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Parasitoides de mosca-branca identificados no Rio Grande do Sul

A mosca-branca, Bemisia tabaci, é um inseto capaz de atacar mais de 600 espécies de plantas, em diversas partes do mundo. Devido ao seu hábito alimentar por meio da sucção de seiva, a mosca-branca compromete a fisiologia funcional da planta atacada, além de atuar na disseminação de viroses. Além disso, a seiva extravasada durante a alimentação dessa praga favorece o aparecimento e proliferação do fungo Capnodium sp. (fumagina), recobrindo as folhas com uma camada preta e acarretando na redução da superfície fotossintética da planta (Navas-Castillo et al., 2011).

O controle de mosca-branca é feito geralmente com a utilização de inseticidas químicos. Como alternativa ao controle químico de B. tabaci, insetos parasitoides já são amplamente utilizados em muitos países e em diferentes culturas agrícolas, como nos EUA e Europa (Arno et al., 2010). O controle biológico com o uso de parasitoides vem se mostrando uma ferramenta importante e eficiente para o manejo de B. tabaci, principalmente em cultivos protegidos.

Os parasitoides em questão são pequenas vespas com ação de controle sobre a fase ninfal de B. tabaci, onde ovipositam no interior das ninfas ou se alimentam delas. Por serem altamente eficientes realizando parasitismo de mosca-branca, os países do Hemisfério Norte já empregam em larga escala e de forma comercial a liberação destes organismos em ambientes protegidos (casas de vegetação). Dessa forma, parasitoides do gênero Encarsia apresentam grande importância no cenário econômico do controle biológico de B. tabaci, sendo a espécie Encarsia formosa o parasitoide mais utilizado mundialmente.

Figura 1. Processo de parasitismo de Eretmocerus mundus em ninfas de Bemisia tabaci.

Fonte: Moro et al., 2021. Disponível Clicando aqui.

Recentemente, no estado do Rio Grande do Sul, o Grupo de Manejo e Genética de Pragas (UFSM) identificou a presença de três espécies parasitando ninfas de B. tabaci: Encarsia formosa em tomates de casa de vegetação cultivados em Santa Maria;  Encarsia porteri em soja cultivada em Santa Maria; e Eretmocerus mundus em tomates de casa de vegetação cultivados em São José do Hortêncio (Moro et al. 2021). Foram observados altos índices de parasitismo, indicando que essas espécies ocorrem de forma relativamente abundante no Rio Grande do Sul e apresentam alto potencial para controle de mosca-branca.

Figura 2. Ninfas de Bemisia tabaci parasitadas, com coloração preta característica, em folhas de tomateiro.

Fonte: Moro et al., 2021. Disponível clicando aqui.

A temperatura é um forte modulador de adaptabilidade entre diferentes espécies de insetos, e é um fator importante para a sobrevivência e fertilidade dos parasitoides de mosca-branca. Por serem nativos da região do Mediterrâneo, insetos da espécie E. mundus possuem capacidade de suportar altas temperaturas, o que pode estar relacionado à sua presença nas casas de vegetação no município de São José do Hortêncio, onde a temperatura costuma ultrapassar 45ºC nos meses de verão (Gonzalez-Tokman et al. 2020). Já a espécie E. formosa realiza parasitismo entre 22ºC e 25ºC e resiste a temperaturas mais baixas. Por fim, a espécie E. porteri ocorre de forma natural em campo aberto e aparenta ser o parasitóide predominante em lavouras de soja.

Considerando o cultivo de tomate em casa de vegetação, as plantas permanecem sujeitas às variações de temperatura ao longo do ano. Portanto, como estratégia de manejo de mosca-branca, é possível combinar o uso de E. formosa e E. mundus, explorando suas características complementares.

Desta forma, parasitoides da espécie E. formosa (tolerantes a baixas temperaturas) seriam liberados no final do inverno e durante os meses de primavera, enquanto parasitoides da espécie E. mundus (adaptados a altas temperaturas) poderiam ser utilizados durante os meses de verão. Portanto, a utilização de parasitoides mostra-se uma estratégia viável para o controle de B. tabaci em cultivos protegidos de tomate no Sul do Brasil. Estudos futuros devem explorar os aspectos biológicos das três espécies de parasitoides identificadas, possibilitando sua criação e liberação em escala comercial.

Além de ser uma opção eficiente de controle de populações de B. tabaci, o uso de insetos parasitoides gera menor impacto para a natureza quando comparado ao controle químico, não manifestando efeitos tóxicos nas plantas e eliminando a necessidade de cumprir um intervalo de segurança entre a aplicação e a colheita. Embora essa técnica seja mais apropriada para o manejo de B. tabaci em cultivos protegidos, é possível que aprimoramentos futuros tornem-na uma estratégia viável para o controle de mosca-branca em campo aberto, como em lavouras de soja.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

ARNO, J. et al. Natural enemies of Bemisia tabaci: predators and parasitoids. In: Stansly PA, Naranjo SibgE (eds) Bemisia: bionomics and management of a global pest. Springer, New York, pp 385–421, 2010.

GONZÁLEZ‐TOKMAN, Daniel et al. Insect responses to heat: physiological mechanisms, evolution and ecological implications in a warming world. Biological Reviews, v. 95, n. 3, p. 802-821, 2020.

LIU, Xin et al. Virus-infected plants altered the host selection of Encarsia formosa, a parasitoid of whiteflies. Frontiers in physiology, v. 8, p. 937, 2017.

MORENO, Luis L. Vázquez. Avances del control biológico de Bemisia tabaci en la región neotropical. Manejo Integrado de Plagas y Agroecología, n. 66, p. 82-95, 2002.

MORO, Daniela et al. Integrative Techniques Confirms the Presence of Bemisia tabaci Parasitoids: Encarsia formosa, Encarsia porteri and Eretmocerus mundus (Hymenoptera: Aphelinidae) on Soybean and Tomatoes in South Brazil. Neotropical Entomology, p. 1-12, 2021. https://doi.org/10.1007/s13744-021-00873-3

NAVAS-CASTILLO, Jesús; FIALLO-OLIVÉ, Elvira; SÁNCHEZ-CAMPOS, Sonia. Emerging virus diseases transmitted by whiteflies. Annual review of phytopathology, v. 49, p. 219-248, 2011.

Equipe Mais Soja
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