Na primeira parte deste texto, trouxemos para você a problemática do enfezamento e vírus da risca, doenças que tem como inseto-vetor a cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis.
Você pôde conhecer mais sobre esta doença e os três os patógenos que causam o enfezamento vermelho, enfezamento pálido e vírus da risca, os quais podem ser transmitidos simultaneamente para as plantas por uma só cigarrinha.
Hoje falaremos sobre o tratamento de sementes, um método preventivo contra estes insetos e que é considerado uma das táticas de manejo mais eficientes em uso de inseticidas.
Se for realizado de maneira adequada, o tratamento de sementes permite que a necessidade de aplicação foliar de inseticidas seja reduzida.
Acompanhe o texto para saber como funciona!
Por que realizar o tratamento de sementes com inseticidas
Imagine a seguinte situação: Você vai realizar a semeadura da sua lavoura. Para isso, escolhe sementes de alta qualidade, prepara a área para o plantio, faz o manejo adequado do local, e remove as plantas espontâneas que sempre estão presentes no entorno. Por fim, depois de empregar todas as ferramentas que tem à disposição para que sua lavoura se estabeleça nas melhores condições possíveis, realiza a semeadura.
Em um dado momento, logo após o estabelecimento inicial das plantas, você começa a perceber alguns focos de sintomas de doença em sua lavoura. E cada vez mais plantas apresentam estas condições.
Conversando com conhecidos, você toma conhecimento de que este problema foi registrado em várias outras propriedades da região. No entanto, em uma lavoura vizinha e próxima a sua, não houve esta ocorrência.
Você pergunta ao produtor o que ele utilizou e descobre que todas as táticas foram semelhantes àquelas utilizadas por você em sua lavoura. No entanto, devido a presença de determinados insetos-praga em safras anteriores, seu vizinho realizou um tratamento nas sementes antes do plantio, seguindo a recomendação de um agrônomo.
Essa única diferença de manejo entre a sua lavoura e a lavoura vizinha, fez com que a sua produção, mesmo contando com as melhores sementes e com o manejo que você realizou, tivesse a produção reduzida significativamente, inclusive apresentando prejuízos.
Redução de até 70% de produção em plantas com enfezamento. (Fonte: Adapar)
Esta situação hipotética é o risco que você corre quando não faz um tratamento de sementes. Mesmo que você empregue todas as medidas de manejo integrado na sua lavoura, a cigarrinha-do-milho é um inseto capaz de viajar por longas distâncias, e se estiver infectiva, no momento em que se alimentar em uma planta sadia, irá transmitir o vírus da risca e as bactérias que causam o enfezamento.
O tratamento de sementes é uma proteção que você utiliza para evitar prejuízos futuros.
Como o tratamento das sementes protege a planta?
As sementes podem ser tratadas por um sistema industrial (TSI) ou na própria fazenda (On Farm), contanto que você tome todas as precauções necessárias.
Os inseticidas utilizados para tratar as sementes são específicos para este uso, por isso é tão importante que você utilize os produtos adequados.
Estes inseticidas são sistêmicos na planta, isso quer dizer que após a absorção, o inseticida fica contido no sistema vascular que realiza a distribuição de seiva para todos os tecidos da planta, desde as raízes, até o colmo e folhas.
Quando a semente tratada é semeada no solo, as moléculas do inseticida se desprendem desta semente. Assim, logo que as raízes que germinam, absorvem aquelas moléculas que agora estão no solo, e deste modo, o inseticida é absorvido pela planta e translocado para todas as partes dela, conferindo-lhe proteção contra os insetos.
Semente de milho tratado e ilustração de planta protegida com a molécula inseticida. (Fonte: Syngenta)
A escolha do inseticida adequado para tratar as suas sementes deve considerar o modo de ação que o produto possui e se ele tem recomendação para a cigarrinha-do-milho. Além disso, com base no histórico que você tem da área, irá avaliar a necessidade de realizar a rotação de ingrediente ativo, para evitar a seleção de insetos resistentes a um mesmo modo de ação.
No Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários – Agrofit, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, todos os produtos registrados para tratamento de sementes de milho e que tem indicação de uso para a cigarrinha-do-milho podem ser encontrados.
Figura 1. Inseticidas registrados para tratamento de sementes de milho que protegem contra a cigarrinha. (Fonte: Agrofit)
Existem muitos produtos registrados para controle de cigarrinha na cultura do milho, mas como comentei anteriormente, os inseticidas recomendados para tratamento de sementes são específicos para este fim, e por isso, estes devem ser utilizados.
Como estes inseticidas agem nos insetos
Todos os produtos comerciais para tratamento de sementes que estão na Figura 1, são inseticidas que atuam sobre o sistema nervoso dos insetos, a partir do contato ou ingestão.
No entanto, apesar de atuarem no mesmo local, o modo de ação de alguns destes inseticidas no sistema nervoso do inseto é diferente. Esta característica varia de acordo com o grupo químico ao qual o ingrediente ativo do produto pertence. Os produtos registrados para tratamento de sementes se dividem em três grupos químicos: carbamatos, piretróides e neonicotinóides
Esta informação é importante pois é com base nela que você escolhe o inseticida que vai utilizar em cada rotação de ingredientes ativos e modos de ação.
Dos produtos comerciais listados, o que possui ingrediente ativo tiodicarbe na composição, pertence ao grupo dos carbamatos, enquanto o produto que contém lambda-cialotrina pertence aos piretróides e os produtos que tem os ingredientes tiametoxam, imidacloprido e clotianidina, pertencem ao grupo químico dos neonicotinóides.
Quando os insetos entram em contato com estes inseticidas neurotóxicos ou ingerem a seiva da planta que contém estas moléculas, estes indivíduos sofrem um colapso no sistema nervoso, e os sintomas muitas vezes são irreversíveis. Os inseticidas fazem com que os insetos passem por um estágio de hiperexcitação, convulsão, paralisia e morte.
Cigarrinha-do-milho morta. (Fonte: Koppert)
Conclusão
Com o tratamento de sementes, as plantas na sua lavoura podem estar protegidas por um longo período, que começa assim que as plântulas germinam.
O estágio inicial da cultura é a época preferida de estabelecimento da cigarrinha-do-milho, que acaba por gerar prejuízos expressivos. Portanto, esta é uma proteção que vale a pena você utilizar.
Além disso, o custo com o tratamento de sementes é menor do que as várias aplicações que você pode ter que vir a realizar para controlar este inseto, se for registrado em sua lavoura.
Você não quer investir em sementes de alto valor genético se elas não forem produzir aquilo que se espera, não é mesmo? Por isso, os cuidados para se obter uma lavoura sadia devem começar antes mesmo do plantio.