quantidade de pelo menos, 80 mil a 100 mil células viáveis por semente no momento da semeadura (Seixas et al., 2020).
Inoculação por pulverização
Não menos importante, a inoculação por pulverização visa evitar o contato das bactérias com agrotóxicos e/ou o reforço da inoculação. Embora seja considerado menos eficaz, a inoculação pode ser realizada via pulverização no solo após semeadura, desde que respeitada algumas condições ambientais tais como a umidade do solo (Seixas et al., 2020).
Além disso, em condições onde se realizou a inoculação por algum dos métodos citados anteriormente, mas que por algum motivo tem-se observado uma baixa nodulação da soja, pode-se realizar a inoculação em pós emergência da soja. Conforme observado por Zilli et al. (2008) a inoculação em pós-emergência da soja é uma alternativa viável, entretanto, com resultados inferiores aos obtidos pela inoculação padrão (via semente).
Cabe destacar que a inoculação em pós-emergência da soja, via pulverização em cobertura não deve ser utilizada para substituir a inoculação padrão, sendo recomendada apenas como prática complementar em casos específicos, para corrigir algum erro de inoculação no momento da semeadura.
Com base nos aspectos observados e vista a importância da inoculação para a cultura da soja, a realização da prática é imprescindível para a obtenção de altas produtividades, sendo necessário analisar as vantagens e desvantagens de cada método de inoculação, para definir a melhor opção com base no sistema de produção.
Veja mais: Inoculação em pós emergência da soja? Em soja sem nódulos, aplicar em pós emergência é uma alternativa?
Referências:
EMBRAPA. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA – REGIÃO CENTRAL DO BRASIL 2009 E 2010. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 13, 2008. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/471536/1/Tecnol2009.pdf >, acesso em: 08/04/2022.
GITTI, D. C. INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2015/2016, 2016. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/234/234/newarchive-234.pdf >, acesso em: 08/04/2022.
NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M. USO DE INOCULANTES E SEUS BENEFÍCIOS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355202/1529289/Uso+de+inoculantes+e+seus+benef%C3%ADcios+na+cultura+da+soja+-+Marco+Antonio+Nogueira.pdf/fd77ab76-f38e-3054-81f3-4ff464e32567 >, acesso em: 08/04/2022.
PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2019/2020 NO PARANÁ. Embrapa, Circular Técnica, n. 166, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/220542/1/CIrc-Tec-166.pdf >, acesso em: 08/04/2022.
SEIXAS, C. D. S. et al. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA. Embrapa, Sistemas de Produção 17, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 08/04/2022.
ZILLI, J. É. et al. INOCULAÇÃO DE Bradyrhizobium EM SOJA POR PULVERIZAÇÃO EM COBERTURA. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.43, n.4, p.541-544, abr. 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-204X2008000400014 >, acesso em: 08/04/2022.
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