Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

A cotação do trigo, para o primeiro mês cotado, oscilou um pouco abaixo dos US$ 11,00/bushel durante a corrente semana. O fechamento desta quinta-feira (28) ficou em US$ 10,74, contra US$ 10,68/bushel uma semana antes.

O mercado está atento ao plantio do cereal nos EUA e ao desenrolar do conflito entre a Rússia e Ucrânia, o qual continua sem perspectivas imediatas de término. Assim, o trigo de primavera, nos EUA, viu seu plantio chegar a 13% da área esperada até o dia 24/04. O mesmo está atrasado, também por questões climáticas, pois no ano passado havia atingido a 27% nesta época do ano, enquanto a média histórica é de 15%. Já o trigo de inverno, conforme o USDA, apresenta apenas 27% das lavouras entre boas a excelentes condições, contra 49% na safra passada nesta época do ano.

Em paralelo, na Argentina, espera-se um plantio de trigo em torno de 6,5 milhões de hectares para esta safra 2022/23. O plantio está prestes a iniciar, sendo que a área projetada será inferior à do ano passado. Os altos custos dos fertilizantes, os aumentos nos custos dos insumos em geral, a relativa melhora nas margens da safra de cevada e principalmente as políticas internas que afetam o plantio de trigo (lembramos que em março o governo argentino criou um fundo com a intenção de controlar os preços internos do trigo, além da existência da tarifa de exportação), são alguns dos motivos da menor área na Argentina, um dos maiores exportadores de trigo do mundo, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. Lembrando que na safra passada a Argentina colheu 21,8 milhões de toneladas do cereal.

Já na China, houve interrupção dos leilões semanais de trigo oriundo das reservas estatais do país. Isso porque os estoques locais do cereal estariam mais baixos do que os existentes um ano antes, fato que elevou os preços do cereal no mercado doméstico nesta semana. Lembrando que, no final do ano passado, o governo chinês proibiu produtores de ração e pecuaristas de comprar trigo das reservas estatais, em leilões, em um movimento para diminuir os preços do grão alimentar. Os preços do trigo na província de Shandong, principal região produtora, subiram para US$ 515,16/tonelada na semana passada, recuando levemente nesta corrente semana.

Dito isso, a guerra no Leste Europeu atinge em cheio o mercado do trigo, já que os dois países diretamente envolvidos representam 30% das exportações mundiais do cereal. Com isso, grandes importadores, como Egito, Turquia, China e África do Norte em geral, correm atrás de fontes de fornecimento do produto. Assim, o conflito forçou uma mudança no fluxo dos leilões internacionais do produto, com a corrida pelo trigo levando a uma alta histórica no volume de leilões para o mês de março, o que permitiu a alguns países montar reservas estratégicas de maior duração. (cf. hEDGEpoint Global Markets). Com isso, até o Brasil e a Índia entraram fortemente no mercado exportador do cereal. No caso brasileiro, o país já exportou, neste ano, mais de 2 milhões de toneladas e, segundo a Anec, para abril, em plena entressafra de trigo, espera-se que o país exporte mais 156.218 toneladas.

Por sua vez, o preço do trigo no Brasil voltou a reagir, com a média gaúcha no balcão fechando a semana em R$ 93,72/saco, enquanto no Paraná o produto oscilou entre R$ 93,00 e R$ 100,00/saco.

A questão principal, agora, além dos fatores externos já citados, é o plantio da futura safra no sul do país. No Paraná, segundo o Deral, o plantio atingiu a 3% da área esperada nesta semana, havendo um pequeno atraso em relação aos 5% registrados em igual período do ano anterior. O Paraná deverá registrar uma área total com o cereal em torno de 1,17 milhão de hectares, perdendo um pouco de espaço para o milho safrinha. Por enquanto, o clima transcorre positivamente para as lavouras tritícolas daquele Estado, sendo que 92% daquelas já semeadas estavam em boas condições e 8% em situação média.

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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