Compreender os fatores que limitam a produtividade das lavouras é fundamental para que agricultores e técnicos possam adotar estratégias eficazes de manejo e maximizar o retorno dos investimentos. Além de saber o potencial produtivo, é essencial identificar os fatores que contribuem para perdas de rendimento, de modo a otimizar práticas e minimizar desperdícios.
Em um estudo que analisou as práticas de manejo de 349 lavouras ao longo de três safras (2016-2019), foram identificadas variáveis que explicam as lacunas de produtividade na soja no Rio Grande do Sul. Utilizando uma árvore de regressão para classificar os fatores, dividiu-se a produtividade em dois níveis (alta e baixa). Nesse modelo, cinco variáveis mostraram grande influência. Esses fatores incluem: (i) data de semeadura, (ii) densidade final de plantas, (iii) número de aplicações de fungicidas, (iv) grupo de maturação das cultivares e (v) adubação de base (Figura 1).
Figura 1. Árvore de regressão, demonstrando fontes de variação na produtividade de grãos de soja devido aos fatores biofísicos e de manejo. Caixas são nós de divisão, com caixas inferiores representando nós de terminal. Os valores dentro de cada nó terminal indicam a média da produção de grãos (em ton ha-1) com base em 13% de umidade e a porcentagem de observações em cada nó terminal. Altas produtividades (tercil superior) (A) e baixas produtividades (tercil inferior) (B).
A data de semeadura destacou-se como a variável mais influente para a variação da produtividade em ambos os níveis. Quando a semeadura foi realizada de forma precoce (antes de 23/10), as lavouras alcançaram as maiores produtividades (4,6 toneladas por hectare), em especial aquelas que usaram cultivares de ciclo precoce (GMR de 5.8), com maior coeficiente fototérmico, resultando em um desempenho superior (Zanon et al., 2016). Para semeaduras após 23/10, as altas produtividades (4,4 toneladas por hectare) foram observadas em lavouras que aplicaram mais de 295 kg ha⁻¹ de adubação de base e realizaram entre 3 a 5 aplicações de fungicida. Esse manejo permitiu reduzir a perda de produtividade em 5,5% em comparação com lavouras que aplicaram a mesma adubação, mas usaram menos fungicidas (1 a 2 aplicações). O uso mais intenso de fungicidas contribuiu para uma melhor proteção contra doenças, especialmente contra a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Nas lavouras com adubação de base inferior a 295 kg ha⁻¹, a densidade final de plantas foi decisiva para os bons resultados, alcançando 4,3 toneladas por hectare em áreas com densidade superior a 233 mil plantas ha⁻¹.
Nas lavouras de baixa produtividade, a data de semeadura também foi o fator mais restritivo. As maiores produtividades nesse grupo (3,0 toneladas por hectare) ocorreram em semeaduras realizadas até o final de novembro (antes de 26/11), utilizando cultivares com GMR abaixo de 6.2 e com 3 a 5 aplicações de fungicida.
Esse manejo gerou uma produtividade 12% superior em comparação com lavouras que aplicaram fungicida apenas 1 ou 2 vezes e 19% maior que aquelas que usaram cultivares de GMR igual ou superior a 6.2. A combinação de uma data de semeadura dentro do período recomendado (outubro e novembro) com o uso de cultivares de ciclo mais curto foi determinante para alcançar altas produtividades.
Em lavouras semeadas tardiamente (após 26/11), a densidade final de plantas tornou-se o principal fator: produtividades mais altas foram alcançadas em áreas com densidade superior a 233 mil plantas ha⁻¹. Nessa época, a redução da fase vegetativa e do índice de área foliar faz com que maiores densidades de plantas sejam essenciais para aumentar a interceptação de radiação solar e, consequentemente, a produtividade.
Dessa forma, a análise dos fatores que afetam a produtividade da soja no Rio Grande do Sul demonstra a importância de um planejamento estratégico das práticas agrícolas, especialmente em relação à data de semeadura, densidade de plantas, adubação e controle de doenças. Os resultados reforçam que uma semeadura antecipada, dentro da janela recomendada, acompanhada do uso de cultivares de ciclo precoce e manejo eficiente de fungicidas, contribui para o aumento da produtividade.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas 2. ed. Santa Maria, 2022.