O mal-do-pé (pé, referindo-se a raiz do trigo) é uma podridão radical que ocorre em lavouras onde o trigo é cultivado em monocultura, plantio direto, solos com pH > 5,5, em regiões com precipitação pluvial superior a 450 mm no ciclo do trigo.

O mal-do-pé foi descrito na Argentina em 1900 e no Rio Grande do Sul em 1944. Nomes comuns. Foi denominado primeiramente na Austrália, chamado em inglês de ‘take-all’, ‘pega tudo’, devido a formação de reboleiras de plantas espigadas mortas em lavouras.

Hospedeiros.

O mal-do-pé pode atacar várias gramíneas: Agropyron spp., Agrostis spp., Bromus spp., Briza sp., Dactylis glomerata, Echinochloa crusgalli, Eharta erecta, Festuca pratensis, Holcus lanatus, Hordeum spp., Lolium multiflorum, Phleum pratenses, Poa pratenses, Sorghum vulgare e etc.

Etiologia.

O agente causal do mal-do-pé é um fungo pertencente à classe dos Ascomicetos; ordem: Pleosporales; família: Pleosporaceae.

Os isolados de trigo são denominados de G. graminis variedade tritici Walker (Ggt) e são distinguidos de G. graminis var. avenae, por sua virulência à aveia, e de G. graminis var. graminis, patogênico a gramíneas, entre elas o arroz. G. gramins graminis foi relatado, em arroz, no Brasil (Prabhu & Filippi, 2002).

Morfologia do fungo. Os hifopódios de Ggt são simples, formam-se na superfície do hospedeiro e servem para fixá-lo, algo semelhante a apressórios (Fig. 1).

Figura 1. Hifopódios de Gäeumannomyces graminis var. tritici (Imagem capturadas na internet).

Os ‘pescoços’ dos peritécios negros são erumpentes através das bainhas inferiores (Fig.2).

Figura 2. Perítécios negros formados nos tecidos colonizados.

Os ascosporos são hialinos, 8 em cada asca, delgados, medindo 3-4 x 70-100 µm e com 3 a 7 septos (Fig. 3).

Figura 3. Peritécio esmagado, ascas e ascosporos de Gäeumannomyces graminis var. tritici.

Sintomatologia.

Os primeiros sintomas surgem de 7 a 14 dias após a penetração e os peritécios formam-se de 1 a 3 meses mais tarde. Na época do espigamento das lavouras de trigo, surgem manchas, ou reboleiras, de plantas mortas com coloração branca e de extensão variável (Fig. 4).

As plantas, inicialmente, apresentam o crescimento retardado e seca progressiva das folhas, a partir das mais inferiores para as superiores, terminando por secar completamente. O ataque pode limitar-se a plantas isoladas na lavoura, permitindo identificar-se assim áreas em que a doença começa a aumentar em intensidade.

Nas reboleiras, pela falta de cobertura do solo pelo trigo, logo as ervas daninhas terminam por dominar a vegetação existente. Embora esses sejam os sintomas que são primeiramente visíveis, eles indicam os estágios finais da doença.

Figura 4. Sintomas do mal-do-pé em lavouras (rebolerias de plantas mortas).

Arrancando-se uma planta atacada, e lavando-se as raízes, pode-se observar que o córtex radicular se destaca com facilidade e que os demais tecidos radiciais estão completamente destruídos (Fig. 5). As raízes de plantas arrancadas são, em geral, amputadas por não terem resistência, ao serem extraídas do solo. A cor preta predomina em todos os tecidos atacados.

Entre o primeiro e segundo entrenós nota-se uma coloração negra brilhante. Observando-se o primeiro entrenó, pode-se constatar a presença de crostas irregulares, largas e negras, aderidas ao colmo, constituídas pelo micélio do fungo. As plantas permanecem eretas e menores, pouco afilhadas, e podem ser mortas em qualquer fase de seu desenvolvimento, porém isso é mais comum e evidente após o espigamento.

Figura 5. Sintomas do mal-do-pé, raízes, coroas e entre-nós negros, em plantas de trigo.

As plantas colonizadas são precocemente mortas e manifestam-se em reboleiras ou faixas de plantas mortas. O sistema radicial apresenta cor negra, o que é uma característica diferencial desta doença da podridão comum de raízes.

Controle.

Os restos culturais de trigo são decompostos num período de aproximadamente 12-18 meses. Pela mineralização completa o fungo perde a viabilidade. Acontece, porém, que decorridos apenas 6-7 meses após a colheita o agricultor planta trigo na mesma área (monocultura), o que garante a sobrevivência do fungo e a manutenção de alta densidade de inóculo para o próximo cultivo.

Os danos causados pelo mal-do-pé são reduzidos pela rotação de culturas com espécies vegetais não suscetíveis como a aveia. No entanto, sendo a área infestada por azevém, eficácia é comprometida (Fig. 6).

Figura 6. Sintomas do mal-do-pé (raízes e coroas negras) em azevém



Referências

PRABHU, ANNE S.; FILIPPI, MARTA C. Ocorrência do mal-do-pé causado por Gaeumannomyces graminis var. graminis, uma nova enfermidade em arroz no Brasil. Fitopatol. bras. [online]. 2002, vol.27, n.4, pp. 417-419. ISSN 0100-4158.

REIS, E. M.; DANELLI, A.L. D. O azevém e a sanidade das lavouras de cereais de inverno: uma planta do bem ou do mal? Revista Plantio Direto, Passo Fundo, 29 p, 2011. SHIPTON, N.J. Biology and control of take-all. London, academic Press, 1981, p.295-316.

WALKER, J. Take-all diseases of gramineae. A review of recent work. Rev. Plant. Pathol., 54(3): 113-44, 1975.

“Esta é mais uma contribuição científica do Instituto Agris em prol da triticultura gaúcha

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